quarta-feira, 20 de março de 2013

Blog do Dido fala sobre sua primeira impressão do filme "The grandmasters"







Durante a semana passada, o blog do Dido teve acesso á versão completa com áudio em chinês do filme ''The Grandmasters'', aclamada franquia do diretor Wong Kai-Wai,estrelada pelo ator Tony Leung interpretando o patriarca Yip Man e que contou com a assessoria de siitaigung Duncan Leung para sua preparação e treinamento.



O filme que ainda tem seu lançamento por essas paragens sem data definida,é bastante aguardado pelos pratciantes de wing chun - especialmente os de minha família kung fu - pois esperam que esse filme traga sequências de ação mais 'realistas' em relação aos títulos anteriores estrelados pelo ator Donnie Yen ( que interpretou soberbamente o patriarca Yip Man). Bem, neste ponto,podemos dizer que 'The grandmasters' não decepciona. Como assistimos a versão com áudio em chinês,áudio original, em pouco podemos discorrer sobre a trama,que numa primeira impressão parece bem intrínseca,mas em contrapartida,podemos avaliar o filme sobre outro prisma, analisando outros aspectos.
''The grandmasters'' apresenta uma fotografia bastante sombria,com muitos ambientes escuros, dando á película um ar contemplativo e melancólico,contrastando com as cenas de ação. As passagens em câmera lenta e cheia de efeitos visuais dão ao filme um grande diferencial introspectivo.
A sequência de abertura,que é a luta de Yip man contra vários oponentes na chuva,e que dentre os oponentes surge o personagem do lutador profissional de MMA Cung Le é empolgante e a fotografia remete á filmes como Sin City e mais imediatamente próximo á trilogia Matrix,mais especificamente ao combate de Neo contra os inúmeros agentes Smith.





 Aliás, em todas as cenas de combate do personagem Yip Man, fica bastante evidente a movimentação - mesmo que de forma adaptada ás telas - da escola de siitaigng Duncan leung. O já citado ator tony Leung teve treinamento prévio diretamente com Siitaigung Duncan e teve como dublê o mestre Henry Araneda, da Austrália e que também treinou sob a orientação de Sigung Li Hon Ki, como mostra o Making Off abaixo.




Uma outra cena interessantíssima é a luta de Yip man com a personagem da atriz Zang Ziyi,que representa o estilo Bá Gua. Em dado momento, ela assume a postura em Bong Sao e depois em Jong Sao,enquanto Yip man assume a postura de guarda do Bá gua e ambos passam a lutar com o estilo de seu adversário.




Em 'The grandmasters' também é possível ver o filho de Siitaigung Duncan, Darren leung,interpretando um dos alunos de Yip Man, liderando uma classe e executando Siu Nim Tao.

''The grandmasters'' é um filme que não tem a intenção de soar ''biográfico'', mas diverte e entretém á medida em que serve para mostrar as diferenças técnicas entre os estilos de kung fu chinês á luz de sua tradicional visão.Quem procurar ou tiver o intuito de achar em ''The grandmasters'' um filme sobre a vida de Yip man com certeza se decepcionará, embora garanta bons momentos.



quarta-feira, 6 de março de 2013

Depoimento de Fernando Lempê sobre seu início e treinamento formal com Sifu


Durante o mês de Janeiro deste ano, esteve em Salvador para dar início ao seu treinamento com Sifu Marcos Abreu, o jovem Fernando Lempê. Figurinha conhecida dos debates nos fóruns de wing chun nacional, Fernando Lempê saiu do bairro de Vieralves em Manaus, para Salvador, Bahia enfrentar praticamente o mês todo de treinamento no wing chun de nossa família, tornando-se assim, o primeiro aluno de Sifu no estado de Manaus e por conseguinte,tornando-se meu Si Dai - irmão kung fu mais novo.

Acompanhem o relato sincero do Fernando Lempê e sua própria visão do treinamento do wing chun sob a supervisão de Sifu Marcos.


" - Este é um relato sobre minha viagem para treinamento de Wing chun Kung Fu com o Sifu Marcos Abreu.  (06/01 – 20/01)
Estava bem ansioso pelo que iria aprender, se me sairia bem... Preparei todo meu aparato uns dias antes da viagem, li bastante e me esforcei para ficar calmo.

                                             Dentro do avião, Manaus – Brasília,Ansioso!

Após quase 7 horas de viagem (passagem comprada com milhas...) finalmente chego a Salvador. Como se não bastasse, havia 3 esteiras de malas e eu não sabia em qual delas viria... Depois de quase 20 minutos consegui encontrar a infeliz.

Liguei para sifu dizendo que já estava no aeroporto e ele disse que estava a caminho, fui para o lado de fora tentando mais uma vez controlar a ansiedade.
Depois de 15 minutos, avistei o carro, coloquei a mala no banco de trás e para minha surpresa sifu manda um:
- Eae Lempê, tudo tranquilo?!
 Apertando minha mão, no som do carro tocava Black Sabbath. Nesse momento pensei “O cara ouve Black Sabbath e apertou minha mão”, toda aquela imagem chinesa estereotipada de mestre intocável foi por água abaixo. Vi ali um cara simples, de carne e osso, bem diferente do que eu achava e fiquei feliz por saber que nos daríamos muito bem.
Saindo do aeroporto, fizemos um mini tour por alguns locais de Salvador e conversamos sobre as diferenças entre as cidades, sobre nós mesmos e também sobre Wing Chun como não poderia deixar de ser. Chegamos em casa já meio tarde e conheci a Hanna, uma labradora preta. Logo que ela me viu parou de latir e já recebeu meu afeto.




                                                                 Hanna, a labradora.

Nos preparamos para dormir, fui acomodado nos meus aposentos, tomei um banho e fui dormir ansioso pelo primeiro dia de treinamento.
Não tive uma boa noite de sono,  acordei varias vezes e após bastante tempo sem dormir fora de casa é normal que eu estranhe...
Bem cedo, sifu já me acordou, tomamos um café reforçado e saímos para o aquecimento. O treinamento tinha sido iniciado oficialmente.
Após me mostrar alguns exercícios específicos para a pratica de Wing Chun, partimos para a corrida. Seria meu primeiro teste, sifu queria saber se eu era um “nerd” ou se tinha o mínimo de resistência, corremos por algum tempo  pela orla de Salvador com essa vista por todo o percurso.
Motivante!




Após corrida e hidratação com água de côco chegou a hora de treinar efetivamente. Sifu pediu que eu colocasse minhas luvas de boxe, colocou as dele e me disse:













- ""Quero ver se consegue aplicar algo do que já treinou até hoje!""
E tocou minhas luvas me cumprimentando:
-" Boa sorte!"

Engoli seco e sabia que a parada seria dura... Por mais que eu tentasse atacar, meus golpes sempre ficavam na defesa de sifu, os movimentos dele eram simples mas sempre no momento certo, quebrando meu ritmo o tempo todo. Até o momento eu estava no ataque e aí as coisas se inverteram, passei a ficar na defensiva e ainda sim levei um soco de meia força no rosto que até agora não sei de onde veio.
Sifu encerrou por ali e me disse:

-'' Eu já esperava que fosse assim mas você precisava deste choque de realidade.''

A partir daí começamos com a parte teórica do wing chun, geração de energia, linha central, etc...
Fiquei bastante surpreso com quantidade de coisas que simplesmente ignorava e a partir daquele momento passaram a fazer muito sentido.  A academia de  sifu  (mogun) é um local humilde porém com a estrutura necessária para realizar bons treinamentos, em resumo poderia dizer tem o que precisa de forma funcional e sem muito luxo.






                                                            Respeito, gratidão e tradição :
Duncan Leung                                                   Yip man                                              Li Hon Ki




                                                Em guarda, sempre equipado para os treinos


 Após o primeiro dia de treino, fui dormir satisfeito, ansioso e feliz pelo que estava aprendendo. Sifu, mesmo notando minha dificuldade em me desvencilhar do meu antigo modo de lutar foi bastante paciente e compreensivo. Nesses momentos sempre me vinha a cabeça meu sihing Dido e sua bem conhecida historia da filosofia marcial chinesa “Esvazie sua xícara man”. Isso realmente me ajudou bastante e me colocou no caminho certo.




O treinamento prosseguia e eu em meio a dificuldade natural, aprendia no meu ritmo. Cada vez mais feliz por estar ali e lembrando do meu esforço para estar. Um fator motivante é a técnica de sifu, sempre buscando executar da melhor forma possível, exemplificando.  Cansado ou não, o movimento na técnica era fiel a forma. Realmente surpreendente  e nota-se que entende do que faz.
 Entre intervalos de treino, quando possível tirávamos um tempo para relaxar de diversas maneiras e como não podia deixar de ser um bom banho de mar se fazia bem revigorante.

















Banho de mar

Neste mesmo dia da praia aconteceram alguns fatos que tornariam minha escolha de sifu Marcos como meu mestre ainda mais acertada. Estávamos voltando pela calçada e falando sobre o almoço de logo mais, de repente vejo sifu correr em disparada em direção a avenida e ajudar um jovem que empurrava seu carro com dificuldade, no mesmo instante corri para ajudar também. Sifu ainda parou uma via para que o jovem conseguisse atravessar o carro.

Percebi que ser sifu não é apenas ter concluído o sistema, um sifu deve mostrar o verdadeiro caminho marcial, caridade, humildade, bondade e acima de tudo honestidade.
Os treinos seguiam intensamente pela manhã, tarde e noite, eu estava bastante satisfeito com a lógica da arte, tanto na teoria quanto na prática. A geração de força é simples e coerente, as técnicas se encaixam e combinam levando a movimentos precisos. Em mais um dia de lazer, conheci a esposa de sifu e sua filha mais nova e visitamos um shopping de Salvador.
Sifu Marcos me lembra Bruce Lee em alguns aspectos, tem verdadeira obsessão por treinar e são raros os momentos em que não está falando em Wing Chun seja direta ou indiretamente. Em certos momentos ele parece ser uma pessoa com dupla personalidade, dentro do mogun na hora da aula, é uma pessoa séria, rígida e bem focada, enquanto que fora dela é brincalhão e extrovertido.   O passeio pelo shopping foi de grande aprendizado para mim, enquanto a esposa olhava as lojas e fazia as compras, conversávamos sobre vários assuntos relativos ao treino e Wing Chun em geral.


Certo momento quando esperávamos o elevador para descer com o carrinho de bebe, sifu explanou um pouco sobre chutes inclusive demonstrando os movimentos, pé pra lá e pra cá. Foi uma situação engraçada pois fiquei imaginando o que as pessoas que passavam por nós deviam estar pensando.
 “Esses caras são doidos?!”

Foram vários momentos deste tipo onde até fora do mogun eu estava vivendo um pouco da arte.
Houve um momento em que eu estava com uma grande dificuldade em pegar algumas movimentações e técnicas, técnicas essas que eram base para prosseguir no treinamento, mesmo me esforçando as vezes não saia da forma que sifu esperava. Fiquei bem chateado comigo mesmo por ver meu esforço não gerar evolução e confesso que pensei em desistir... estava triste e frustrado. A noite, depois do fim do treinamento tivemos uma boa conversa e foi uma  injeção de ânimo para mim. Ouvi o que precisava ouvir e foi o suficiente para que eu novamente focasse em me superar e aprender. Novamente lembrei do meu sihing Dido e contei com a ajuda dos outros alunos de sifu.
No final de mais um treino da manhã sifu me levou a um restaurante chinês muito agradável pois sempre tive vontade de saborear uma comida realmente chinesa, diferente dos industrializados que conhecia. Almoçamos muito bem e saí satisfeito por ter feito esta refeição.





Almoço no “Algo Bom”


















 Sifu pega uma mosca no seu momento mestre “Miagui”

Não acreditou mesmo que ele pegou uma mosca com o Hashi?! Acho que era uma vagem ou algo parecido.


Meu momento de incorporar alguém foi em relação ao mogun e a limpeza, todos os dias eu limpava por minha conta todo o local de treino para não perder tempo fazendo isso pela manhã. Me senti  literalmente como o Wong Shun Leung.



Quando fazia a limpeza, ainda recebia a visita ilustre de Hanna





Nesta altura eu já estava familiarizado com as técnicas básicas e comecei a participar melhor dos treinos junto com os alunos mais antigos de sifu, eu executava minhas técnicas e os ajudava a executar as deles, tentando fazer meus ataques com realismo e força. Neste momento é fácil perceber o quanto se faz necessário o uso de proteção para treinar o wing chun de Duncan Leung... Quanto mais forte eu batia, mais me machucava e era obrigado a reduzir a potencia dos golpes. Ao final de alguns dias, sentia dores nos tendões, resultado do impacto contra as defesas firmes dos outros alunos. Treinar forte é cansativo e doloroso mas quem disse que seria fácil?



                                     Ajudando os companheiros de treino a se equiparem

Dentre outros momentos em que pude aprender mais com sifu, mais um merece destaque. Estávamos fazendo nosso aquecimento e praticando alguns exercícios numa pequena praça quando um taxi para próximo a nós e saindo do um hotel aparecem 2 moças, notavelmente gringas. Elas começam então a tentar se comunicar com o taxista que não as entendia muito bem. Perguntavam sobre algum lugar e ele não sabia como levá-las ate lá. Sifu de repente já atravessa a rua falando inglês  e começa a se apresentar paras as moças. Ele pergunta se pode ajudar em algo, sabendo que também não conhecia o local em questão, sifu deu um pique de uns 300 metros e saiu perguntando as pessoas que passavam até conseguir a informação com alguns taxistas de passagem. Ele volta novamente correndo e explica ao taxista onde é o local.
Pensei comigo, sifu ajudou as gringas (não eram bonitas) simplesmente pelo fato de ser útil. É algo que tento continuar fazendo na minha vida, ajudar sem olhar quem.
No fim destes dias de treinamento já tenho uma visão geral do primeiro nível, Sil Lin Tao, básico de movimentação, algumas técnicas e entendo como gerar força estruturalmente.
Meu treinamento chega ao fim e neste momento estou pronto para começar...  praticar exaustivamente até que as reações técnicas sejam parte de mim e do meu reflexo natural.
Como disse sifu, de nada valem todos aqueles movimentos, treinados e repetidos, se não conseguir aplicá-los em combate livre, é um conhecimento preso  e inútil. Fechamos o treinamento com um yakisoba feito por nós com ajuda do irmão de sifu. Segundo ele ficou bem parecido com o que viu na china em 2009.




Yakisoba de encerramento

Encerro aqui esse depoimento, espero ter me expressado bem e passado uma boa idéia do treinamento que fiz em Salvador.

Aproveito para formalizar que Marcos Abreu  é meu sifu e agradeço por cada minuto de atenção e treinamento dedicado. ''
Contato na internet:


http://appliedwingchunsalvador.blogspot.com.br/


Fernando Lempê desde o começo de seu treinamento me surpreendeu pela sua garra e motivação. Realmente,poucas pessoas tem culhões o suficiente para saírem de sua zona de conforto e sair de tão longe em busca de um conhecimento ancestral com um autêntico mestre como é sifu. Como seu irmão mais velho, mesmo estando em outro estado, fiz o máximo que pude para auxiliá-lo em seu treinamento (como a postagem sobre 3 ataques), e deixo aqui público minha admiração por sua pessoa. È um cara realmente especial.

Até mais.
Dido.