- ''E quando há uma oportunidade, eu não o atinjo, o golpe acontece por sí só.''

( A medida em que Ben cresce, o interesse dele por Wing Chun vai crescendo aos pouquinhos, aqui ele brinca no Muk Yan Jong, reformado após uma chuva terrível ocorrida ano passado)

 Durante nossos treinos regulares, por vezes, nós fazemos algo que dificilmente você encontra em uma escola comum de artes marciais. Normalmente, em uma escola onde você por vezes tem horários rígidos a cumprir ou é uma classe tão cheia que você simplesmente ''segue o fluxo'' e vai praticando aquilo que o seu professor ,ou SiFu, ou ShiFu, ou mesmo o instrutor assistente lhe passou como ''exercício do dia'', raras são as chances de você simplesmente parar e analisar , tanto teoricamente, quanto na prática, um determinado conceito ou uma determinada ideia, por trás de alguma movimentação, ou mesmo a própria movimentação em sí.

( Chicão e eu praticando Chi Sau e pensando sobre a técnica Bo Jun Da, bastante conhecida no sistema Wing Chun - O que gerou até uma pequena enquete no facebook)

Por termos uma turma pequena, temos essa oportunidade; refletir calmamente sobre o método, sobre a prática, sobre os conceitos envolvidos e por fim, sobre os movimentos utilizados naquele exercício do dia.  Achar, através da análise, onde está a ''liga'' entre o conceito original, baseado na forma, e seus desdobramentos técnicos em cima do que está sendo praticado é de grande importância.

Na verdade, o tentar achar essa ''liga'', pensar no que está sendo praticado, como , onde e porque não fazer determinados movimentos dentro de determinadas situações, e pensar em condições adequadas para cada situação é um exercício de pensar o sistema, baseado no próprio sistema, sem fantasiar demais e sem fugir das ideias que o sistema te ensina desde o comecinho, não é em absoluto, colocar as SUAS idéias adicionadas aos conceitos. Longe disso, você precisa ser perspicaz e observar tudo com calma - o que, como citado acima , por vezes não dá tempo de ocorrer - e praticar. 

Isto por vezes é extremamente negligenciado, mas principalmente mal interpretado. Com o passar do tempo muita gente acaba entrando numa viagem de que , uma vez que se entenda o sistema, agora poderá ''fazer o que quiser, como se quer'' e até ''misturar'' com outras coisas E é ai que mora o perigo. No fundo, isto parte de arrogância e uma soberba ( - ''Oras já que sou mestre e domino isto, farei como eu quero'', talvez seja a forma de pensar, divago aqui....).

Mas como pensamos aqui numa das sessões; - ''pensar o sistema é uma coisa, interpretar o sistema é outra e ainda ,  praticar o sistema  é outra coisa completamente diferente.'' Leva muito tempo e talvez, não haja tempo o suficiente para explorarmos tantas possibilidades, mas sim, praticar e desenvolver características que se sobressaiam.

Entender o sistema Wing Chun não é complexo. O mais complexo é praticá-lo e criar as condições necessárias para a tal prática, para que o resultado que você quer, possa ser alcançado. Criar a oportunidade para que o golpe, aconteça por sí só, vem de preparação e antecipação. O golpe deve acontecer por sí só, pois forçar o golpe, só gera desperdício e pode não ser estrategicamente viável.

Dido

Discipulo particular do SiFu Marcos Abreu