domingo, 23 de outubro de 2011

Postagem Especial; Viagem á Salvador – parte 1

                 

Devido á inúmeros contratempos, tem se tornado realmente difícil postar material inédito aqui no nosso blog. Quem nos acompanha aqui já deve ter percebido isso. E quem já tem um olho mais clínico, já pôde ter percebido um detalhe na atualização do meu perfil pessoal que diz; “recentemente admitido como discípulo do sifu Marcos de Abreu...”, bem, então sem mais delongas, esta postagem especial – a primeira de uma pequena sessão de duas – é sobre a viagem que fiz á salvador, justamente para minha admissão na família applied wing chun, com sifu Marcos. Mas para que possamos entender melhor os motivos que me levaram á ir á salvador e tudo, vamos voltar um pouco no tempo, nos idos do final dos anos 90 quando eu era apenas um moleque recém saído das fraldas...


O começo


Em novembro 1996, eu deveria ter mais ou menos uns 13/14 anos e ainda cursando o colegial,quando meu amigo de classe, o já citado aqui no blog, João Artur, levou-me pela primeira vez á uma escola de kung fu. Até então, meu contato com artes marciais era no Tae Kwon Do cujo alguns poucos movimentos havia aprendido com meu pai, em casa mesmo.  Iniciei meu treinamento em Shao lin do norte (wushu competitivo) com mestre Sebastião Cícero, aluno de sifu Julio Kushida (este por sua vez além de ser aluno direto de mestre Chan Kwok Wai, é introdutor do kung fu shao lin em PE). Três anos depois conheci o wing chun, através de uma demonstração feita pelo então instrutor Adilson no colégio onde eu estudava. Passei á praticar esta arte marcial, mas minha prática enfrentava alguns entreveros; primeiro, eu acabei sendo o ultimo aluno admitido em sua escola, pois ele estava pra fechar sua escola para ir á BH concluir e dar prosseguimento com seus estudos de ving tsun com seu sifu, Rogério Baeta, na linhagem Moy Yat. Segundo; pelo mesmo motivo, eu passava a maior parte do tempo praticando com meus si-hings, na época, Carlos Eduardo e Cabral. Quando o então instrutor Adilson fechou definitivamente seu koon, acabei ficando sem alternativas para a prática e com o passar do tempo, fui deixando o wing chun de lado... Até que em 2004, eu já não tinha mais esperanças em praticar wing chun outra vez, pois aqui em PE é muito difícil encontrar um professor autêntico da arte. (Aliás, cabe uma crítica aqui; existem realmente pouquíssimas escolas autênticas de wing chun em recife e agora, com a explosão de filmes sobre yip man, como bem preveu nosso amigo sifu Juarez em entrevista recente, está realmente aparecendo muito picareta se dizendo representante, sifu, ou qualquer outro título. Portanto, quem quiser estudar wing chun de fato – especialmente pra quem mora aqui em PE - aqui vai a dica; procure um mestre autêntico,de alguma linha autêntica,pesquise e verifique a autenticidade do que você está tentando aprender e se esforce,mesmo que você tenha de sair do estado pra isso)Tendo isto posto, resolvi então me dedicar á outras formas de expressão, como a música, por exemplo...

E depois do começo...


Entre 2004 e 2011 acabei dedicando total atenção á minha banda de rock (a ECHO vale o merchâ www.myspace.com/bandaecho) e á outras atividades na vida. Em 2008, começo de 2009 eu nem sonhava mais que um dia, iria voltar á treinar alguma arte marcial, apesar de vez por outra, num show caótico ou outro, eu tinha que fazer uso de alguns movimentos marciais, para desviar de alguma possível garrafa de vinho voadora, mas nada além disso... Algumas coisas mudaram em minha vida e há mais ou menos 3 anos atrás,mas um dia, indo comprar alguma bugiganga inútil numa banca de revistas qualquer, me deparo com o livro  “Wing chun kung fu”, de autoria do sifu Marcos de Abreu. A princípio (e isto talvez sifu não saiba ainda) eu meio que dei uma esnobada no livro, não comprando de imediato não, isto devido ao fato de há tanto tempo nunca mais ter ouvido sequer  falar do wing chun... O engraçado é que; a partir dalí, em todo lugar que eu passava, lá estava o livro, olhando pra minha cara... até que dias depois, resolvi comprar. O livro me chamou muito a atenção, devido á forma como o texto está organizado – de forma simples e coesa- e como aborda tanto em um espaço físico tão pequeno. Decidi então entrar em contato com os autores (sim, o livro tem o auxilio e consultoria de outros grandes mestres da arte, como sifu Alberto França e Cleber Dominges, que aliás,mando um abraço e espero conhecê-los em breve) e após um bom período conversando com sifu Marcos pela internet, começamos a vislumbrar a possibilidade da minha ida á salvador,o que só veio ocorrer quase um ano depois, (devido á vida cotidiana,problemas pessoais, etc...)para que ele realmente pudesse me admitir como aluno. A essa altura, o blog do Dido já estava até que bem conhecido no meio marcial nacional e de certo, eu precisava dar continuidade aos meus estudos. Como salvador é “logo ali” e conversando com minha esposa, ela me incentivou também a firmar os planos e ir treinar com sifu; – “Acho que você deveria ir treinar com o Marcos, afinal, foi com o livro dele que você voltou á se entusiasmar com kung fu.” E como não poderia ser diferente?


Então, no dia 20 de setembro deste ano, ás 14hs estava eu, no saguão do aeroporto internacional do recife, nervoso pra burro (afinal, era a primeira vez que eu entrava num avião) indo pra salvador, pra minha admissão como discípulo. Naquele momento, apesar de saber que o treinamento não seria nada mole – e é obvio que eu estava pronto pra isso – a única coisa que realmente me incomodava era,já no vôo, o piloto do avião falando com a tripulação e dizendo; - “Boa tarde á todos (...) estamos á 10.000 metros de altura (...) aproveitem o vôo”. Cara, admito, até esse dia, eu me borrava de medo de avião!Mas, contudo, todavia, porém, medo superado, pois se eu já estava ali, como falamos por aqui “agora güenta negão”... as fotos que fiz durante o vôo não deixam mentir...(momento auto-vergonha)
                                                 ( Durante o vôo é nítida a expressão de sofrimento...rrrsrs)



Cheguei em salvador por volta das 16hs e sifu já estava no saguão do aeroporto me aguardando.Eu estava realmente emocionado em estar lá e conhecer um autêntico mestre de wing chun e que esteve ao lado das lendas do estilo.Mais emocionado ainda,porque estava sendo admitido como seu discípulo. Apesar de quase surdo, por conta da despressurização, conversamos muito durante o trajeto até a sua casa. Uma coisa que me chamou muito a atenção em salvador foi o trânsito. Olha que eu sou filho de motorista do samu e assim como meu pai, a família (também eu e meu irmão) somos praticamente pilotos de fuga (rs),mas em salvador, o trânsito é coisa de louco!Sifu explicava que a cidade não foi planejada e que lá, era assim mesmo ou pior. Sifu ia me explicando toda a base teórica do wing chun, falava sobre a cultura chinesa e lá, não só durante nossas conversas, mas o tempo todo, o que eu pudesse aprender, ia anotando em meu caderno de anotações, previamente preparado, justamente porque em uma de nossas conversas pela internet, sifu me contou que enquanto estava treinando do EUA com supervisão de Seu si kung Duncan Leung, ele anotava tudo o que podia. Sifu Marcos mostrou-se um mestre íntegro, de profundo conhecimento do completo  sistema wing chun (teórico, prático e cultural – em níveis altíssimos e iguais entre si) o que me impressionou mais ainda!!!

Após chegarmos e eu ter sido muito bem recepcionado (agradecimentos especialíssimos á si-mo Bruna, esposa de sifu, e os seus pais, que são gente finíssima!), fomos á uma padaria próxima para fazermos um lanche antes de iniciarmos a prática, onde tivemos momentos de Saam Fat,ou vida kung fu, coisa que muita gente pode estranhar,por conta da questão da linhagem,mas foi muito proveitoso,pois num ambiente mais descontraído e de forma menos formal,é possível ter um bom aproveitamento do aprendizado do kung fu.Então, ali,eu já percebi que meu treinamento já havia começado.Aliás, havia começado desde o momento em que desci do avião. O treinamento em si, da forma de luta e prática do wing chun, iniciou-se naquela mesma tarde e foi noite adentro...


Em breve, a parte dois!

3 comentários:

  1. Olá Dido,

    fico muito feliz por sua conquista.
    A prática legitima do Ving Tsun só pode ser mesmo vivenciada sob a orientação de um Mestre Qualificado como agora é o seu caso.

    Será uma jornada árdua, devido a distância entre você e seu Si Fu,mas nada que força de vontade não supere.

    De fato,não só quando você desceu em Salvador, como também quando você subiu no avião para voltar ao Recife, seu treino estava acontecendo.
    Reunir condições de voltar, também é parte fundamental de sua história.

    Desejo boa sorte a esta relação Mestre-Discipulo.
    Parabens!

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  2. Grande Pereira!Obrigado pelo comentário e pelas felicitações!
    Sim, esta jornada vai ser a jornada mais longa e árdua que terei pela frente, mas nada pode me fazer desistir,pois creio, estamos construindo algo muito especial.
    Sifu Marcos é realmente um grande mestre em todos os sentidos da palavra e pra mim, não existe palavras para descrever a honra de ter sido admitido seu discípulo. O que posso fazer é honrá-lo ao máximo e desenvolver ao máximo meu wing chun, pra que um dia,eu chegue á metade do que ele é.

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  3. Eu ia esperar a segunda parte da reportagem para comentar, mas mudei de idéia...

    Comecei a escrever na net em 2005. De lá pra cá muita coisa aconteceu na minha vida, mas os bons amigos que fiz virtualmente são parte indissociável do que sou hoje, como homem, como profissional de Wing Chun Kuen e como pai de duas meninas.

    Por eu ser uma figura pública no Wing Chun, muita gente me escreve, faz perguntas, trata-me como mestre, mas se eu posso dizer algo de volta é que quem sonha com isso deve se despir de idéias prontas. Dido falou quando me viu, "...é uma honra estar aqui com um mestre de wing chun etc, etc..." Bem, eu disse a ele imediatamente que tudo o que ele sabia sobre mim é que escrevo bem e que tive a chance de aprender algo sobre o sistema, mas que só na prática ele saberia se o que eu sou de fato faria alguma diferença para ele ou não. Em Wing Chun, completar o sistema não te torna um mestre, o somatório de sua habilidade para ensinar, suas atitudes e seu exemplo é que fazem que uma pessoa te reconheça como tal.

    Depois de tantos anos procurando o nível mais alto em Wing Chun entendi que não se faz isso sozinho. Vejo Dido como mais um parceiro em minha busca, que agora é nossa, como faço com meus alunos e amigos diletos. E aprendi que não importa o quanto alguém cresça em arte marcial, o que você mais ganha são estes laços fraternos, pois são o que realmente perdura.

    Agradeço ao Mestre Pereira por ser essa pessoa que ele é, e reitero minha admiração pelo trabalho que faz por seu Moon-Phai e por Wing Chun Phai em geral. Pereira, todos que amam Ving Tsun tem orgulho de você.

    Tanto quanto Pereira, pessoas que só conheço virtualmente, em maior ou menor grau são a força que tenho num período muito delicado de minha vida. A todas as pessoas de três continentes e vários estados do Brasil que ligaram, escreveram, deram presentes em meu aniversário, fica aqui registrada minha admiração e profundo respeito.

    Dido, o caminho é longo e difícil, mas insistência é tudo. É mais que talento, mais que dinheiro, mais que problemas. Com doze anos de idade, perdido em algum lugar do Piauí, vindo de família pobre, sonhei em ser mestre de Wing Chun. 21 anos depois, havia escrito livro sobre o tema, ido à China, convivido com algumas lendas da arte e tido uma das maiores honras de minha vida que foi visitar o túmulo de SitaiGung Yip Man. Ainda não estou satisfeito, mas construí algo positivo para mim e para quem me rodeia, creio... Dido, não há limites para você, meu caro, ande comigo somente enquanto houver algo de bom para você. Sucesso em sua caminhada em Wing Chun. Para mim, todo aluno também é para mim uma chance de recomeçar e sorte a minha de poder receber tanta esperança, tanta energia positiva.

    Abraço,
    SiFu Marcos.

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