sábado, 4 de julho de 2015

Especial Entrevistas; SiFu Monnerat


Sifu Monnerat (Moy Ka Lai To) È discípulo de segunda geração de Grão Mestre Moy Yat e reside atualmente em Niterói - Rio de Janeiro. Atuante no campo das artes marciais tradicionais chinesas desde a década de 80, SiFu Monenerat com um trabalho pioneiro de EAD ( Ensino á distância) tem desenvolvido novas formas de transmissão do sistema Wing Chun (Ving Tsun) se valendo da tecnologia e da internet como complementos desse intento.O blog do Dido o entrevistou durante o correr dessa semana e você confere agora como foi esse papo....




Blog do Dido: Gostaria de que o sr. nos contasse como o Wing Chun ( Wing Chun) entrou em sua vida e como e quando o sr decidiu seguir dedicadamente a este estilo de gung fu. Como era praticar a arte naqueles primeiros anos?


S M) Aos 8 para os 9 anos de idade, fui apresentado por  um amigo, que então passou  naquele momento a ser meu “Kai Siu Yan”, ao Si-mun de meu primeiro Sifu de Wing Chun, Sr. Lee Tat Yan, nascido em Chung San (província ao sul da china), que foi aluno de Lee Sing em Hong Kong e Lee Sing de Lok Yiu.  Sobre Lok Yiu, acrescento que em 1950, Ip Man fundou sua família em Hong Kong, na Tai Nam Street. Leung Sheung e Lok Yiu foram os seus primeiros discípulos desse grupo.

Assim iniciei meu primeiro contato com a arte do Wing Chun, mesmo não sabendo do que se tratava, pois meu Sifu falava pouco português, e o Sistema Wing Chun não era muito conhecido naqueles tempos no Brasil, isso já era meados de 1982 (33 anos atrás). Meu Sifu não era de falar muito e achávamos que Wing Chun era uma técnica dentro do Bak Sil Laam (Shao Lin do Norte) da qual ele também ensinava.
Segui com Sifu Lee até o fim da vida dele, que se deu em 1996/97 , porém nesse período meu Sifu interrompeu suas atividades por cerca de 5 anos e por esse tempo fui aluno direto e pessoal de Marco Natali, quando auxiliei o mesmo na fundação da Fraternidade Kung Fu aqui em Niterói, onde ele viveu por algum tempo. Após retornar ao Sifu Lee Tat Yan, pude completar todos os domínios do Wing Chun(1991/92).
Meu desejo de manter o Wing Chun como a única arte para dedicar minha vida, foi pelo fato de ter desistido do meu exame de Faixa Preta de Kick Boxing com Mestre Alfredo Apicella (7º.dan - Itália) e do exame de Faixa preta de Shuai Shiao com Grão Mestre Daniel Weng(china), e Muay Thai, estilos estes que me dediquei por anos, concomitante com os estudos de Wing Chun, pois meu foco nesse período foram as competições de Kick Boxing que eram bem promovidas, porém não desmerecendo essas artes, pude encontrar no Wing Chun meu caminho marcial. Nesses anos de 80 a 90, a prática era sempre norteada e direcionada para as competições, neste tempo participávamos de Torneios Abertos de Kung Fu, onde praticantes de outras artes, tais como Karatê Kiokushin Kai Kan, Tae Kwon do, e diversos outros estilos chineses disputavam medalhas e troféus em regras sem proteção, usávamos ataduras nas mãos, e pagávamos caro com isso, com cortes no rosto que necessitavam de pontos, eu mesmo levei 8 pontos no saco escrotal.



Blog do Dido; O sr. poderia nos ressaltar quais os aspectos mais evidentes no seu modo de transmitir o sistema wing chun?

S M) Essa pergunta é muito especial, pois tal qual transmitiu meu Sigung Moy Yat, um aspecto muito importante sobre a Transmissão do Sistema Wing Chun. Isso está ligado diretamente ao conceito de formação completa do praticante de Wing Chun, que nasce da idéia da extensão constitutiva do desenvolvimento humano, que se realiza em duas dimensões: a primeira no próprio praticante de Wing Chun, enquanto tomada de consciência de si mesmo através do outro; e a segunda fora do praticante, sendo a extensão em direção aos outros, do mais próximo ao mais distante.
Inspirado nas funções-chaves  Toi (Impelir) , Kap (Atingir) e Kwong (propagar) do texto clássico do confucionismo Mong Ji, o conceito de formação completa engloba a Mobilização Intrapessoal (no próprio praticante) e Interpessoal (fora do praticante), sendo esta última dirigida para o mais próximo (direta) e para o mais distante (indireta).
Porém não sigo um Método de transmissão e tampouco um Não-método, como já dizia meu Sibaak gung Lee Jun Fan (Bruce Lee) e sim ter todos os métodos!
Porém Grão-mestre Moy Yat nos direcionou e nos mobilizou para a compreensão da Excelência Estratégica: Fazer bem de modo fácil para fazer sempre melhor!
A viabilização da excelência estratégica tem seu início na ênfase do que é chamado de formação completa do ser humano, como citamos acima. Isso resume em parte nosso método de transmissão, onde a contribuição de uma pessoa para a humanidade demanda muito mais do que aprender algo para si, mas de mobilizar outrem a aprender e ir além: mobilizar o outro a mobilizar um terceiro a aprender.
A partir dessa idéia, compreende-se quais relações familiares são valorizadas no Sistema Wing Chun. Na linha direta descendente: seu todai e seu tosuen. E na direta ascendente: seu Sifu, seu Sigung, seu sitaigung e seu sijo.
Toda a metodologia de transmissão deve respeitar as Fases de Aprendizado Sau (aceitar), Pow (examinar) e Lei (separar). Onde os 4 fatores de monitoramento é utilizado em nossa “ maneira de transmissão: Wai Jih, Koi Lei, See Kan e Lek Do. Explicar mais sobre isso demandaria mais tempo e terei o prazer de explanar em outra ocasião ou pessoalmente.
Mas isso tudo tem a ver com o que reza um Kuen Kuit , que diz:  WING CHUN CHUEN CHING TONG.

Blog do Dido: Em sua opinião, como o sistema wing chun poderia ajudar ás pessoas em seu desenvolvimento social, nas relações interpessoais e no desenvolvimento pessoal do praticante? Como o gung fu pode ser expresso e como o gung fu de um praticante  pode ser aperfeiçoado neste sentido?


S M) O Sistema Wing Chun pode e tem ajudado em muito o desenvolvimento do homem e da mulher em vários segmentos da vida, mas para que eu possa colocar aqui como (?) o Sistema Wing chun faz isso, eu precisaria falar um pouco sobre a Aprendizagem proativa e a  relação com o desenvolvimento humano na cultura chinesa, que se dá quando o sistema é corretamente direcionado.
O processo conhecido hoje como Aprendizagem Proativa tem sido valorizado desde os primórdios da civilização chinesa, cuja cultura foi pioneira na maximização do desenvolvimento humano.
O primeiro registro escrito desse processo pode ser encontrado no capítulo denominado “Reflexão sobre o Princípio” – em chinês, Si Chi (Si Shi) - do Clássico Do Tak King (Dao De Jing / Tao Te Ching), escrito 2.500 anos atrás. Esta passagem, traduzido por Thomas Cleary, um Ph.D. em Línguas e Civilizações do Leste Asiático da Harvard University, diz o seguinte:     
Plan for what is difficult while it is easy, do what is great while it is small.
The most difficult things in the world must be done while they are still easy, the greatest things in the world must be done while they are still small.
For this reason sages never do what is great, and this is why they can achieve that greatness.
[Planeje o que é difícil, enquanto for fácil, faça o que é grande enquanto for pequeno.
As coisas mais difíceis no mundo devem ser feitas enquanto elas ainda são fáceis.
Por esta razão os sábios nunca fazem o que é grande, e esta é a razão pela qual eles podem alcançar tamanha grandeza.]

Ao longo da história da China, a Aprendizagem Proativa era considerada o processo da verdadeira maestria, conforme ilustra o conto abaixo, destacado por Cleary como o mais significativo para representar a essência da consagrada obra Sun Ji Peng Fat (Sunzi Bingfa / Sun Tzu Ping Fa), conhecida por nós como “A Arte da Guerra”:
Certa vez, um lorde da China Antiga perguntou para seu médico, um membro de uma tradicional família de médicos, quem era o mais   competente de sua arte. O médico, cuja reputação era tamanha que seu nome tornou-se sinônimo da ciência médica na China, respondeu:
 - Meu irmão-mais-velho vê o espírito da doença e elimina-o antes que ela tome forma, por isso seu nome respeitado dentro de nossa própria casa. Meu irmão logo abaixo dele cura o doente quando a doença ainda é diminuta, por isso seu nome é respeitado em toda nossa vizinhança.   Quanto a mim, faço punções, prescrevo poções e massageio a pele, por isso que meu nome é respeitado entre os lordes e admirado em toda China.
 Na Dinastia Ming (1368-1644), a Aprendizagem Proativa continuava a ser valorizada como um processo ideal de excelência, a ponto de um crítico afirmar que a compreensão da mensagem da narrativa acima seria “essencial para líderes, generais e ministros para dirigir nações e comandar exércitos”.
Minha percepção como praticante de Wing Chun a respeito da história descrita a pouco identifica o grande desafio do processo da Aprendizagem Proativa: mobilizar-nos a valorizar no presente um fator que só será importante no futuro. Por isso, o irmão-mais-velho do famoso médico, ainda que um mestre fabuloso, pois não precisava nem atuar para exercer sua profissão, só era valorizado em sua própria família. Quanto a ele, que explicitava sua prática, era sinônimo da ciência médica na China.

Por essa razão, compreendemos que nossa missão ao transmitir esta inusitada Arte Marcial Chinesa, no quesito desenvolvimento social e humano  é promover a importância deste importante processo de aprendizagem, buscando as condições  necessárias para mobilizar as pessoas a elaborar estratégias cujos objetivos estejam harmonizados com as tendências vindouras, de modo a beneficiar o desenvolvimento dos sistemas em que a humanidade está inserida.
E em se tratando de Sistemas, entra aqui o Wing Chun como Sistema e não método ou estilo. Pois o acompanharmos a manifestação de sistemas bem-sucedidos, descobriremos que um tipo diferente de criatividade se manifesta em cada fase.
A primeira fase inventa ou forma o padrão original, criando a partir da desordem um padrão ordenado.
A segunda fase aperfeiçoa de modo cumulativo e constrói a partir do padrão repetitivo; modificar e estender se torna, ao lado da rejeição do que não se enquadra, a norma.
A terceira fase rompe o padrão e integra diferenças por meio da abertura do sistema e da inovação, incorporando o novo e o diferente. Inventar, aperfeiçoar e inovar exprimem os diferentes tipos de criatividade naturais e apropriados às três fases.   
De forma que me ser indagado pelo Blog do Dido sobre a questão do desenvolvimento social, relações interpessoais e o desenvolvimento pessoal do praticante de Wing Chun, não posso deixar de citar o estudo desses padrões que fazem parte do Wing Chun e da cultura que o desenvolveu.
Para que percebamos os padrões de conectividade, manifestando os tipos de criatividade mencionados, é preciso adotar uma conduta específica para a respectiva fase. A este comportamento  chamamos de Conduta de Conectividade. Segundo Grão-mestre Moy Yat, elas são:   
·         Sau, onde a conduta de aceitar permitirá perceber os padrões de conectividade fundamentais. Sau leva-nos a um incrível caminho de descobertas, enquanto exploramos de modo divergente o nosso ambiente. Ao ignorarmos esta conduta de conectividade, corremos o perigo da resistência, comportamento que impedirá a criatividade necessária para esta fase, repleta de elaborações e invenções, onde a criação parte da aparente desordem dos padrões. Land (1990) mencionou que, na primeira fase, a orientação não é a de fazer alguma coisa certa em função de uma escolha consciente, mas de fazê-la em decorrência da obediência. Esta afirmação fez-me recordar das palavras de Grão-mestre Moy Yat (1997) que, enquanto discorria sobre este tópico, traduzia o caractere Sau como “obedecer”.
  • Pow, onde a conduta de examinar permitirá a exploração de um conjunto específico e organizado de possibilidades, sendo eliminado o que não funciona. O crescimento ocorrerá por meio da extensão da igualdade, constituindo com os outros, vínculos e laços baseados na semelhança. O âmago será a extensão de padrões de conectividade por meio da melhoria, da modificação ou da reprodução. Durante esta fase, serão estabelecidas fronteiras e regras claras, mas com ênfase na auto-expressão da personalidade individual. Agiremos por nós mesmos, assumindo responsabilidade sobre nossos atos e resolvendo situações. Nesta fase, florescerá nossas capacidades particulares. Ao ignorarmos esta conduta corremos o risco da passividade, comportamento que impedirá a criatividade necessária para esta fase.
  • Lei, onde a conduta de libertar-se permitirá o rompimento dos padrões presentes, desaparecendo os antigos limites e fronteiras. A conduta de conectividade Lei propiciará passarmos pela dinâmica da desestruturação, permitindo a entrada do que antes fora excluído, e pela experiência da abertura ao enriquecimento mútuo que vem do compartilhamento das diferenças. Será através do Lei que modificaremos nossa visão para perceber que todas as coisas se expandem ou se limitam pela maneira como se relacionam no mundo circundante. Ao ignorarmos esta conduta correremos o risco de ficarmos presos aos padrões anteriores que limita qualquer sistema.

E para ajudar mais sobre a questão de como o Gung Fu pode ser expresso e aperfeiçoado, conforme esta questão muito bem elaborada pelo Blog do Dido, que aliás diga-se de passagem, formulou questões muito inteligentes e expresso aqui minha admiração.
Portanto o aperfeiçoamento do Gung Fu se dará dentre tudo que foi explanado acima, mas utilizando um processo ou método de exercitação denominado de Saam Faat (Vida Kung Fu).
Um dos grandes desafios dos mobilizadores de desenvolvimento humano é que a Aprendizagem Proativa não pode ser ensinada, mas só aprendida.

Eu, como Tosuen de Moy Yat, estava presente e me lembro bem quando meu Sigung, nos deu uma aula bem detalhada sobre o Sam Faat e sobre os conceitos que vou colocar abaixo.
A Conduta que falamos necessita de uma série de condições para ser exercitada. Neste contexto, o Método da Emoção (Saam Faat), também conhecido por “Vida Kungfu” é o método ideal de exercitação da Aprendizagem Proativa, consagrada por mobilizadores de várias gerações, com o objetivo que promover as condições necessárias para a percepção individual dos padrões de conectividade. Baseado na Relação Mestre-Discípulo e na Relação de Irmandade, envolve conceitos como:
Pum Sam (Mente Original). É o estado puro da emoção que tudo o  sabe e aceita. Contudo, no momento em que vivencia a primeira informação após o nascimento ele começa o processo de Yip Sam.
Yip Sam (Mente Encoberta). É o processo inevitável de acúmulo de informação que culmina com a incapacidade de um processamento compatível à quantidade da mesma. Infelizmente, os chamados meios formais de Educação tem demonstrado suas limitações aos novos desafios do mundo globalizado, onde a velocidade de informação atingiu níveis inimagináveis.
Ming Sam (Mente Brilhante). É o processo de desenvolvimento do potencial de processar informações, através dos padrões de conectividade, vivenciados na Aprendizagem Proativa. A ênfase neste processo não é provermos alguém de mais informações, mas sim mobilizá-lo a desenvolver a percepção sistêmica, retornando ao estado de Pum Sam. Assim a Aprendizagem Proativa promove o resgate da supraconsciência, através da experiência significativa dentro das fases de evolução de um sistema em particular.    
Fut Sam (Mente Desperta). É o processo de retorno ao Pum Sam que ocorre através da transcendência do Ming Sam. Ainda que impossível de ser descrito, este processo já foi vivenciado anteriormente por todo ser humano. É quando o estado emocional está livre para identificar a conectividade entre cada fato de um cenário. 





Blog do Dido; O sr. poderia nos contar quais são os aspectos mais importantes do sistema wing chun enquanto arte de combate?
Provavelmente a simplicidade é um dos aspectos que considero mais importante no Sistema Wing Chun. Patriarca Leung Jan, certa vez deixou registrado o seguinte: “Passei a vida toda tentando simplificar mais o Wing Chun... e não consegui.”
Enquanto muitos tentam acrescentar coisas, pensando no que esta faltando, Leung Jan buscou a simplificação. É comum dizer que o Sistema Wing Chun tem apenas 1 soco e 1 chute e nada mais. Mas se formos analisar em termos quantitativos o Boxe Inglês é ainda mais simples que o Wing Chun!
O que quero ressaltar aqui é que o que faz o Sistema Wing Chun enquanto arte de combate, ser considerado eficaz e de boa referência no meio marcial, é a estratégia sistemática e os conceitos por trás dos Jiu Sik (técnicas especiais) tradicionais do Sistema Wing Chun. O que fica muito difícil de ser explanado aqui em texto.
O termo em Chinês, no dialeto cantonês, para referir-se a Simplicidade é Tang Son, onde Tang representa simples em quantidade, enquanto Son quer dizer puro em essência. Portanto, Tang  diz respeito a Simplicidade Quantitativa, enquanto que Son representa a Simplicidade Essencial.
A Simplicidade Quantitativa tem como idéia central “o mínimo suficiente”. Sem dúvida, a preparação da ação, neste momento, requer uma atenção especial, pois quanto mais favorável uma circunstância, o suficiente será cada vez mínimo. Assim, o mínimo poderá variar conforme cada situação, devendo a percepção sistêmica determinar o quanto será suficiente.
A Simplicidade Essencial está ligado com a “pureza”. O puro está ligado com o total, a plenitude, onde a intensidade máxima para cada situação deverá, a exemplo da Simplicidade Quantitativa, ser determinada pela percepção sistêmica. A pureza máxima que não seja em quantidade mínima não resultará num todo equilibrado, impedindo assim sua unidade.
O Princípio da Simplicidade é consagrado pelo desprendimento quantitativo mínimo e qualitativo máximo dos fatores de monitoramento (posicionamento, distância, timing e energia) para alcançar, com a mais pura clareza,  um objetivo específico, a partir de uma determinada condição.
Assim a expressão do Wing Chun está em apenas 1 soco ou 1 chute simbolicamente, pois todos os conteúdos do Sistema levam o praticante a encontrar em combate a eficácia em usar o mínimo de recursos, que sejam eles apenas 1 soco, então que esse soco seja explorado ao máximo em termos de:
Wai Jih - Posicionamento
Koi Lei - Distância
See Kan - Timing
Lek Do – energia

Quando vemos praticantes de Wing Chun em condições deploráveis e desvantajosas em combate, comumente vistos na Internet, não culpo o Sistema Wing Chun por isso, pois o Sistema é perfeito em si mesmo, a imperfeição está no homem e na metodologia de transmissão que se usa para transmitir o Sistema Wing Chun enquanto Arte de Combate, enquanto se apresenta uma situação de competição, MMA , Vale Tudo ou seja lá qual for as terminologias modernas dos esportes de combate.
Porém é bom lembrar que existe uma diferença entre ARTE DE COMBATE( Artista Marcial)
e ESPORTE DE COMBATE (Atleta Marcial).

Qual deles estamos nos referindo? Qual deles praticamos?, ou melhor para qual deles direcionamos nosso Wing Chun?

Pois um é COMBATE SIMBÓLICO e o outro é COMBATE REAL (Vida ou morte envolvidos).

Wing Chun foi concebido na origem para o Combate real, assim como muitas artes guerreiras do oriente, porém atualmente direcionado para o Esporte Marcial, necessita de ajustes em um treinamento apropriado de condicionamento físico esportivo e ajustado as regras da competição.

O Wing Chun é simples e eficaz, a diferença está no atleta e o seu preparo, ele definirá a eficácia ou não da luta.


Blog do Dido:  Conte-nos um pouco sobre seu trabalho de ensino á distância. Como ele se dá? Como as pessoas podem ter acesso e o que elas podem esperar?




S M) Nosso trabalho de EAD – Ensino a Distância de nossa Arte, começou da necessidade e da solicitação dos próprios membros, de um material, preferencialmente em Vídeo, mas também contendo textos esclarecedores e informativos , não somente os conceitos e cultura da arte do Wing Chun, mas também de um material em vídeo que pudesse relembrá-los dos detalhes ora praticados e estudados nas Sessões Presenciais, seguindo a Listagem Integral do Sistema Wing Chun, tal qual meu Sigung recebeu em alto grau de seu Sifu, Ip Man.

Atualmente, o aprendizado se dá de forma simples, onde o estudante realiza seu cadastro online e adquire os ebooks, de preferencia seguindo a ordem sistemática sugerida, e sendo ele incentivado a ter um amigo, parente ou parceiro que possa seguir as lições contidas nos ebooks.  Os ebooks seguem um formato de DWB – Digital Web Book de ultima geração, com registro feito em nome e CPF do aluno e Digitalmente Registrado e Ativação pela nossa Central de Ativação Online nos USA, que fornece uma chave de ativação e Certificado Digital para Instalação na Máquina do aluno (Ambiente Windows apenas).

Estamos em breve inaugurando além dos eBooks, as WEB AULAS www.wingchun.com.br/aulas-on-line-de-wing-chun , onde o aluno que já estuda nos eBooks (Offline) os detalhes, poderá ter acesso a 1 Aula por semana em tempo real comigo, tirando dúvidas e esclarecendo pontos importantes através de um Sistema de Videoconferência dos mais atuais do mercado. O Aluno necessita apenas de um PC com banda larga e webcam.

O acesso ao aprendizado requer um Cadastro em nossa Loja Online e no Portal Nacional do Wing Chun nos endereços: www.cursodekungfu.com.br e www.wingchun.com.br

O Aluno poderá optar em adquirir os ebooks um por vez à medida que tem disponibilidade, ou se tornando um Membro Mensalista, onde ao pagar um Mensalidade via Boleto bancário, enviado mensalmente para seu endereço físico e digital(e-mail). Desta forma o aluno receberá todos os meses 1 ebook para seus estudos continuados e terá gratuitamente Sessões Presenciais em nossa Sede da Moy Ka Wing Chun em Niterói RJ em uma visita previamente agendada.

Sobre o que se pode esperar dessa forma de aprendizado, é quase tudo menos, esperar se formar com um Profissional Qualificado, Se tornar um Instrutor ou Mestre como se tem visto por ai. Por exemplo, já há alguns anos temos escolas no Estado da Bahia que oferece a venda de uma pilha de DVD e juntamente com eles, o certificado de Instrutor, num pacote só, e para nossa surpresa, esses Certificados possuem em torno de 4 assinaturas de supostos Mestres e cada um deles com o meu Carimbo Pessoal feito pelas mãos de meu Sigung Moy Yat, além do símbolo da Associação ter no centro também o meu Carimbo. Lamentável, pois que o fez não conhece a língua chinesa e sequer os rudimentos básicos de um Mun Pai e passam a enganar e ludibriar muitos brasileiros

Desta forma, nosso objetivo não é graduar ou formar ninguém via eBooks (à distância) e sim SUPLEMENTAR o conhecimento daqueles que assim desejam e que acham que minha experiência pode agregar algo mais e colaborar com a disseminação do Sistema Wing Chun dentro dos patamares que meu Sigung, discípulo direto de Ip Man Chung Si, recebeu.



Blog do Dido; Qual a importância do ensino tradicional do sistema wing chun nos dias atuais? Mesmo com tantos recursos facilitadores como a internet, o senhor acredita que o ensino tradicional ainda é a melhor via de aprendizado? 


S M) Certamente que o ensino tradicional ainda é e sempre será a melhor via de aprendizado, pois somos partidários da experiência significativa provida pelo que chamamos de SAAM FAAT (Kung Fu Life) tão propalado por nosso mentor, Grão-mestre Moy Yat e segundo ele, 95% de todo o aprendizado vem do Saam Faat e apenas 5% vem da Técnica, ou seja do treinamento dos conteúdos tradicionais do Wing Chun.

Vemos hoje pessoas muito imaturas com o entendimento do Sistema Wing Chun, justamente porque não tiveram esses 95% e sim apenas 5% providos pela técnica.

O grande problema que vejo hoje com esses recursos facilitadores da grande rede digital é que (e não é culpa da internet) os internautas acabam por captarem uma enormidade de diferentes ramificações e interpretações do Sistema Wing Chun, ainda que precocemente, montando assim um WING CHUN FRANKENSTEIN ou o moderno prometeu.

É preciso primeiro ter pelo menos a vivência plena do Saam Cheung com um Sifu qualificado, sem ficar “pulando de galho em galho” até ter as condições mínimas para se alcançar a fase do chamamos em chinês de “Pow” conforme falamos lá acima na terceira questão, que o levará e o ajudará no rompimento dos padrões presentes e que denominamos em chinês de  “Lei

Conforme reportei anteriormente, o EAD no Wing Chun é apenas uma Suplemento, uma vitamina extra, excelente para aqueles que já estão estudando o Sistema Wing Chun de forma tradicional e nada mais.




Blog do Dido;  Como o senhor enxerga, de maneira geral, a transmissão do sistema wing chun em nosso país e o senhor vê com bons olhos a nova geração de praticantes e SiFus que está por vir? Acredita que o sistema possa estar salvaguardado para as futuras gerações?

Por um lado estou otimista, pois vejo um crescimento do Wing Chun no Brasil , talvez atrelado ao empurrão que os filmes com Donnie Yen e outros estão proporcionando, mas preocupado com a Saúde do Wing Chun, pois o crescimento tem de ser também qualitativo.

Grão-Mestre Moy Yat certa vez escreveu:
Mo Hai Tong Gei Kungfu, Ng Soon Kungfu
Kau Hai Tong Gei Kungfu, Hai Yai Kungfu
[Kungfu sem Sistema não é Kungfu,
Kung Fu que depende de um Sistema não é bom Kung Fu]

Assim, consideramos um bom sistema aquele que conduz o praticante a alcançar seu poder pessoal num espaço mínimo de tempo.
O termo em Chinês, no dialeto cantonês, para referir-se a Simplicidade é Tang Son, onde Tang representa simples em quantidade, enquanto Son quer dizer puro em essência. Portanto, Tang  diz respeito a Simplicidade Quantitativa, enquanto que Son representa a Simplicidade Essencial.
A Simplicidade Quantitativa tem como idéia central “o mínimo suficiente”. Sem dúvida, a preparação da ação, neste momento, requer uma atenção especial, pois quanto mais favorável uma circunstância, o suficiente será cada vez mínimo. Assim, o mínimo poderá variar conforme cada situação, devendo a percepção sistêmica determinar o quanto será suficiente.
A Simplicidade Essencial está ligada com a “pureza”. O puro está ligado com o total, a plenitude, onde a intensidade máxima para cada situação deverá, a exemplo da Simplicidade Quantitativa, ser determinada pela percepção sistêmica. A pureza máxima que não seja em quantidade mínima não resultará num todo equilibrado, impedindo assim sua unidade.
Assim vejo a dificuldade de muitos em compreender esse processo e temos pelo futuro do Wing Chun, caso não haja em cada Wing Chun Gaa (Famílias e escolas) um plano ou programa de Preservação do mesmo.
Por isso, dou muito valor ao trabalho de meu Sifu, Moy Yat Sang e de meu falecido Sigung, Moy Yat pela preocupação com a preservação deste legado, que foi conquistado com muito esforço e dedicação, suor e lágrimas desde o tempo de Moy Yat com Ip Man e de Leo Imamura com Moy Yat e assim sucessivamente.
Moy Yat sempre declarou a sua preocupação com isso, e um pouco antes de falecer deixou essa incumbência para o Clã Moy Yat.
Moy Yat Ving Tsun é a denominação utilizada por Grão-mestre Moy Yat como compromisso pessoal de excelência na preservação do Sistema Wing Chun, caracterizada pela expressão pura, formação completa e estruturação integral.
Precisamos sim que cada Sifu, suas famílias e Clãs possam fazer sua parte na preservação deste legado cultural chinês e que o Wing Chun não é apenas mais uma “Lutinha” e nem que seja preciso provar sua eficácia em nenhum MMA ou competição qualquer.

Blog do Dido: Gostaria de agradecer imensamente pela atenção e gostaria que o sr. deixasse uma mensagem para os nossos amigos leitores, bem como seus
contatos, para quem quiser procurá-lo.


S M) Eu que agradeço essa oportunidade de participar do Blog do Dido, que já é uma referência do Wing Chun no Brasil
Desejo que cada praticante de Wing Chun seja capaz de provar sua capacidade de Lutar a “Luta do dia a dia” para que possamos enfatizar e Preservar a expressão pura, a formação completa e a estruturação integral do Sistema Wing Chun, a fim de promover a importância da Inteligência Marcial no desenvolvimento dos sistemas em que a humanidade está inserida.
Estou sempre aberto a questões e a quem deseje maiores informações
Em nosso Portal Nacional do Wing Chun poderão encontrar diversas maneiras de contato diretamente comigo: www.wingchun.com.br

E meu Muito Obrigado ao Blog do Dido.


Um comentário:

  1. Muito boa essa entrevista com Sifu Monnerat, que, realmente, entende do assunto. Parabéns ao blog do Dido por ajudar na divulgação da arte.

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