È com imensa honra que o blog do dido volta com as postagens especias "Entrevistas". Dessa vez, quem nos deu o privilégio de conhecermos um pouco mais sobre seu trabalho é o sifu Marcelo Florentino.
Sifu Marcelo Florentino tem longo histórico entro da arte marcial chinesa, tendo iniciado seus treinamentos ainda aos 9 anos de idade, tendo praticado vários estilos de Kung Fu como Tai San, Fei Hok Phai, Fan Seng. Buscando maior aprimoramento técnico voltado para situações reais, passou a praticar o Wing Chun,durante alguns anos. À princípio, Sifu Marcelo sentia certa insegurança com a aplicabilidade real de sua técnica e, quando já pensava em deixar de lado a prática do Wing Chun, conheceu seu atual sifu, Mestre Li Hon Ki, discípulo direto de sifu Duncan Leung, com quem passou á praticar a arte de forma integral e onde pode encontrar as respostas para suas perguntas.
Blog do Dido – Como o Sr. Conheceu e se tornou discípulo de sifu li hon ki?
Sifu Florentino: Em 1989, depois de ter passado por duas linhagens de Wing Chun, já um tanto desiludido com a arte, conheci o mestre Li Wing Kay, que me falou a respeito do irmão (Li Hon Ki) que voltava para o brasil para dar continuidade a seu trabalho como professor de Kung Fu.
Blog do Dido – Quais são os pontos e características principais que o Sr. Poderia ressaltar sobre este grande mestre?
Sifu Florentino : Acho que a principal qualidade de meu mestre é a humildade. Me recordo de uma situação onde, saiu numa revista uma reportagem onde, falava-se algo pejurativo a respeito dele. Eu, todo cheio da energia e imaturidade que minha juventude trazia, comentei com o mestre que iria lá acertar as contas com o sujeito. Mestre então, me disse:
"que bom que ele falou algo ruim de mim"
"mas, como assim mestre? Falar mal não é bom! - respondi
"Se ele falou algo ruim é por que dei abertura de erro para isso. Vou corrigir esta abertura e ninguem mais vai poder falar nada. Então, se vc for visitá-lo, melhor agradece-lo, pois, mostrou minha falha para que eu pudesse corrigir!"
Naquele dia vi o quanto eu ainda tinha para aprender...
(Foto tradicional de Sifu Florentino e seu mestre Sifu Li Hon Ki em 1994)
Blog do Dido - O Sr. Junto com uma equipe de estudantes brasileiros- dentre eles,sifu Marcos de Abreu – estiveram na china participando de um treinamento com supervisão direta de sifu Duncan Leung. Para o Sr.,o que foi mais marcante nesta viagem?
Sifu Florentino : Com toda certeza o momento em que me contundi. O treinamento era muito incessante, intenso, e cansativo. Tirando alguns que ficavam enrolando pelos cantos, mestre Duncan puxava ainda mais no treinamento para os que ele via que estavam se dedicando. Vários se contundiram.
Me recordo que, uma vez perguntei ao mestre Li quantas vezes era necessário repetir uma técnica para se domina-la, e ele respondeu que com 300 vezes eu já estaria apto para tentar usa-la em um sparring, assim, concluído esta quantia em determinada técnica treinada no aparelho de pneus, dei uma pequena pausa para relaxar e, eis que mestre Duncan aparece atrás de mim como um "ninja" vindo das nuvens de fumaça e gritando "porque parou?" porque parou?" - "...é que eu já repeti 300 vezes" - respondi instintivamente me recordando das palavras de meu mestre. - "Então repita 3.000!!!" - Eita... e lá fui eu...
O calor era intenso, a estafa era grande, e a idade já não permitindo tanto de meu corpo, apesar de meu cerebro querer sempre mais. Conclusão: Lesionei o tendão de aquiles! Mas, o mais importante nesta história toda, foi justamente o fato positivo que esta lesão me trouxe. Assim como meu mestre dissera no passado "o ruim tambem é bom". A lesão me aproximou grandemente de mestre Duncan, pois, sem poder treinar, ficava sempre ao lado dele, escutando e anotando todos os comentários e ensinos que dava individualmente a cada um, coisa que, quando treinando, só escuta o que ele dizia à mim, sem falar da aproximação que tive tambem com Alan Lee, ultimo discipulo particular de Yip Man, quem, gentilmente me levou ao PS, me proporcionando horas de histórias a respeito de Yip Man. Entretanto, posso lhe dizer de uma figura que foi de suma importancia nesta história... Meu irmão Wing Chun Marcos Abreu o qual, em nossa residência na China, cuidou de mim no momento em que eu não podia andar, como se eu realmente fosse seu irmão mais velho (consanaguineo), sempre atencioso com minhas necessidade e até mesmo, me preparando as refeições. Felizardo daquele que tem a amizade sincera de mestre Marcos Abreu.
(Sibak Marcelo Florentino e Sifu Marcos de Abreu)
Blog do Dido - Em termos técnicos, quais os pontos que o Sr. Considera mais fortes na linhagem do sifu Duncan Leung?
Sifu Florentino : Somente um. APLICABILIDADE REAL!
(Abaixo,com Sifu Duncan Leung, 1995)
Blog do Dido - O Sr. Poderia nos contar como é o trabalho desenvolvido pela applied wing chun? Como se dá a metodologia de prática e ensino?
Sifu Florentino : Nós procuramos levar ao interessado, não somente o ensino marcial mas tambem, um aprendizado cultural, que o aproxime da arte chinesa não somente pela luta, mas tambem, pela história de nossos antepassados nela. Assim, cada aula inicia-se com o aprendizado das técnicas, passando aos equipamentos, e principalmente, a pratica real do combate, através das aplicações como parceiro, e tambem sparrings, e como conclusão, no momento em que relaxamos, a transmissão teórica do conhecimento filosófico/cultural.
Blog do Dido - O curso de formação de instrutores ministrado na applied wing chun tem padrão chinês de carga horária (14hs aula) o que não é comum vermos em nosso país, o Sr. Poderia comentar mais sobre como foi o processo de implantação do sistema chinês em um país ocidental?Se houve,quais foram as dificuldades neste processo?
( Sifu Florentino e Alan Lee)
Sifu Florentino : Por mais incrível que pareça, não houve muitas dificuldades na implantação. Apesar dos Brasileiros não estarem acostumados a tal sistema de ensino, alguns são, digamos, "entusiásticos" pela cultura chinesa, o que facilitou bastante. Claro que, há aqueles que desistem no meio do caminho, devido a intensidade do treino, tanto físico quanto psicológico. No que se refere ao treino físico, creio que o amadurecimento na arte os mostrarão a realidade que a arte marcial chinesa requer, pois, treina-se muito pouco aqui no brasil, em relação ao praticado pelos chineses. Já o psicológico... Realmente não é fácil ficar isolado da família, dos amigos e do mundo por tanto tanto tempo sem que a depressão o venha aflijir. Todos passam por isso. Infelizmente, alguns não resistem. Mas no geral, o internato tem sido um grande sucesso, sendo hoje, o principal veículo de expansão no aprendizado do Applied Wing Chun no Brasil, tendo mais de 90% de aprovação.
(Alguns alunos/praticantes durante seminário)
Blog do Dido - O Sr. Lançou á alguns anos, um DVD sobre as bases e teorias da applied wing chun, quase como uma releitura do famoso DVD do sifu Duncan Leung. Já existe um novo projeto - DVD, livro, ou algum outro projeto que vise a promoção da applied wing chun - em andamento?
Sifu Florentino : Sim. Pra dizer a verdade, estou com meu livro "O que significa ser mestre em Wing Chun" para ser lançado em breve. Já encontra-se na editora.
Blog do Dido - Gostaria de agradecer imensamente pela honra de entrevistá-lo para o blog e gostaria que o Sr. Deixasse uma mensagem pros nossos leitores,assim como os seus contatos, para quem quiser ir conhecer o trabalho desenvolvido pela applied wing chun.
Sifu Florentino : Agradeço imensamente a oportunidade de participar neste blog, que tem se tornado mais uma revista virtual propriamente dita, com tanta informação e conteúdo, bem como, as pessoas que acreditam em meu trabalho, e sabem que encontrarão não somente um mestre Wing Chun, mas tambem, um amigo sincero, para todas as horas, sejam boas ou ruins.
Os que desejarem conhecer mais a meu respeito e ao trabalho que realizo, fiquem a vontade para visitar e participar em nosso site e blog:
Saudações a todos
ResponderExcluirgostei muito da entrevista e verdadeira mente é isso ai mesmo, mestre Florentino e sua experiência marcial, como tambem conhece bem história esteve na china templos vivenciando detalhes que por sua vez transmite aos mebros da família Applid Wing Chun
Parabéns pelo trabalho do Blo- Dido
e estimadas saudações ao sifu Florentino
Att. Grupo de Estudos de Tabira - PE
Só houve um problema com a entrevista; ela foi curta demais!!! Sabendo um pouquinho mais da história do Marcelo, eu perguntaria da experiência dele com as brigas de rua, dos casos hilários dos caras que invadiram a academia dele naquela época em que isso era muito comum.
ResponderExcluirDo começo dele com Léo Imamura, D'Urbano e aquele pessoal pioneiro da arte no Brasil.
Eu tenho de dizer uma outra coisa aqui. Eu conheci o Marcelo pessoalmente na China, a gente colaborava na internet, mas não tínhamos afinidades pessoais. Por causa do jeito direto e objetivo do Marcelo, demorou muito para eu entender a personalidade dele e o tipo de sujeito que ele é na intimidade. Curiosamente eu tive mais afinidade com um Sibak americano que com ele lá, porque eu me fechei no meu preconceito. Marcelo mostra para você onde você erra, e nem todo mundo recebe isso bem. Ainda assim eu fiquei espantado com o bom humor dele em encarar os reveses que ele teve na China. passou dias no hospital praticamente sem contato com ninguém - na China continental praticamente ninguém fala inglês - e não desistiu, depois ia todos os dias de muletas para os treinamentos. Eu não aguentaria ficar lá vendo todos treinando...mas ele ficava junto ao Duncan, e absorveu bem como colocar na prática o conhecimento formal que tínhamos aprendido de Li Hon Ki. Foi incrível a semelhança do pensamento teórico dele com o que rolava lá, de forma que acho que para ele foi mais um ajuste que qualquer outra coisa. Foi na volta para o Brasil que as coisas começaram a ficar claras para mim no que diz respeito ao Marcelo, em especial quando ele veio a Salvador treinar comigo e ficou em minha casa com sua mulher, e eu achava que ele tinha vindo mais para passear no carnaval, e quando vejo o cara trouxe vídeos estudos e planificação de treinamento, vídeos para nos filmarmos e vermos nosso nível depois, e rejeitou todos os passeios para treinar 6 horas dia conosco (treinou conosco mestre Cleber Domingues). Quem não respeita um homem que aos quarenta anos, sendo mais velho e experiente que você, atravessa o país para treinar no ritmo alucinado, e te pergunta, e aí, Marcão, você, não dizer como estou indo? Eu nunca vi tamanha humildade num mestre de Wing Chun. Eu procurei todos os meus sihings no Brasil para treinar e conversar e como a maior parte deles foi arrogante, distante, formal e fria, muitas vezes até falando mal de nosso SiFu pelas costas...
Hoje, eu que foquei minha carreira mais em ficar bom na técnica pessoal do que qualquer outra coisa, e que fui forçado pelas circunstâncias da vida a ser profissional de Wing Chun, digo com todas as letras: Marcelo será o homem de frente da condução do Wing Chun no Brasil nos próximos anos (um wing chun funcional em todos níveis, filosoficamente porradeiro, para falar língua de gente). A Applied Wing Chun Brazil, associação pensada e fundada por ele, Claudio Rangel, Alberto França e este que vos escreve, um dia o terá como Presidente, posição que lhe é natural, pois ele já lidera moralmente a nossa organização.
Ele treina com afinco, luta, tem escola grande, é reportado por seus irmãos kung fu, alunos e amigos como ótimo sujeito, tem todas as qualidades que a gente procura num grande mestre, por isso aguardo com ansiedade seu próximo livro, porque ninguém teria mais capacidade em todos os níveis para explicar o que é ser um mestre de Wing Chun.
Pena que pouca gente veio comentar a entrevista, porque tenho certeza que ela foi a mais lida do Blog do Dido até agora, pelo vulto que a figura do Marcelo já faz no Brasil.
Marcelo tem uma ambição sadia, que precede todas as outras, e que divido com ele: ser cada vez mais técnico, não desistir e alcançar o mais alto nível em Wing Chun. Ele tem todo meu respeito e devoção de irmão-mais -novo na família. Sihing, o que fiz na China não foi mais que obrigação.
Sucesso!!!
Meus Deus... As palavras até me fogem pela emoção de ler tais honras vindas de você, irmão Marcos.
ResponderExcluirEm verdade, não me sinto merecedor de tantos méritos, mas, me sinto enormemente honrado por recebe-los de tão excelente lutador e mestre em Wing Chun como você.
Se em tuas colocações, prestigias minha maturidade em lidar com as técnicas bem como, a família, eu, de minha parte, digo com toda a certeza que pertence a ti o título de melhor lutador Wing Chun. Não somente pelo teu nível técnico, que é excelente, mas, principalmente pela garra e sede pelo combate que tens. A exemplos do passado, teu nome com certeza entrará para a posteridade de nossa arte como o Rei Wing Chun das lutas de nossa época.
Sucesso Brother!
Boa noite!
ResponderExcluirMeu nome é Adriano e comecei a praticar Wing Chun a pouco tempo...
sou de Guarulhos-SP e meu mestre teve aulas com um discipulo do Grão Mestre Li Wing Kay.
Gostaria de saber com quem Li Wing Kay aprendeu Wing Chun, e se seu metodo tambem pode ser considerado o Applied Wing Chun?
Sem mais, grato!
Muito bom...
ResponderExcluirAlguém poderia me informar onde fica o dojo do sifu Marcelo em são miguel meu nome e Cristiano e meu tel e 986805244 agradeço desde já
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