Quem acompanhou o fantástico artigo de SiFu sobre o porquê do wing chun não ter resultados expressivos em ambientes competitivos ( http://appliedwingchunsalvador.blogspot.com.br/2013/03/por-que-o-wing-chun-nao-tem-resultados.html ), pôde perceber o quanto de respostas simples podemos empregar em nosso jogo de luta e o quanto existem possibilidades no wing chun. E nessa matéria em específico, SiFu esmiúça uma técnica muito particular de nossa ramificação, mas extremamente útil e que pode servir de alternativa para contra-ataques contra movimentos simples do nosso oponente.Se o amigo leitor não ler a matéria de SiFu antes, muito provavelmente terá dúvidas ao ler este artigo, por isso, relaxe, abra lá o link e leia com calma...ai daqui a pouco, você volta aqui de novo...(risos)
Uma das primeiras coisas á se notar em nossa escola, é que apesar de usarmos um posicionamento muitas vezes de frente pro oponente, esse posicionamento frontal - na maioria das escolas é em yee jii kim yeung mah - em luta solta, não é prioritária. Ou seja, na nossa escola, muitas vezes usamos um posicionamento com o corpo de lado (foto 1).
Interessante que Sitaaigung Duncan Leung em um de seus DVD's , deixa bem claro que sim, a guarda tradicional, conhecida como Yee Jii Kim Yeung Mah - Jong Sao, em nossa escola também é usada, mas que luta é uma ''linguagem corporal'' e que postura de guarda depende em muito dessa ''leitura'' corporal.Se o oponente for bom em atacar somente de um lado, você já fecha o espaço nesse lado na postura, ou em outras vezes, deixa uma área exposta propositalmente, para fazer ele atacar onde você quer que ele ataque, para aí, pegá-lo.
(foto 1)
Uma das técnicas vistas ainda em Siu Lin Tao e que é justamente a técnica vista no link para o blog de SiFu que eu citei acima e tem por característica implícita o ato de cobrir, ao invés de bloquear se chama Gip Sao (foto 2).
Gip Sao. Gip (receber ou catar) Sao (ref. aos membros superiores) é uma técnica que ''fecha'' o espaço em duas alturas , uma alta e outra baixa, junto com um recuo de corpo, muito parecido com o recuo do ''joão bobo'', ou a esquiva simples do boxe (vide mesma matéria de SiFu). Essa 'esquiva' é o que vai realmente garantir que o defensor não seja atingido, sendo os movimentos de mãos , um complemento , ocupando o espaço onde provavelmente o golpe poderá passar. Digo poderá, pois, em suma, eu não sei em qual altura o meu oponente pode vir a socar, sendo assim, se eu parar para VER onde o golpe vai vir, eu terei de ver em qual flanco o ataque virá, com qual mão virá, selecionar o movimento defensivo,pra só depois fazer o bloqueio. Isso demanda um tempo extremamente grande em relação ao movimento do oponente até que eu coloque o meu movimento escolhido em ação. Muito provavelmente , se eu assim o fizer, serei atingido,ou , na melhor das hipóteses, me parecerei com o NEO da saga matrix...tentando ver onde vem os tiros e só então me esquivar deles, erro crasso na maioria das vezes....
Ao usar Gip Sao, como a mão fronteiriça irá cobrir uma área que vai da boca do estômago para baixo, enquanto a outra mão vai ''fechar'' a área do rosto, não vai importar muito com qual mão o oponente virá atacar, ou em qual altura. Independentemente de como ele vier, eu decido realizar a técnica, faço a cobertura e durante o trajeto ''de volta'' do punho do oponente, terei os segundos necessários, para pegá-lo pelo contra-pé, do seu movimento.Dessa forma, fica evidente que bloquear vai te deixar sempre um passo atrás do seu oponente.
(foto 2)
Nesta foto, pode-se notar o uso de um chute. Esse chute, que muitas vezes visa a região coxo-femoral, canela ou mesmo a boca do estômago é conhecido em nossa escola como Tiu Gerk. Tiu (levantar) extrai sua força, assim como a maioria dos movimentos no sistema wing chun, do conceito de forças em direções opostas. Nesse caso em específico,o forte apoio da perna que fica no chão permitirá um movimento mais ''sustentável'' e a inclinação do corpo para trás ao máximo que se pode fazer, vai fazer o apoio e dar a energia necessária para que a perna fronteiriça, suba. Mais ou menos como o movimento de uma pá,quando cavamos no chão.Quando o apoio da pá é abaixado, sua lâmina levanta a terra. Da mesma forma, quanto mais eu inclino meu corpo para trás e para baixo, mais a perna da frente sobe com força. Esse chute quando bem encaixado é extremamente incômodo de se treinar. Meu Si-Hing João Gilberto, que me ajudou nos treinamentos em Dezembro passado, faz essa técnica extremamente bem e posso dizer que minha canela, mesmo com três caneleiras, deu uma sofrida....
Na ''volta'' do meu oponente e na saída do meu primeiro movimento para o próximo , o ataque segue em combinação com Din Choy (foto 3, ver matéria recente sobre ele aqui mesmo no blog). Nesta foto, como eu já estava saindo do posicionamento, o braço que lança o soco aparece um pouco flexionado, mas Din Choy é desferido com o braço totalmente esticado, lateralizando o corpo, e extraindo - mais uma vez - a energia de giro e forças em direções opostas ao usar o cotovelo da mão traseira em forma de arco, ''puxando-o'' para trás. Din choy é um soco extremamente pesado, justamente pelo emprego do giro, fazendo com que o peso repouse quase que totalmente na perna dianteira, note que meu pé traseiro apenas toca levemente no chão.
(foto 3)
Para meu próximo movimento, continua-se a aproveitar os giros corporais para potencializar os ataques. Mas, apesar de que luta não é matemática pura, muitas vezes o praticante não poderá cobrir-se e contra-atacar ao mesmo tempo,e em vários momentos, você terá o tempo necessário apenas para cobrir-se. Como no nosso caso, a idéia é sempre nos mantermos cobertos, ao usar o giro para executar Dang Gerk ( talvez o mais conhecido chute frontal em várias artes marciais), eu executo antes Kwan Sao (foto 4). Nesse intervalo mínimo de tempo de um ataque para o outro, eu faço a cobertura, para que caso algo ''dê errado'', eu possa estar protegido. Não necessariamente um Kwan Sao (Tan Sao somado a Bong Sao), mas eu simplesmente posso puxar a mão traseira para frente, sem desnivelar a cabeça, para não ''telegrafar'' o movimento , como SiFu faz na foto 5.
(foto 4)
(foto 5 ,abaixo, SiFu executando esse mesmo chute,mas em outra sequência)
Dang Gerk é um chute frontal muito básico em vários estilos de artes marciais. Em nosso ramo de wing chun,o executamos esticando ao máximo a perna de apoio,(que não foi captado na minha foto abaixo) e lateralizando o corpo ou com algum tipo de cobertura simultânea, seja Kwan Sao, ou posicionando as mãos de forma a ''fechar'' o espaço, como na foto de SiFu acima. No caso da foto 6, não foi captado o ''momentum'' onde o ataque é feito, mas os poucos segundos depois, na ''queda'' da perna. O pé de apoio fica ligeiramente voltado para a lateral, dando o máximo de apoio ao corpo e o tronco é ''jogado'' para trás, concomitantemente ao ataque. Com a mesma força que se usa para arrombar uma porta. A altura do Dang Gerk pode variar, mas o que importa mais - relativamente falando - é como é feita a ''soltura'' da energia.
(foto 6)
Bem gente é isso, espero que tenham curtido e na próxima postagem ,mais novidades vindo por ai.
Gostaria de dedicar esse post de hoje aos meus parceiros de treino, Augusto Pereira, Ernani , Ialley Lopes e Elijah Junno e meus irmãos kung Fu pelo Brasil, Fernando Lempê, Kallil, Ricardo, Victor, João Gilberto,Lucas Nirkki, Lucas Mogg Master, Wesley, Pedro Moraes e também á SiFu pelo zelo e dedicação.