sexta-feira, 4 de novembro de 2011

viagem a salvador - parte 2

Bem, quando me dispus á ir á Salvador para minha admissão como discípulo e treinar com sifu, fui num período um tanto complicado, o que me permitiu, neste primeiro contato com sifu, ter apenas 3 dias para dar inicio ao meu treinamento e para praticar forte. Então, dentro deste contexto, tínhamos muito assunto á ser visto em pouco tempo, o que se tornou um baita desafio.


(Sifu Marcos,com o Lik Dim Boom Kwun - esta foi uma das salas onde tivemos momentos de prática marcial , aliás, leiam o artigo de sifu sobre o kwun em : http://appliedwingchunsalvador.blogspot.com/)


Nestes 3 dias, apenas parávamos pra comer e dar uma descansada rápida e logo,voltávamos á prática. Sifu se mostrou um cara de grande paciência e compreensão, pois me permitiu anotar tudo o que eu pudesse naqueles...
Ah, peraí... vocês já assistiram ao filme “beijos e tiros”,  onde o narrador começa com a história,se empolga e de repente esqueceu um detalhe importante da trama,que vai ser crucial no fim do filme? Pois se não, olhem o trecho ai...



                                    (a cena não é exatamente essa,mas vale a dica,o filme é bom!rsrsr)

O caso é que me esqueci de mencionar o seguinte; Dias antes, eu estava passando maus bocados numa fase que qualquer um poderia dizer “meu filho, vá tomar um banho de sal grosso”. Pura pindaíba! Entre acidentes domésticos, assaltos e todo o tipo de má sorte, o que mais me deu trabalho foi uma inflamação na garganta que tinha me derrubado por quase 2 semanas direto e eu precisava me recuperar,o que só veio a acontecer um dia antes do embarque. Mesmo assim, ainda tinha uma tosse chata que vez por outra vinha e voltava, e isso me rendeu um apelido...

Voltando, Sifu Marcos se mostrou realmente compreensivo, apesar de todo o corre-corre, me mostrando com riqueza de detalhes e todos os pormenores dos movimentos, e seus conceitos, me permitindo anotar tudo neste caderno. (foto).
                                        ( a caligrafia não ficou das melhores, ok...o que importa é o conteúdo,rsrs)



Estávamos aproveitando ao máximo o pouco tempo que eu dispunha pra aprender e da minha parte, eu precisava me esforçar ao máximo para captar tudo o que sifu me instruía. O caso é que o mais difícil não foi aprender movimentos e conceitos novos, mas me desvencilhar dos antigos hábitos. Pra tanto, eu precisava “zerar” e começar tudo do início, outra vez. Pra fazer um parâmetro, tome o ator Tonny Leung, que irá viver o patriarca Yip Man na película “The grandmasters”; Ele teve treinamento prévio –antes das filmagens – com Grande mestre Sifu Duncan Leung. Tonny, por nunca ter praticado wing chun, teve facilidades em absorver  tanto a técnica quanto os conceitos. Se ele tivesse praticado em qualquer outra família antes de se encontrar com sifu Duncan e fosse fazer esse mesmo treinamento, muito provavelmente iria levar o dobro do tempo que gastou. Dá pra ter uma idéia do drama? 



Uma coisa que talvez seja um grande diferencial de sifu Marcos é que, mesmo ele pertencendo á determinada ramificação do wing chun, tendo longa história com a arte marcial, sendo um dos primeiros discípulos do grande mestre Li Hon Ki á completar todo o sistema no país, ele conhece e respeita em muito os outros mestres e linhagens da arte. È perceptível que esse respeito que ele guarda e é algo de uma nobreza imensa! Lembro-me que enquanto eu repetia lá pelas “trocentas” vezes o siu nim tao, ele me contava a história de como sifu Léo Imamura havia aprendido a forma Biu Ji, na sala de estar da casa de grão-mestre Moy Yat. 



(Grande Mestre Moy Yat e sifu Léo imamura,em foto tradicional)




E eu lá, na sala da casa de sifu, aprendendo o siu nim tao, enquanto sifu cuidava de seu bebê, a Maria Luiza.



No segundo dia, após praticar durante toda a manha e a tarde,tivemos um belíssimo almoço, preparado por sifu (com uma receita que ele havia aprendido em sua estadia em Hong Kong, sifu e suas habilidades culinárias também de altíssima qualidade!). Durante o intervalo de descanso, enquanto sifu ia fazer uma cesta, aproveitei pra ir numa lan house, mandar sms pra família e pra esposa, apenas pra avisar que estava tudo bem. Quando sifu me contou sobre a estória de Sisok Florentino e seu incrível passeio em salvador (sério, a gente ficou dando risada e eu dizendo á sifu; - “cara, isso merece uma coluna especial no blog”). Sifu fez um mapinha das ruas principais no bairro da pituba, mas como eu já tinha passado pelas ruas antes, nem precisei. De qualquer forma, guardei o mapinha como recordação.





 Uma recordação que vou guardar pro resto da vida que vale a menção é a dedicatória com o carimbo chinês que sifu fez na minha edição do livro “wing chun kung fu” de sua autoria. Isso me emocionou muito, ainda mais quando sifu me mostrou a dedicatória que sikung Li hon Ki fez na edição dele do Livro “ving tsun”.




Os treinos se seguiam forte e a noite, fomos praticar com os alunos mais antigos de sifu Marcos. Uma galerinha superbacana que me acolheu numa boa. O clima era de descontração, apesar do treinamento pesado – ainda mais pra mim, que estava ali, treinando praticamente desde o dia anterior. Mas segue um abraço para meus si-hings “Gigante” e “baixinho”, Wesley Rangel, o Lucas, que me deu uma ótima dica de livro. São pessoas especiais man!!


No ultimo dia de treinamento, treinamos a parte da manha e sifu me dizia o que era mais importante para meu desenvolvimento e onde eu deveria focar meus treinamentos. Durante o horário de almoço, demos uma pausa para conhecer o bairro do rio vermelho, já que tínhamos que treinar e terminar o treino para meu embarque de volta. Sifu me dizia; - “Negão, tu chegar aqui em salvador e não ter visto o mar daqui é maus!”. Bem, então vamos lá... Chegamos numa praça onde sifu disse que era o local onde se vendia o melhor acarajé de salvador... mas estava fechado.


(Era exatamente alí,nos quiosques...notem o belo dia de sol que fazia lá)




Isso e a minha estória me renderam o apelido de “Dido pé frio”... Numa determinada rua, sifu me mostrou onde era a casa do músico “Carlinhos Brown”. Eu fiquei pensando; - “Cadê minha latinha nessas horas?” Em todos os momentos, trocamos várias experiências e as conversas, sempre em tom de franqueza absoluta.

Dando uma grande resumida na parábola, ás 21hs eu estava embarcando de volta á recife. Tinha a certeza de que ali, havia se iniciado uma trilha longa dentro da prática de um sistema de luta que foi supostamente criado por uma jovem dama e que eu estava sendo treinado por um grande mestre desta arte. E isso,foi só o começo de uma longa jornada...

2 comentários:

  1. Tem sido muito bom acompanhar suas histórias Dido.
    Como Si Taai Gung Moy Yat dizia, e eu sempre lembro quando escrevo: "História é legal,mas estamos fazendo história o tempo todo."

    Por isso, aguardo ansioso a noticia de sua proxima viagem a Salvador!

    grande abraço e parabens!

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  2. Sim pereira!Concordo plenamente e como falamos por aqui; "Eu tô doidinho pra voltar lá o quanto antes!!"
    Agora,lembro-me que uma das coisas que eu vou levar comigo e que sifu me ensinou durante esses dias, era o espírito com que devemos treinar.A diligência com que devemos praticar. Durante uma prática do pak sao, eu simplesmente não estava dando o meu melhor, repeitando-o. E ele me dizia algo como; "Você tem que dar o seu melhor soco cara!Tem que se esforçar, ter o espírito de guerreiro e sempre praticar com essa atitude,se não, você estará morto,porque o oponente vai te acertar!"
    E é com essa determinação que tenho praticado desde então, e como dito, espero voltar em breve e já estou trabalhando nisso!!
    Isso

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