Thiago Pereira é membro do clã Moy Yat Ving Tsun e é da 12 geração da familia Moy yat no brasil,sendo discípulo do Sifu Julio Camacho. Figura bastante atuante dentro do clã moy yat e já bastante conhecida no meio marcial brasileiro por conta do seu (fantástico) blog, o Peateer's blog http://www.moyfatlei.blogspot.com/ , Thiago pereira é um exemplo de profissionalismo dentro do contexto marcial e de respeito aos ancestrais do sistema Ving Tsun sem deixar de estar sempre antenado com o mundo atual. Nesta conversa por e-mail bastante descontraída,pude-lhe fazer algumas questões bastante elucidativas sobre sua própria visão do Ving Tsun,bem como do sucesso do seu blog. Acompanhe sem mais delongas esse superpapo!!!
(FOTO TRADICIONAL SIFU-TODAI DE THIAGO PEREIRA E SEU SIFU JULIO CAMACHO)
BLOG DO DIDO: O sr. poderia nos contar quando e como surgiu a ideia de escrever sobre ving tsun na internet?
PEREIRA: Bom, eu sempre gostei muito de escrever, e lembro bem da época em que o FOTOLOG.com explodiu. Eu tinha o meu, mas você podia botar apenas uma foto e escrever sobre ela abaixo..(risos) Ainda assim, me divertia muito falando dos últimos acontecimentos da faculdade.
Em 2007, Si Fu sugeriu que fizéssemos um BLOG a fim de complementar o site que montávamos na época. Acabou que eu me vi sem ter muito sobre o que escrever, e tudo que me veio a cabeça foi falar daquele meu momento, começando no Luk Din Bun Gwaan com o joelho completamente arrebentado. Então tudo pareceu um diário On Line por um tempo, e acho que a essência permaneceu sendo essa.
BLOG DO DIDO: Como foi seu inicio na prática das artes marciais e como chegou ao ving tsun?
PEREIRA: Eu gosto de artes marciais desde pequeno, e comecei no Judo, porém tempos depois esta que era uma atividade extra-classe acabou na minha escola. Anos mais tarde, comecei no Tae Kwon Do, e 1 ano e meio depois o professor desistiu sem dar um posicionamento deixando uma série de alunos motivados a ver navios.
Na mesma época, havia sido apresentado aos filmes de Jackie Chan e virei um fanático por filmes chineses. Eu gostava muito de Tae Kwon Do, mas minha admiração pelas artes marciais chinesas crescia na mesma proporção, assim, me vi em conflito várias vezes. Porém, quando o Tae Kwon Do acabou,como dito acima, me vi livre para procurar um local , e por sorte, numa manhã qualquer de 1999, vi a placa da Moy Yat Ving Tsun enquanto matava(cabulava) aula, e desde 25 de Outubro de 99 pratico esta arte na mesma Família Kung Fu.
(Nesta foto,vemos o Thiago Pereira,Com seus Si Mo, Si Fu e Si Sok Ursula , quando a Familia Kung Fu comemorou meu aniversário em 2009)
BLOG DO DIDO: O sr. poderia nos contar mais sobre a metodologia de ensino da moy yat ving tsun ?
PEREIRA: Esta resposta não vai ter como não ser grande (risos)...
...A Transmissão do Sistema na MYVT é iniciada a partir da inclusão do praticante na Familia Kung Fu. Fato que possibilita o acesso aos domínios do Sistema Ving Tsun e o conseqüente cultivo da inteligência marcial.
O membro do Clã Moy Yat Sang, liderado por meu Si Gung Leo Imamura, é descendente de Grão-Mestre Moy Yat, portanto é potencialmente alguém que vai salvaguardar o Sistema Ving Tsun para as futuras gerações. Para tanto, convencionou-se que este praticante deverá honrar o que chamamos de “Denominação Moy Yat Ving Tsun” .
Esta Denominação representa o compromisso assumido por Grão-Mestre Moy Yat junto aos seus descendentes de enfatizar o provimento da Vida Kung Fu (Sam Faat) na transmissão do Sistema Ving Tsun. E para que isso aconteça, os praticantes estão inseridos dentro do Programa MYVT de Inteligência Marcial, que promove:A importância do estudo genealógico, preserva e resgata os procedimentos cerimoniais que formalizam os diferentes momentos de acesso ao Sistema , prepara o Mo Gun(Recinto Marcial) como ambiente favorável de experiência convivial dentro do contexto do Mo Lam de forma que essa experiência possa ser estendida para as atividades do cotidiano, ao se vivenciar desde o esforço para realizar uma atividade até a ampliação do nível de atuação da habilidade resultante deste mesmo esforço. O Programa visa também proporcionar a vivência do Kung Fu, cultivando a inteligência estratégica a partir da experiência marcial proporcionada pelo acesso formal ao Sistema Ving Tsun. Além disso,sensibiliza para a importância do acesso pleno ao Sistema Ving Tsun, valorizando a diferenciação das naturezas de cada um de seus domínios, e gera condições para o exercício das mobilizações intrapessoal e interpessoal(no caso desta última tanto a direta como a indireta).
BLOG DO DIDO: A moy yat ving tsun se caracteriza pela preservação de um legado marcial tradicional,sendo um legado enraizado na própria cultura chinesa.Observando o panorama atual,onde percebemos uma geração que apresenta uma certa resistência aos preceitos tradicionais considerando-os ultrapassados e arcaicos,como a arte do ving tsun pode ser adaptada á realidade atual sem perder sua raiz tradicional?
PEREIRA: Precisamos primeiramente entender a como diferenciar o que é tradição chinesa, tradição do Ving Tsun e tradição de determinada Linhagem de Ving Tsun.
O dicionário nos diz que “tradição” “são costumes que vêm do passado” (ex: tradição familiar) ou o “ato de transmitir e conservar costumes”. Portanto, não podemos generalizar.
Só para se ter uma idéia, vemos a imagem de Gwaan Gun, General lendário chinês, como símbolo de honestidade e lealdade incorruptíveis na cultura chinesa. Servindo inclusive, como símbolo a ser reverenciado durante acordo entre membros da máfia, corroborando que o que foi acordado será cumprido. Mas Gwaan Gun não possui relação direta com o Ving Tsun. E caso seja reverenciado em determinada Família Kung Fu, isso não será comum a todas.
O que ocorre é que o Ving Tsun se apóia em dispositivos do Pensamento Clássico Chinês s para ser preservado. Portanto, quando falamos em “Tradição” , é preciso antes de mais nada, pensarmos em que tipo de tradição estamos nos referindo.
A tradição para não se perder deverá se atualizar. Um bom exemplo é o “Boneco de madeira” (Muk Yan Jong) que originalmente apresentava-se enterrado no solo, e mais tarde teve uma segunda versão onde aparece preso por suportes, sendo inclusive muito mais comum nos dias de hoje.
Se os ancestrais treinavam no Jong enterrado e nós não, isso não importa, pois enquanto ferramenta, o Muk Yan Jong, manteve sua essência. Mas para isso, precisou ter seu uso revisto em função de sua nova natureza.
(Com Sigung Léo imamura num seminário sobre p Luk Dim boom kwun)
BLOG DO DIDO: Quando você começou á escrever no "blog do Pereira",acreditava na repercussão que ele teria e que iria despertar o interesse das pessoas?
PEREIRA: Na verdade para mim foi uma grande surpresa. No início eu continuava escrevendo, porque sabia que meus melhores amigos e principalmente meu Si Fu estavam apreciando. Quando comecei a traduzir pro inglês, vi o Clã Moy Yat em outros países se manifestar. E cada vez mais me motivava a continuar.
Conforme o tempo foi passando, tive que começar a me conectar com cada leitor antes de escrever um post. Pois pessoas de diferentes tipos e posições estavam lendo. E para quem está longe, meu Kung Fu estava sendo expressado através do que eu escrevia, por isso, a cada postagem procuro escrever com responsabilidade sem deixar de me divertir.
Sempre me surpreendo com o interesse das outras pessoas além de meu Si fu. Porque para ele, o Blog também é uma maneira de ver como eu estou enxergando o Kung Fu, isso pra mim faz sentido. Mas quando vi outras pessoas apreciando, fiquei muito feliz, pois percebi que algo de bom estava saindo daqueles textos.
Aqui, Thiago Pereira recebe o Biu Ji certification das mãos de Sii Tai Po Helen Moy,esposa de Sitaigung Moy Yat
BLOG DO DIDO: Quais os aspectos que você acha que as pessoas mais se interessam em ler no seu blog?Os textos mais técnicos,ou os relacionados ao Sam Fat?
PEREIRA: Quando escrevemos a data em chinês , primeiro vem o ano, depois o mês, depois o dia. Ou seja, “o todo” na lógica chinesa, é muito mais importante do que “a parte”. Assim, entendo que “o Pereira “ é o que menos importa no BLOG, porque o bLog, é sobre o processo de várias pessoas, inclusive de quem está lendo.
O que aconteceu por muitos anos em livros e internet, foi que cada praticante vangloriava suas próprias técnicas e metodologia. E muita gente aparecia para contestar. Meu Si Fu costuma dizer, que quando você fala de Vida Kung Fu, ninguém pode contestar. Exatamente, porque ninguém pode contestar a experiência de outra pessoa. Assim, procuro colocar sempre em primeiro plano, a experiência vivida, o processo de aprendizado, e não minha pessoa. Assim, não importa se o texto fala de técnicas, eventos ,insights, etc... Porque quando você divide sua experiência de maneira honesta, você dá a chance dos outros se identificarem em algum nível seja o assunto que for.
BLOG DO DIDO: Na sua visão,quais sãos os aspectos principais á serem transmitidos durante o aprendizado do ving tsun?
PEREIRA: Costuma-se ouvir, que o Ving Tsun é uma arte mais defensiva. Mas acho que é além disso. Penso que o praticante de Ving Tsun, por desenvolver uma inteligência estratégica, entende que não pode se lançar atacando o adversário, pois é muito mais sensato esperar que este lhe dê uma informação através de movimento , para que você atue sobre ele Pois o praticante de Ving Tsun, não atua baseado apenas em sua vontade, mas sim, respeitando o que a situação está pedido. Por isso o Kuen Kuit: “na hora de socar, não faça cerimônia”.
Portanto, o aspecto a ser transmitido vai depender da demanda de cada praticante. Por isso, importante não é pensar no que deve ser transmitido, mas sim “em como”. Pois o tutor, deverá respeitar as necessidades do praticante,fazendo uso de uma atenção cuidadosa, a fim de influenciar o menos possível o Kung Fu desta pessoa, que por bem, deve se desenvolver sozinho , e a seu tempo.
BLOG DO DIDO: Desde já agradeço á atenção dispensada (aproveitando pra dizer que sou um grande admirador e entusiasta de seu trabalho) e por favor,deixe suas considerações finais
bem como seus contatos para que as pessoas que tenha interesse possam entrar em contato.
PEREIRA: Eu que agradeço a oportunidade e parabenizo a iniciativa da criação do BLOG.
Espero que cada vez mais as pessoas enxerguem não só o Ving Tsun, mas qualquer sistema de arte marcial , como um potencializador do desenvolvimento humano. E que atualizemos constantemente nossa visão a respeito das artes marciais, para que nós mesmos não fiquemos “arcaicos” em relação ao mundo moderno.
Para entrar em contato comigo você pode enviar um email para moyfatlei.myvt@gmail.com
Um grande abraço a todos!
Thiago Pereira
Parabéns pela iniciativa do blog e ao meu Si Hing Pereira por compartilhar conosco suas experiências!
ResponderExcluirQuero parabenizar Mestre (sim, mestre) Pereira pela entrevista. Ele faz de sua experência pessoal com o Ving Tsun uma viagem fantástica ao âmago daquilo que chamamos de "arte" na marcialidade, e o que uma reflexão habitual e disciplinada sobre os valores da marcialidade traz para nossa vida ordinária, onde a maior parte das batalhas são travadas. Quando ele diferencia, por exemplo, os diferentes caminhos que a interpretação menos atenta da palavra "tradição" - tão usada para vender Ving Tsun de modo fantasioso e alienado - pode acarretar, ele mostra o quão bem preparado intelectualmente está para representar seu legado ancestral, e o quanto são sérias as pessoas que o prepararam. Entretanto, Pereira possui brilho próprio, e seu sucesso não aconteceu por acaso.
ResponderExcluirParabéns a todos!
ResponderExcluirDemonstrações de alto nível de marcialidade e também de espírito comunitário e altruísta, só fazem mover a todos para um patamar melhor.
Parabéns pelo BLOG Thiago. Eu que acompanhei a sua trajetória desde o início fico orgulhoso de ver como você se tornou um excelente praticante das Artes Marciais em toda a sua plenitude física e intelectual.
ResponderExcluirAprendi e continuo aprendendo muito com você e suas incríveis histórias.
Um abraço!!!
Desejo felicitar o SI Hing Tiago pela seu estágio de evolução físico e mental avançado de praticante , o zelo com a manutenção do blog com o intuito da divulgação do Ving Tsun e agradecer a sua partilha de experiência para a minha evolução dentro do wing chun
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