sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Especial entrevistas ; Sifu Marcelo Florentino

È com imensa honra que o blog do dido volta com as postagens especias "Entrevistas". Dessa vez, quem nos deu o privilégio de conhecermos um pouco mais sobre seu trabalho é o sifu Marcelo Florentino.




                                   




Sifu Marcelo Florentino tem longo histórico entro da arte marcial chinesa, tendo iniciado seus treinamentos ainda aos 9 anos de idade, tendo praticado vários estilos de Kung Fu como Tai San, Fei Hok Phai, Fan Seng. Buscando maior aprimoramento técnico voltado para situações reais, passou a praticar o Wing Chun,durante alguns anos. À princípio, Sifu Marcelo sentia certa insegurança com a aplicabilidade real de sua técnica e, quando já pensava em deixar de lado a prática do Wing Chun, conheceu seu atual sifu, Mestre Li Hon Ki, discípulo direto de sifu Duncan Leung, com quem passou á praticar a arte de forma integral e onde pode encontrar as respostas para suas perguntas. 






Blog do Dido  – Como o Sr. Conheceu e se tornou discípulo de sifu li hon ki?


Sifu Florentino: Em 1989, depois de ter passado por duas linhagens de Wing Chun, já um tanto desiludido com a arte, conheci o mestre Li Wing Kay, que me falou a respeito do irmão (Li Hon Ki) que voltava para o brasil para dar continuidade a seu trabalho como professor de Kung Fu.

Blog do Dido – Quais são os pontos e características principais que o Sr. Poderia ressaltar sobre este grande mestre?

Sifu Florentino : Acho que a principal qualidade de meu mestre é a humildade. Me recordo de uma situação onde, saiu numa revista uma reportagem onde, falava-se algo pejurativo a respeito dele. Eu, todo cheio da energia e imaturidade que minha juventude trazia, comentei com o mestre que iria lá acertar as contas com o sujeito. Mestre então, me disse:
"que bom que ele falou algo ruim de mim"
"mas, como assim mestre? Falar mal não é bom! - respondi
"Se ele falou algo ruim é por que dei abertura de erro para isso. Vou corrigir esta abertura e ninguem mais vai poder falar nada. Então, se vc for visitá-lo, melhor agradece-lo, pois, mostrou minha falha para que eu pudesse corrigir!"
Naquele dia vi o quanto eu ainda tinha para aprender...

(Foto tradicional de Sifu Florentino e seu mestre Sifu Li Hon Ki em 1994)




Blog do Dido - O Sr. Junto com uma equipe de estudantes brasileiros- dentre eles,sifu Marcos de Abreu – estiveram na china participando de um treinamento com supervisão direta de sifu Duncan Leung. Para o Sr.,o que foi mais marcante nesta viagem?

Sifu Florentino : Com toda certeza o momento em que me contundi. O treinamento era muito incessante, intenso, e cansativo. Tirando alguns que ficavam enrolando pelos cantos, mestre Duncan puxava ainda mais no treinamento para os que ele via que estavam se dedicando. Vários se contundiram.
Me recordo que, uma vez perguntei ao mestre Li quantas vezes era necessário repetir uma técnica para se domina-la, e ele respondeu que com 300 vezes eu já estaria apto para tentar usa-la em um sparring, assim, concluído esta quantia em determinada técnica treinada no aparelho de pneus, dei uma pequena pausa para relaxar e, eis que mestre Duncan aparece atrás de mim como um "ninja" vindo das nuvens de fumaça e gritando "porque parou?" porque parou?" - "...é que eu já repeti 300 vezes" - respondi instintivamente me recordando das palavras de meu mestre. - "Então repita 3.000!!!" - Eita... e lá fui eu...
O calor era intenso, a estafa era grande, e a idade já não permitindo tanto de meu corpo, apesar de meu cerebro querer sempre mais. Conclusão: Lesionei o tendão de aquiles! Mas, o mais importante nesta história toda, foi justamente o fato positivo que esta lesão me trouxe. Assim como meu mestre dissera no passado "o ruim tambem é bom". A lesão me aproximou grandemente de mestre Duncan, pois, sem poder treinar, ficava sempre ao lado dele, escutando e anotando todos os comentários e ensinos que dava individualmente a cada um, coisa que, quando treinando, só escuta o que ele dizia à mim, sem falar da aproximação que tive tambem com Alan Lee, ultimo discipulo particular de Yip Man, quem, gentilmente me levou ao PS, me proporcionando horas de histórias a respeito de Yip Man. Entretanto, posso lhe dizer de uma figura que foi de suma importancia nesta história... Meu irmão Wing Chun Marcos Abreu o qual, em nossa residência na China, cuidou de mim no momento em que eu não podia andar, como se eu realmente fosse seu irmão mais velho (consanaguineo), sempre atencioso com minhas necessidade e até mesmo, me preparando as refeições. Felizardo daquele que tem a amizade sincera de mestre Marcos Abreu.
                                              (Sibak Marcelo Florentino e Sifu Marcos de Abreu)



Blog do Dido - Em termos técnicos, quais os pontos que o Sr. Considera mais fortes na linhagem do sifu Duncan Leung?

Sifu Florentino : Somente um. APLICABILIDADE REAL!

                                                                                      (Abaixo,com Sifu Duncan Leung, 1995)


Blog do Dido - O Sr. Poderia nos contar como é o trabalho desenvolvido pela applied wing chun? Como se dá a metodologia de prática e ensino?

Sifu Florentino : Nós procuramos levar ao interessado, não somente o ensino marcial mas tambem, um aprendizado cultural, que o aproxime da arte chinesa não somente pela luta, mas tambem, pela história de nossos antepassados nela. Assim, cada aula inicia-se  com o aprendizado das técnicas, passando aos equipamentos, e principalmente, a pratica real do combate, através das aplicações como parceiro, e tambem sparrings, e como conclusão, no momento em que relaxamos, a transmissão teórica do conhecimento filosófico/cultural.

Blog do Dido - O curso de formação de instrutores ministrado na applied wing chun tem padrão chinês de carga horária (14hs aula) o que não é comum vermos em nosso país, o Sr. Poderia comentar mais sobre como foi o processo de implantação do sistema chinês em um país ocidental?Se houve,quais foram as dificuldades neste processo?
( Sifu Florentino e Alan Lee)




Sifu Florentino : Por mais incrível que pareça, não houve muitas dificuldades na implantação. Apesar dos Brasileiros não estarem acostumados a tal sistema de ensino, alguns são, digamos, "entusiásticos" pela cultura chinesa, o que facilitou bastante. Claro que, há aqueles que desistem no meio do caminho, devido a intensidade do treino, tanto físico quanto psicológico. No que se refere ao treino físico, creio que o amadurecimento na arte os mostrarão a realidade que a arte marcial chinesa requer, pois, treina-se muito pouco aqui no brasil, em relação ao praticado pelos chineses. Já o psicológico... Realmente não é fácil ficar isolado da família, dos amigos e do mundo por tanto tanto tempo sem que a depressão o venha aflijir. Todos passam por isso. Infelizmente, alguns não resistem. Mas no geral, o internato tem sido um grande sucesso, sendo hoje, o principal veículo de expansão no aprendizado do Applied Wing Chun no Brasil, tendo mais de 90% de aprovação.




(Alguns alunos/praticantes durante seminário)



Blog do Dido -  O Sr. Lançou á alguns anos, um DVD sobre as bases e teorias da applied wing chun, quase como uma releitura do famoso DVD do sifu Duncan Leung. Já existe um novo projeto - DVD, livro, ou algum outro projeto que vise a promoção da applied wing chun -  em andamento?


Sifu Florentino : Sim. Pra dizer a verdade, estou com meu livro "O que significa ser mestre em Wing Chun" para ser lançado em breve. Já encontra-se na editora.

Blog do Dido - Gostaria de agradecer imensamente pela honra de entrevistá-lo para o blog e gostaria que o Sr. Deixasse uma mensagem pros nossos leitores,assim como os seus contatos, para quem quiser ir conhecer o trabalho desenvolvido pela applied wing chun. 


Sifu Florentino : Agradeço imensamente a oportunidade de participar neste blog, que tem se tornado mais uma revista virtual propriamente dita, com tanta informação e conteúdo, bem como, as pessoas que acreditam em meu trabalho, e sabem que encontrarão não somente um mestre Wing Chun, mas tambem, um amigo sincero, para todas as horas, sejam boas ou ruins. 
Os que desejarem conhecer mais a meu respeito e ao trabalho que realizo, fiquem a vontade para visitar e participar em nosso site e blog:










sexta-feira, 4 de novembro de 2011

viagem a salvador - parte 2

Bem, quando me dispus á ir á Salvador para minha admissão como discípulo e treinar com sifu, fui num período um tanto complicado, o que me permitiu, neste primeiro contato com sifu, ter apenas 3 dias para dar inicio ao meu treinamento e para praticar forte. Então, dentro deste contexto, tínhamos muito assunto á ser visto em pouco tempo, o que se tornou um baita desafio.


(Sifu Marcos,com o Lik Dim Boom Kwun - esta foi uma das salas onde tivemos momentos de prática marcial , aliás, leiam o artigo de sifu sobre o kwun em : http://appliedwingchunsalvador.blogspot.com/)


Nestes 3 dias, apenas parávamos pra comer e dar uma descansada rápida e logo,voltávamos á prática. Sifu se mostrou um cara de grande paciência e compreensão, pois me permitiu anotar tudo o que eu pudesse naqueles...
Ah, peraí... vocês já assistiram ao filme “beijos e tiros”,  onde o narrador começa com a história,se empolga e de repente esqueceu um detalhe importante da trama,que vai ser crucial no fim do filme? Pois se não, olhem o trecho ai...



                                    (a cena não é exatamente essa,mas vale a dica,o filme é bom!rsrsr)

O caso é que me esqueci de mencionar o seguinte; Dias antes, eu estava passando maus bocados numa fase que qualquer um poderia dizer “meu filho, vá tomar um banho de sal grosso”. Pura pindaíba! Entre acidentes domésticos, assaltos e todo o tipo de má sorte, o que mais me deu trabalho foi uma inflamação na garganta que tinha me derrubado por quase 2 semanas direto e eu precisava me recuperar,o que só veio a acontecer um dia antes do embarque. Mesmo assim, ainda tinha uma tosse chata que vez por outra vinha e voltava, e isso me rendeu um apelido...

Voltando, Sifu Marcos se mostrou realmente compreensivo, apesar de todo o corre-corre, me mostrando com riqueza de detalhes e todos os pormenores dos movimentos, e seus conceitos, me permitindo anotar tudo neste caderno. (foto).
                                        ( a caligrafia não ficou das melhores, ok...o que importa é o conteúdo,rsrs)



Estávamos aproveitando ao máximo o pouco tempo que eu dispunha pra aprender e da minha parte, eu precisava me esforçar ao máximo para captar tudo o que sifu me instruía. O caso é que o mais difícil não foi aprender movimentos e conceitos novos, mas me desvencilhar dos antigos hábitos. Pra tanto, eu precisava “zerar” e começar tudo do início, outra vez. Pra fazer um parâmetro, tome o ator Tonny Leung, que irá viver o patriarca Yip Man na película “The grandmasters”; Ele teve treinamento prévio –antes das filmagens – com Grande mestre Sifu Duncan Leung. Tonny, por nunca ter praticado wing chun, teve facilidades em absorver  tanto a técnica quanto os conceitos. Se ele tivesse praticado em qualquer outra família antes de se encontrar com sifu Duncan e fosse fazer esse mesmo treinamento, muito provavelmente iria levar o dobro do tempo que gastou. Dá pra ter uma idéia do drama? 



Uma coisa que talvez seja um grande diferencial de sifu Marcos é que, mesmo ele pertencendo á determinada ramificação do wing chun, tendo longa história com a arte marcial, sendo um dos primeiros discípulos do grande mestre Li Hon Ki á completar todo o sistema no país, ele conhece e respeita em muito os outros mestres e linhagens da arte. È perceptível que esse respeito que ele guarda e é algo de uma nobreza imensa! Lembro-me que enquanto eu repetia lá pelas “trocentas” vezes o siu nim tao, ele me contava a história de como sifu Léo Imamura havia aprendido a forma Biu Ji, na sala de estar da casa de grão-mestre Moy Yat. 



(Grande Mestre Moy Yat e sifu Léo imamura,em foto tradicional)




E eu lá, na sala da casa de sifu, aprendendo o siu nim tao, enquanto sifu cuidava de seu bebê, a Maria Luiza.



No segundo dia, após praticar durante toda a manha e a tarde,tivemos um belíssimo almoço, preparado por sifu (com uma receita que ele havia aprendido em sua estadia em Hong Kong, sifu e suas habilidades culinárias também de altíssima qualidade!). Durante o intervalo de descanso, enquanto sifu ia fazer uma cesta, aproveitei pra ir numa lan house, mandar sms pra família e pra esposa, apenas pra avisar que estava tudo bem. Quando sifu me contou sobre a estória de Sisok Florentino e seu incrível passeio em salvador (sério, a gente ficou dando risada e eu dizendo á sifu; - “cara, isso merece uma coluna especial no blog”). Sifu fez um mapinha das ruas principais no bairro da pituba, mas como eu já tinha passado pelas ruas antes, nem precisei. De qualquer forma, guardei o mapinha como recordação.





 Uma recordação que vou guardar pro resto da vida que vale a menção é a dedicatória com o carimbo chinês que sifu fez na minha edição do livro “wing chun kung fu” de sua autoria. Isso me emocionou muito, ainda mais quando sifu me mostrou a dedicatória que sikung Li hon Ki fez na edição dele do Livro “ving tsun”.




Os treinos se seguiam forte e a noite, fomos praticar com os alunos mais antigos de sifu Marcos. Uma galerinha superbacana que me acolheu numa boa. O clima era de descontração, apesar do treinamento pesado – ainda mais pra mim, que estava ali, treinando praticamente desde o dia anterior. Mas segue um abraço para meus si-hings “Gigante” e “baixinho”, Wesley Rangel, o Lucas, que me deu uma ótima dica de livro. São pessoas especiais man!!


No ultimo dia de treinamento, treinamos a parte da manha e sifu me dizia o que era mais importante para meu desenvolvimento e onde eu deveria focar meus treinamentos. Durante o horário de almoço, demos uma pausa para conhecer o bairro do rio vermelho, já que tínhamos que treinar e terminar o treino para meu embarque de volta. Sifu me dizia; - “Negão, tu chegar aqui em salvador e não ter visto o mar daqui é maus!”. Bem, então vamos lá... Chegamos numa praça onde sifu disse que era o local onde se vendia o melhor acarajé de salvador... mas estava fechado.


(Era exatamente alí,nos quiosques...notem o belo dia de sol que fazia lá)




Isso e a minha estória me renderam o apelido de “Dido pé frio”... Numa determinada rua, sifu me mostrou onde era a casa do músico “Carlinhos Brown”. Eu fiquei pensando; - “Cadê minha latinha nessas horas?” Em todos os momentos, trocamos várias experiências e as conversas, sempre em tom de franqueza absoluta.

Dando uma grande resumida na parábola, ás 21hs eu estava embarcando de volta á recife. Tinha a certeza de que ali, havia se iniciado uma trilha longa dentro da prática de um sistema de luta que foi supostamente criado por uma jovem dama e que eu estava sendo treinado por um grande mestre desta arte. E isso,foi só o começo de uma longa jornada...