terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Demonstração de Wing Chun no ano novo chinês de Recife - Uma história sobre vestimentas - parte um

 



Quem me conhece sabe que não sou muito adepto á festejos. O que é um grande contraste para quem trabalha com uma banda de rock. Só que, para que esta dualidade não se choque com minhas atividades, eu costumo dividir o ''Dido profissional'' do ''Dido pessoal''. Então posso estar fazendo um show incrível e uma festa espetacular com minha banda, pra mim, será profissão e eu não tenho de me divertir, necessariamente, embora, na maioria das vezes até seja divertido. Então nesse sentido e a depender de mim, não costumo nem comemorar muito...Nem mesmo meu próprio aniversário. As exceções nesse caso são para aniversários de esposa , filho e pais.


Você poderia então considerar que eu não sou muito ''sociavel'' digamos assim. Ou pelo menos não me considero muito. Datas comemorativas passam em brancas núvens ás vezes e realmente não sou ligado muito nisso.




( Chicão,meu discípulo, eu e meu ex aluno e amigo professor Laércio, que estava representando seu SiFu de Hung Gar, Augusto Pereira,também ex aluno de nossa escola e que por motivo de saúde não pôde comparecer, amigos de longa data se reencontrando)


Porém, para minha grande surpresa, meu queridissimo amigo SiFu Augusto Pereira me convidou para as celebrações da ano novo chinês da comunidade marcial de Recife, organizado por ele.Obviamente aceitei de pronto....Só que logo após, o convite se estendeu para uma participação, demonstrando nossa arte marcial, interagindo de maneira mais efetiva com todos os convidados.Estiveram presentes escolas de Tai Chi, Pai Hok Phai, `Praying Mantis, Hung Kuen e Wing Chun.


Ao aceitar, pedi apenas que nossa apresentação durasse somente 10 minutos, tempo o suficiente para mostrarmos nossa técnica e fazer preâmbulos sobre nossa linhagem, metodologia e nosso local de treino, sem fazer com que fosse algo enfadonho nem tampouco algo apressado. E assim o foi.



( Durante a nossa apresentação, otimizamos o nosso tempo pois, enquanto eu ia explicando de maneira resumida a primeira forma e como extraímos a técnica de luta advindo dela, Chicão a demonstrava)

Cheguei ao local - a famosa praça Dona Lindu, situada em Boa viagem, em frente ao mar - com alguns poucos minutos de atrasos devido ao trânsito de Recife...Por mais que se tente, aqui o trânsito é imprevisível, mesmo para um sábado de manhã. O evento ocorreu na verdade com uma semana após as comemorações de ano novo chinês oficial, devido a agenda das escolas envolvidas. Mas antes de falar do evento em sí, faço uma pequena pausa para um parêntese interessante...


Uma história sobre vestimentas e Kung Fu


( Chicão demonstrando Siu Lin Tau - primeira vez dele demonstrando em público suas habilidades)


Na semana que antecedeu o evento, eu fazia os avisos para o Chicão, membro mais ativo de nossa família. A certa altura, ele questionou-me mais ou menos assim;

- ''Dido, iremos levar algum equipamento?'

- ''Não, nenhum..''

- ''Ah, beleza. Iremos com a farda da escola, certo?'

- ''Também não. Vá com uma roupa comum, do dia a dia mesmo...Eu mesmo vou com uma roupa social esportiva comum...''

- ''Como assim?''

- ''Você vai entender....''


Então no dia marcado, ao chegar no local do evento, todas as escolas e todas as pessoas que iriam fazer apresentações estavam, todas, sem exceção, vestidas com o tradicional Tong Jong chinês ( para saber mais sobre Tong Jong, recomendo o Blog do mestre Thiago Pereira ; moyfatlei.blogspot.com ) - naquele modelo da china continental ,apropriado para a prática do Tai Chi - ou com unformes de treino , com camisas das escolas, calças de brim, etc...



                 ( Apresentação da forma do Leque de Tai Chi - movimentos suaves e muito bonitos )


Chicão chegou primeiro e 20 minutos depois eu cheguei....passamos totalmente incólumes, ao passo que interagíamos com as pessoas do local. os alunos e outras pessoas das escolas se mostraram muito receptivas e até certo ponto, achandop que não éramos praticantes. Somente ao ser recepcionado pelo prof. Laércio, ele em seguida foi me apresentar ao Chairman da festividade, que estava a substituir o SiFu Augusto, o prof. Renan do Prying Mantis.


- ''Ah, você que é o Dido?''

Depois de olhar de cima a baixo, estranhando a vestimenta ( Camisa social, calça jeans, tenis e uma bolsa de fotógrafo cruzando o tronco)

- ''Sim sim,sou eu,  tudo bem meu querido?''

- ''Er..você vai se apresentar assim mesmo?''

- '' Sim sim, não se preocupe....(risos)''

E a conversa seguiu sobre o cronograma e os preparativos de forma bem natural.

A certa altura , a esposa de Chicão, que o acompanhou nesta sua primeira demonstração pública, fez um comentário bastante interessante:


- ''Ninguém diria que vocês são lutadores. Estão parecendo turistas conhecendo uma cidade nova...''


O Kung Fu de maneira geral trabalha uma ideia onde os efeitos sejam visualizados por todos, mas a sua autoria não seja reivindicada por seu autor. Quando chegamos ao centro do espaço e começamos a falar com propriedade sobre arte marcial chinesa, muita gente se surpreendeu. Dava pra ver uma parte do público se questionava, como quem quisessem perguntar; - ''Como eles vão se mover se não estão sequer fardados?'' já que, numa apresentação anterior, de uma outra escola, ao executarem uma forma, a música tradicional que acompanhava e fazia ''o clima'', parou. Ao passo que uma das pessoas falava em voz alta; - ''Sem a música, não conseguiremos executar!''




( Façamos um exercício de imaginação; Imagine-se em Fatsan na década de 50...você poderia dizer que esta é uma formação de batalha?)

Num trecho de um de meus filmes favoritos ( e que me lembrei enquanto escrevia este artigo....), The Grandmasters - de Wong Kai War - há uma cena em que o Mestre Gong Yutian ( Wong Quing Xiang ) leva sua filha Gong Er ( Zhang Ziyi) a um bordel chamado ''O pavilhão de Ouro''. Esse bordel na verdade era onde poderiam ser encontrados, mas sem chamar a atenção, mestres, espiões, agentes duplos, etc. mas apenas se alguém já os conhecesse....


- ''Papai....Porque o senhor me trouxe aqui?A um Bordel?''

Questiona Gong Er


- ''Só porque você não consegue enxergar uma coisa, significa que essa coisa não existe?''



               ( Demonstrando como a ideia de cobrir espaços e se antecipar pode ser trabalhada no Chi Sau)


Então demonstramos alguns exercícios de combate e Chi Sau de forma mais livre. Nos drills, com defesas contra chutes e variações de follow up's, ficava claro o espanto de quem estava assistindo. Mesmo os professores mais experientes. Realmente, não esperavam por aquilo e era precisamente isso! O efeito esperado foi alcançado com êxito.

Durante as interações com as escolas, durante as conversas,entre risos e novas amizades sendo feitas , percebi que Chicão foi entendendo os porquês dessa minha escolha em não levar absolutamente nada que nos caracterizasse como lutadores. Não somos como o Super Homem que usa seu suit apenas quando precisa atuar como Super Homem. Aliás, o Super Man, mesmo quando estando com roupas de Clark Kent, ás vezes e muito discretamente, usava um pouco do seu ''super sopro'', ou da sua ''visão de raios X'', atendento o que pedia cada situação, sem chamar a atenção de ninguém....rs  

 Wing Chun, Tai Chi, Hung Gar, você pode praticar com qualquer roupa, a qualquer hora, qualquer local e utilizar para a sua prática não somente o gestual combativo, mas saber onde e quando você deve aparecer e isto requer Kung Fu.

Na verdade, não é errado usar vestimenta chinesa, inclusive para o senso estético ás vezes é bacana e causa efeitos visuais bastante interessantes para determinadas ocasiões. Porém, para a lógica chinesa, muitas vezes não se trata de certo ou errado, mas do mais ou menos apropriado para cada situação e muito do que se quer dizer também está relacionado a sua forma de se apresentar. 

Talvez ai valeria a pena estarmos com o nosso uniforme diário de treino, mas as vezes, não é necessariamente o caso. O que foi transmitido com a nossa apresentação é que, qualquer pessoa, pode e deve, desenvolver seu Kung Fu, seja ele no trato pessoal, seja no combate propriamente dito, mas, sem chamar a atenção para sí, pois o legado marcial deve e vai continuar, independentemente de quem o carrega. Nosso compromisso, é o de espalhar o legado.


P.S.

Levou-me quase 10 anos para que eu compreendesse isso.


Dido

Discípulo particular do SiFu Marcos Abreu


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Unboxing Pa Chan To parte 2


Olá pessoal,

Para a parte dois deste artigo, achei que seria bacana fazer um vídeo,curto, mas mostrando um pouco as facas que recebi de presente.



Espero que aproveitem



Contatos com o vendedor, acesse:

GF Fundição

Rua Cell Benjamin Antônio Camargos, 321, industrial - Contagem - Minas Gerais




Dido

Discípulo particular do SiFu Marcos Abreu





 

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Unboxing: Baat Jam Do ( Pa Chan Tou) Parte 1

 Olá pessoal,


Hoje faremos uma postagem sobre um presente que recebi de minha esposa neste mês de janeiro; Um par de facas duplas!!

Mas antes, permitam-me fazer uma pontuação;

Sim, apesar do tanto de assuntos relacionados a minha banda de rock, ao meu trabalho regular e ao cuidado com minha família, ainda assim, intensifiquei meus treinamentos neste começo de ano para que quando voltar a salvador ( que ainda não sei exatamente as datas para tal), esteja mais treinado e afiado que antes, se é que pegaram a referência, rsrs.

 Muita gente tem até me perguntado até se desisti do Wing Chun, incluindo ai o SiFu, rsrs. Mas na verdade não é isso; Estou num processo - já de muitos anos - que visa  não publicar mais nada, ou pouquissimo conteúdo sobre meu próprio treinamento regular, sobre artes marciais em geral e assuntos relacionados, apenas por querer simplesmente ter um pouco mais de discrição e privacidade neste assunto. Isto já foi posto aqui várias e várias vezes...

 Muita gente ja sabe que Wing Chun faz parte de minha vida, que é parte de quem eu sou e parte do que me faz ser quem sou, portanto, não preciso mais ficar alardeando nada pra niguém. Some a isso o fato de que todas as minhas atividades cotidianas e profissionais tomam um tempo absurdo....Basta observar o lastro de tempo entre as postagens aqui mesmo no Blog...


( Praticando em plena manhã de Natal, enquanto todos estavam ressacados...)


Enfim, de toda sorte, enquanto as atividades com as aulas regulares estão ainda suspensas ''de férias'', eu não parei; Treinei e venho treinando exatamente do mesmo jeito que antes; em todo o tempo que posso e em todo horário que me é permitido. Fora meus treinamentos regulares diários e trabalho com pesos, corridas diárias no parque da jaqueira, etc etc....


E o quão surpreso fiquei quando, de repente, tive esse presente que eu não esperava, chegando em casa? Obvio que fiquei super feliz com isso e tanto é, que decidi fazer o unboxing com vocês e falar um pouco sobre esta ferramenta.


Bem, mas vamos deixar de delongas e vamos para o que interessa;


Baat Jam Do - Pa Cham To - Double Knives, Butterfly Swords



As facas foram enviadas pelos correios e chegaram poucos dias antes do previsto. Achei bem bom isso. Embora tenha tido algum problema com a entrega em si,ao que me consta, mas ainda dentro do prazo, foram entregues.


( as Baat jam Do, Pa Cham To, ainda embaladas e a minha faca estratégica ja pronta para abrir o pacote)



Enfim, a primeira coisa que eu notei foi...a embalagem. As facas foram bem embaladas e não sofreram nenhum dano na viagem de Minas Gerais até Recife, embora - e isto não é uma reclamação, apenas uma observação - elas poderiam ter vindo igualmente embaladas e em caixa , o que garantiria ainda mais a segurança.



Ao abrir, elas estavam justapostas e observei o trabalho manufaturado de sua fabricação. Os lados iguais e proporcionais, não havendo muita diferença de uma para outra. Em alguns casos, é comum que as facas sejam trabalhadas apenas em um lado delas, para dar a ideia de que eram apenas uma única faca e que foram ''cortadas ao meio''. Não é este o caso e isso, na minha opinião, foi bem melhor, já que se eu quiser praticar apenas com uma delas ( Dan Dao, ou Dan Do), não haveriam maiores problemas.    

                                                      (As Baat Jam Do ainda embaladas)


Logo após a abertura do pacote, fui sentir o peso e a empunhadura. Achei a princípio bem mais pesada que o de costume ( já havia sentido o peso e empunhadura de outras Pa Cham Tou antes e essa achei particularmente pesada num primeiro momento), mas por se tratar de uma única peça em alumínio maciço, natural que fossem assim.

                                                    ( As Pa Cham To, já desembaladas)


A guarda em D , pra mim que sou um cara de mãos grandes , achei um pouco justa, podendo ter uma abertura somente um pouco maior. Ainda assim,a empunhadura é bem confortável e talvez a única coisa que eu realmente poderia melhorar, seria o gancho...


( Prontas para o uso)

O gancho poderia não ter tanta inclinação para baixo em sua base, e ser um pouquinho mais espaçado em relação á lâmina, uma vez que caso seja usado contra alguma outra lâmina, a distância de segurança pode não proteger bem. Entao eu,aumentaria somente um pouco mais o raio e a inclinação em relação ás costas da lâmina.  Eu particularmente não gosto de executar o Flip ( pegada invertida), e senti que ficou justo demais nas minhas mãos, mas nada que comprometa.

Ainda sobre a pegada invertida, a lâmina , que é mais voltada para perfurar do que fatiar ( o tamanho da curvatura da parte superior até a ponta lâmina neste caso,apontam isso), faz uma boa proteção no antebraço, devido a distância da lâmina em relação ao ataque que pode vir de alguma outra arma. Mas, como ela não foi feita sob medida, para mim, ainda deixa um pouco os cotovelos expostos - o preço que se paga por ser grande é isso...rs.


Depois que você sente a arma e consegue explorar as potencialidades dela, fica mais claro a maneira como poderá ser utilizada. O corte tem boa precisão e estabilidade, facilitando  os ataques. Elas são bem bonitas, com um design que remete aos modelos tradicionais da família Moy Yat e por serem uma peça única, o acabamento ficou muito bem feito.

Este modelo vem sem fio na lâmina, mas, todo cuidado é pouco, uma vez que com a técnica apropriada e com velocidade, pode sim cortar. a perfuração dela também é muito acima da média em termos gerais.

Enfim, este par de facas é sim uma boa aquisição para quem busca um modelo que vise mais o ataque, que tenha um formato mais tradicional e com preço acessível.


Contatos com o vendedor, acesse:

GF Fundição

Rua Cell Benjamin Antônio Camargos, 321, industrial - Contagem - Minas Gerais




Dido

Discípulo particular do SiFu Marcos Abreu