sábado, 28 de dezembro de 2013

Meu retorno á Salvador - parte 1, prévia...

(Eu no terceiro dia de treinamento em salvador)



Depois de um longo tempo sem postar nada aqui, hoje, faremos a última postagem do ano de 2013, dividia em três partes, narrando meu retorno á salvador para dar continuidade ao meu treinamento como discípulo particular de SiFu Marcos Abreu, por ocasião de meu acesso formal ao segundo nível ou como diria alguns, á segunda listagem ou segundo domínio da trilogia fundamental do sistema wing chun, denominada Chum Kiu, conhecida em nossa escola como ''Afundar a ponte''.




(Jing Tong do Mogwun em Salvador, um dos lugares que mais me sinto a vontade)

Durante o intervalo de minha ultima ida á casa de SiFu e essa ultima ocorrida na primeira semana do mês de Dezembro, praticamente um ano inteiro se passou e nesse ínterim, pessoas vieram treinar aqui comigo em Recife, outras se foram (vide ultima postagem),mas focamos sempre em manter o ritmo de treino sem intervalos ou num crescente e por ter tido de revisar todo o Siu Lin Tao da úlima feita, eu me sentia ao menos tecnicamente pronto - embora ainda um pouco longe do ritmo da escola em vários outros pontos - para dar ''o chute'' inicial no segundo nível do sistema....

                                                           (SiFu Marcos no Muk Yan Jong)



Confesso que estava muito ansioso por ''N'' motivos,mas como sempre é uma ocasião de muita alegria e satisfação, pois é sempre bom rever SiFu, encontrar os irmãos mais velhos de Kung Fu e conhecer os mais novos. E como sempre, meu treinamento já havia iniciado antes mesmo de eu embarcar para a capital baiana...



Augusto Pereira é meu único discípulo formal aqui em Recife e esteve no aeroporto antes das 5 da manhã para me acompanhar antes de meu embarque,como atesta a foto acima. Como tem demostrado um zelo muito grande com o treinamento e uma dedicação sincera, deixei-o responsável por dar continuidade aos treinos aqui em Recife enquanto estivesse ausente,  que o fez com grande responsabilidade....

Após um voo supertranquilo , desembarquei em Salvador antes das 8 horas da manhã. Logo depois pegar as malas, vejo SiFu descendo do carro,enquanto Sr Israel, Pai de SiFu, procurava um lugar pra encontrar o carro...Após um abraço caloroso de boas vindas, seguimos direto pro Mogwun, fazendo uma pequena pausa num mercado pra algumas compras e assim, seguimos conversando sobre vários assuntos durante o trajeto ate lá. Entrar outra vez no Mogwun depois de tanto tempo me deixou realmente animado, como não havia estado antes.

(Sifu com as Pa chan Tou, faca de oito cortes)


Estávamos bastante felizes e ansiosos pra começar o treinamento o quanto antes, tanto que ainda no mercado, SiFu me mostrava alguns movimentos, ao passo em que explicava alguns conceitos inerentes ao treinamento que estava por seguir.

Ainda no Domingo, conheci meu Si-Hing - irmão mais velho de Kung Fu -  João Gilberto um dos se não o mais proeminente discípulo de SiFu em Salvador. João está colocando o Wing Chun de nossa escola em campeonatos de MMA com muita coragem, mostrando todo o potencial ''bélico'' de nosso Wing Chun. Pela impossibilidade de SiFu em estar integralmente no domingo para o treinamento, João de prontificou de dar início ao treinamento, fazendo um longo e extenuante treino físico e uma checagem durante a noite das bases e conteúdos do primeiro nível. Tendo em vista que eu me esforcei pra não dar muito trabalho ( e tendo feito o 'dever de casa' direitinho), não tinha muito o que se corrigir no sistema de bases e logo na primeira noite, já demos inicio nas técnicas de luta do segundo nível já com Sifu participando do treinamento.

(Foto tradicional mestre-discípulo; da esquerda para direita; Eu, SiFu Marcos com sua filhinha Luiza no colo, Si-Hing João Gilberto e a mascote de nossa escola, a labradora Hanna)


Tínhamos muito trabalho a ser feito em um espaço de tempo relativamente curto pro conteúdo do Chum Kiu - o que tornou-se um desafio para todos nós,mas já no primeiro dia, tivemos um bom aproveitamento....



Bem gente, esse foi m pequeno prefácio das próximas matérias, que serão compiladas numa unica matéria em breve. Gostaríamos de desejar a todos os nossos leitores um bom Fim de Ano e um ótimo 2014 para todos...

Na segunda parte, nosso encontro com Hugo ''Wolverine'' Vianna, a continuidade do treinamento e o encontro com meus irmãos mais velhos e mais novos.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Wing Chun Kung Fu

Este texto não tem nenhuma outra intenção que não seja passar minhas impressões daquilo que venho estudando,treinando e praticando da arte marcial chinesa chamada wing chun.

Muita gente já me ''conhece'' dos artigos deste blog mas muito poucos tem informações pessoais a meu respeito. Eu sou o Dido e tenho neste momento  31 anos. Moro em Recife, capital do estado de Pernambuco. Sou estudante privativo do SiFu Marcos de Abreu na família applied wing chun em Salvador, capital Baiana e talvez o primeiro estudante privativo deste SiFu no estado de Pernambuco. Apesar dessa especificação, não me interessa qualquer tipo de status ou títulos que essa condição possa trazer. De fato, o mais importante é, dentro desse processo de aprendizagem, o foco no entendimento das técnicas e da lógica do wing chun não só para o combate, mas como modo de pensar e agir. Entender como funciona o wing chun não é coisa fácil de se fazer.

Com isso quero dizer que a mais difícil lição está em não somente aprender as técnicas, mas a adquirir a confiança necessária para poder aplicá-las de fato, pensar e agir de acordo com o pensamento e a lógica do sistema. Mas não de forma mecânica ou forçando o processo da vivência da arte. Transformar as técnicas na sua segunda natureza, fazê-las entrar em seus sistema nervoso,internalizá-las e torná-la parte de você é um processo natural, espontâneo,mas que decorre de anos de prática dura, repetindo as técnicas quantas vezes for,treinando arduamente, sem os quais, ninguém poderá dizer que entendeu/entende o sistema wing chun. Requer muito mais suor, lágrimas e sangue do que se imagina...

E exatamente por essa razão,que muito mais me importa o treino duro, a prática repetida várias e várias vezes,até o limite da exaustão e ignorando qualquer tipo de cansaço,  do que qualquer discussão em cima de termos e temas políticos e que envolvam outros aspectos que não o marcial ou que não estejam diretamente ligados á família kung fu. Eu sei exatamente onde estou e sei até onde posso ir no momento e refuto qualquer tipo de disse-me-disse que por ventura possa ocorrer sobre como venho praticando e como venho tentando manter unido o grupo de pessoas com as quais venho treinando aqui em Recife.  Tudo o que eu faço em relação ao wing chun, Sifu sempre está ciente, do que sou ou não sou capaz de fazer e do que faço ou deixo de fazer.  Eu ''ensino'' pra poder praticar, já que pouquíssimas pessoas tem o interesse - aliás, não tanto questão de interesse, mas a perseverança de treinar de forma dura, de se esforçar de fato, para adquirir um conhecimento ancestral, que foi passado de geração á geração, sem qualquer tipo de enrolação ou falcatrua. Dessa forma, eu não tenho 'alunos', mas sim, companheiros de treino.

SiFu sempre me fala de que, para o conhecimento chegar até nós, da forma como nos chega, um ancestral se arriscou para ter a convicção de como funciona melhor a técnica e a melhor maneira de se aplicar. Siitaigung Duncan Leung se arriscou muito na vida para saber qual o melhor jeito de se aplicar as técnicas de wing chun. De certa forma, Sigung idem e SiFu idem. Nossa escola tem por natureza a aplicação das técnicas em combate irrestrito em ambiente não controlado e que pode também ser estendido ao ambiente competitivo. Por isso, quando ouço discussões sobre técnicas de luta, sobre a eficácia ou não das técnicas do wing chun e suas teorias e conceitos- e independente se eu concordo ou não com o que é dito,ás vezes sim, outras não - geralmente me vem a pergunta fundamental; ''Será que dá pra aplicar  isso na prática?''

No que venho estudando, treinando e aprendendo com SiFu, a minha resposta pra essa pergunta fundamental é sim. Mesmo que muitas vezes não fique claro como a técnica funciona pra um determinado propósito ou alguém durante o treino não a tenha entendido, posso dizer que tenho tido êxito com as técnicas que venho aprendendo de SiFu e que ele aprendeu com Sigung e que sigung aprendeu com Sitaaigung. No campo em que eu consigo entender, posso explicar tanto na prática quanto na teoria. O que eu ainda possa não compreender bem, eu vou perguntar e sei que posso tirar qualquer tipo de dúvida, pois SiFu não esconde técnica, nem faz mistério sobre o conhecimento. O que se advém posteriormente desse tipo de treinamento é auto-confiança e respeito, uma visão melhor do mundo e de como os acontecimentos se configuram a seu redor dentro das mudanças constantes da realidade e de como entendê-los.

Estarei retornando á Salvador há daqui exatos um mês para dar continuidade á meu treinamento e poder reencontrar SiFu e meus Si-Hings. Às vezes olho pra trás e vejo o quanto é difícil a caminhada dentro do Wing Chun e embora o momento seja de olhar pra frente, uma coisa é certa; È preciso sacrifício pessoal para praticar wing chun e não são todos que estão dispostos á fazer isso. Nem todos estão dispostos á pagar o preço. Onde você vai chegar na arte do wing chun só depende de você mesmo e espero que este texto possa ajudar á você,que está a procura de um autêntico SiFu, na sua decisão de escolher uma escola séria de Wing Chun. Ninguém poderá dar os seus passos. Muito embora, ninguém cresça no wing chun sozinho e você vai precisar de pessoas para ajudar e lhe ajudarem, o esforço pessoal será recompensado, mais cedo ou mais tarde e esse tipo de recompensa, ninguém poderá tirar de você.





















Abraços.
Dido
discípulo privativo do SiFu Marcos abreu


This text has no other intention than to pass my impressions of what I have been studying , practicing and practicing Chinese martial art called Wing Chun .

Many people already know me'' '' of the articles in this blog but very few have personal information about me . I am Dido and now have 31 years old. I live in Recife , capital of Pernambuco state . I am a particular student of SiFu Marcos Abreu in family applied wing chun in Salvador , capital of Bahia and perhaps the first private student of this SiFu in the state of Pernambuco . Although this specification does not interest me any status or titles that this condition can bring. Indeed , most importantly , within this learning process , focus on understanding the techniques and logic of the wing chun not only for combat, but as a way of thinking and acting . Understand how the wing chun is not easy thing to do.

By this I mean that the hardest lesson is to not only learn the techniques , but to acquire the confidence to be able to apply them in fact , think and act according to the mind and logic of the system. But not in a mechanical or forcing the process of experiencing art . Transform techniques in your second nature , make them get into your nervous system , internalize it and make it part of you is a natural , spontaneous , but that stems from years of hard practice , repeating the techniques as often as , training hard , without which no one can say who understood / understands the wing chun system . Requires much sweat , blood and tears than you think ...

And precisely for this reason that I care much more hard training , repeated practice over and over again , up to the limit of exhaustion and ignoring any kind of fatigue than any discussion upon terms and political issues and involving other aspects other than martial or that are not directly linked to the family kung fu . I know exactly where I am and I know how far I can go at the moment and I reject any kind of told me said that perhaps may occur on practicing and how come I've been trying to hold together the group of people with whom I've been training here in Recife . Everything I do in relation to wing chun Sifu always aware of what I am or am not able to do and what to do or leave . I '' teach '' to be able to practice , since very few people have interest - indeed , not so much a matter of interest, but perseverance to train so hard, in fact strive to acquire an ancient knowledge that was passed generation will generate without any stalling or scam . Thus , I do not have ' students ' , but rather , training partners .

SiFu always tells me that , to the knowledge reach us , the way we reach an ancestor dared to have the conviction of how the technique works best and the best way to apply. Siitaigung Duncan Leung risked much in life to know what the best way to apply the techniques of wing chun . Somehow Sigung ditto and ditto SiFu . Our school has by nature the application of techniques in combat unrestricted uncontrolled environment and can also be extended to the competitive environment . So when I hear discussions about fighting techniques on the effectiveness or otherwise of the wing chun techniques and theories and concepts , and regardless of whether I agree or not with what is said , sometimes yes , sometimes not - usually comes the fundamental question , '' will gives to apply this in practice ? ''

As I have been studying , practicing and learning SiFu , my answer to this fundamental question is yes . Even though often not clear how the technique works for a particular purpose or someone during training not to have understood , I can say I have been successful with the techniques that I have learned from SiFu and he learned from Sigung and Sigung learned Sitaaigung . In the field in which I can understand , can explain both in practice and in theory. What I still can not fully understand , I will ask to my SiFu and I know I can take any kind of doubt as SiFu no secret technique , nor does mystery about knowledge. What comes later this type of training is self -confidence and respect , a better view of the world and how the events are configured around them within the constant change of reality and how to understand them .

I'll be returning here there Salvador will exact a month to continue my training and will be able to review SiFu and my Si - Hings . Sometimes I look back and see how hard it is to walk within the Wing Chun and although the moment is to look ahead , one thing is certain , It takes personal sacrifice for practicing wing chun and not all of them are willing to do this will . Not everyone will be willing to pay the price . Where will you get the art of wing chun just depends on yourself and I hope that this text will be able to help you, who are looking for an authentic SiFu in its decision of choosing a serious school of Wing Chun . Nobody can take your steps . Although no one grow in wing chun alone and you will need people to help him and help , personal effort will be rewarded sooner or later and this kind of reward , no one can take from you .



quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Jeet Kune Do; Uma técnica sem técnica



Antes de postar um texto de minha autoria que fala sobre minhas impressões pessoais daquilo que venho estudando com SiFu e que também falaria de minhas próprias expectativas para meu retorno á Salvador que ocorrerá em dezembro desse ano, resolvi antes abordar um assunto que é sempre muito complexo de se esmiuçar e que não tem a ver diretamente com o Wing Chun de qualquer família, mas que em muito contribuiu para a divulgação do nosso estilo em escala mundial...



Bruce Lee Enter the Dragon


Se você imaginou que iremos falar sobre Jeet kune Do e seu ilustre fundador, Bruce Lee, sim meu caro, você acertou. Há alguns anos atrás eu havia reproduzido um texto sobre o assunto que foi publicado em algumas revistas - hoje em dia, material raro de se achar - e que esclarece alguns pontos sobre este ''estilo'' (sim, com aspas mesmo)  neste link; http://blogdodido-dido.blogspot.com.br/2011/01/o-enigma-jeet-kune-do.html  , mas como não se tratava de material inédito e haja visto que ainda hoje, é um assunto que causa debates realmente acalorados, vou tentar nessas mal traçadas linhas, abordar o assunto com algumas informações disponíveis que tenho a mão, tentando fazer uma abordagem de forma a ajudar a esclarecer alguns pontos nessa questão.

Quem acompanhou a entrevista do SiFu Augusto Carvalho aqui mesmo nesse site, teve um pequeno vislumbre de como era conseguir informações sobre Jeet Kune Do aqui no Brasil nos idos dos anos 80/90. Era realmente complicado e as pessoas, ainda na segunda metade da década de 90 ainda tinham de verificar certas informações á respeito do mètodo do Jeet Kune Do várias e várias vezes, para não comer ''gato por lebre''. Isso em grande parte, culpa das lendas urbanas em volta da mítica figura do Bruce Lee. Eu mesmo quando garoto, ouvia várias delas ( a que eu mais ouvia era a de que ele era o único ser humano capaz de pegar balas com os dentes, tal como o Bruce Leroy do filme ''O ultimo Dragão'' )e embora eu particularmente não acreditasse nas lendas mais ''cabeludas'',devo admitir eram lendas no mínimo espantosas e que só fazia com que a mítica figura de Bruce Lee e a curiosidade sobre ele aumentassem.

O que na realidade acontecia era que a mítica sobre as proezas de Bruce Lee eram sim, muitas vezes criadas pela mídia americana. Claro, tratava-se de um mestre em Artes marciais que ao morrer, entrava para Hall das Lendas e que isso contribuía em muito para o aumento da procura por métodos de artes marciais nos EUA crescessem. Manter uma academia de artes marciais no fim dos anos 70 na América, com certeza era negócio lucrativo, graças á imagem de Lee, além de outros fatores ''midiáticos'', por assim dizer.

Somando as dificuldades inerentes de nosso país naquela época (lembremos que nos anos 80, o índice de inflação beirava os 90 % !), durante anos, somente aqueles que tinham capacidade de sair do país e entrar em contato com algum discípulo direto de Bruce Lee, teria acesso ao conhecimento do método desenvolvido por ele e para muitos, que não tinham as mesmas condições, a saída era procurar o Wing Chun, em crescente voga no País naquela época.

Só que mesmo assim, informações sobre famílias e linhagens, bem como o tipo de método desenvolvido e do mestre em questão muitas vezes também eram escassas. Não poucas vezes, pessoas foram enroladas por esses ditos ''mestres'' falastrões que aprendiam seus movimentos com o mestre 'TOSHIBA' (aquele mesmo, o tão famoso aparelho de VHS) e que só visavam, no fim das contas, dinheiro e que não possuíam nenhum tipo de conhecimento real, nem de Jeet Kune Do, muito menos de Wing Chun.

Por isso e por outros motivos, até hoje, certas frases atribuídas a Bruce Lee e talvez o mais grave, certas interpretações de seu método muitas vezes passam longe de serem realmente fidedignas ao conhecimento transmitido por Lee e salva-guardado por seus discípulos. Não raro, é muito fácil achar ''praticantes de Jeet Kune Do''  em qualquer lugar do Brasil, mas que nunca chegaram a ter compreensão do método de fato, ou que apenas os via em filmes, ou leram algum de seus livros. È bem perceptível quando acontece isso e inerente quanto á falta de conhecimento dessas pessoas, pois quando em combate, seus movimentos são mais uma ''imitação'' do Bruce Lee visto nos filmes, do que os movimentos de um real lutador.






De acordo com Lee, Jeet Kune Do não é uma metodologia de ensino com estética estilística clássica, muito menos uma forma ou sistema de combate nos moldes tradicionais. Isso muitas vezes é extremamente mal interpretado como ''fazer qualquer coisa no combate'' por aqueles que somente percebem o dito '' Absorver o que é útil, rejeite o que é inútil''. Bruce Lee sentia-se muito mais confortável em treinar uma pessoa que já tinha conhecimento prévio de algum sistema de combate, do que um iniciante que nunca havia treinado nada antes, pelo simples fato de que a grande questão do método de Lee não era ''aprender um sequencial de movimentos estruturados em uma rotina de treinamento em padrão 1,2 e 3'', mas sim, dar uma outra abordagem estratégica para aplicação de luta em potencial risco eminente em ambiente aberto e/ou competitivo. Por isso, Dan inosanto, um de seus mais proeminentes discípulos dizia; - '' Se você tomar o que Bruce deixou, pode tornar qualquer estilo 100% melhor.''


Bruce Lee também é acusado de 'abandonar' o Wing Chun para abordar novas formas estratégicas de combate. Só que isso gera uma certa controvérsia,quando analisamos seus escritos e declarações sobre o próprio método de Wing Chun transmitido pelo patriarca Yip Man á seu mais famoso discípulo. Bruce Lee dizia ser muito grato aos ensinamentos do patriarca e em muito valorizava seu ''principal estilo''. Tanto que sempre dizia ter recebido treinamento formal apenas em Wing Chun e que seu único Mestre era Yip Man.

Talvez o mais importante; Lee não modificou em sua estratégia alguns pontos chave do Wing Chun, como o punho na vertical e manteve a estratégia da Linha central ( atacar no ponto mais próximo do oponente em relação á sí mesmo) .Também manteve diversos tipos de Trapping Hands ( tradicionalmente conhecidos em algumas famílias de wing chun como Lap Sao) e manteve treinamentos de percepção como Chi Sao em seu treinamento posterior.



Há discussões sobre em que nível Bruce Lee teria interrompido seu treinamento em Wing Chun com seu mestre Yip Man para ir aos EUA e que essa interrupção foi uma das causas para com as quais Lee procurou ''preencher'' a lacuna que faltava em seu treinamento ao estudar outros métodos de combate. O que se é sabido com firmeza é que Lee estudava, ainda em Hong Kong, boxe ocidental, esgrima e Tai Chi, tendo inclusive, vencido um campeonato escolar de boxe ( o que quase causou sua expulsão da escola do Mestre Yip Man, já que Lee estava estudando um método de luta que não era chinês). E isso provavelmente também influenciou seu método de treinamento posterior.

Deixa-se entender na verdade que Lee teria interrompido seu treinamento quando estava prestes a acessar a fase do Moy Fah Jong. Não somente pelas fotos,mas pelo Relato de Sitaaigung Duncan Leung em seu livro ''Wing Chun warrior'' onde ele cita e esclarece o famoso episódio do 'Desmantelando o boneco de madeira'' e a famigerada lenda do apartamento ofertado á Yip Man...

 O fato de muitas vezes Lee ser hostilizado por seus ''irmãos kung fu'', já que ele era Sino-Americano, também é um forte indício de influência sobre seu modo de pensar ao defender a idéia de que não há um método melhor ou pior de lutar. Seu cerne filosófico se baseava justamente na ''igualdade'' de pessoas. ''Todos os homens abaixo do sol são irmãos universais'', dizia.



A arte de Bruce Lee, o Jeet Kune Do, é um método de se entender o que fazer na luta e que é mais facilmente entendido por pessoas que já tenham experiência em combate,embora também seja compreendido por pessoas que também não o tenham. Lee acreditava no treinamento particularizado, no sentido de desenvolver métodos específicos para cada biotipo, potencializando aquilo que havia de melhor ,em termos de qualidade e rendimento técnico e trabalhando áreas de potencial dificuldade. Sendo assim, muitas vezes é relatado que nas escolas de Bruce, ele especificava para cada aluno, um treinamento em particular,onde quem chegasse pela primeira vez naquela escola, não podia entender muito bem o que estava sendo treinado, já que havia uma ideia de padronização do treinamento.Cada um treinava uma coisa diferente, no que dizia Dan Inosanto ; '' O que funcionava pra um, poderia não funcionar para o outro e era assim que treinávamos, não havia forma.''

Percebe-se então que a famosa frase ''Técnica sem técnica'', tem um sentido muito mais amplo do que somente ''ah, eu posso usar tudo na luta então.''  O que Bruce Lee ansiava era nçao só, criar o método mais mortal de combate, mas sim, desenvolver um meio de acabar com ou levar a knock down o oponente o mais rápido possível quando em luta.

O método de Jeet kune Do pode, em outras palavras, ser considerado sim, o precursor do método de treinamento de MMA. Por isso e justamente pelo seu método, Lee é conhecido como o ''Pai'' dessa modalidade.


(Repare neste cartaz, o rosto de Lee e a frase ''Bruce Lee é o pai das artes marciais mistas'')

Muitos dizeres do Bruce Lee hoje, são usados como desculpas para uma inerente falta de habilidade na questão da aplicabilidade real do que se treina. As mesmas desculpas esfarrapadas do ''Em JKD pode se fazer tudo em combate'', de que ''regras inibem as técnicas'', ou o famoso ''dedo no olho/chute no saco'', só escondem a falta de compreensão de alguns que falam em nome do JKD e talvez por isso, ainda hoje no Brasil, ao ouvir o nome Jeet Kune Do, ainda ocorra um certo ''torcer de nariz''.

 Por isso, o melhor meio de se estudar o legado de Bruce Lee, ainda é - caso você tenha condições para isso - sair do País e entrar em contato com algum discípulo direto, ou algum discípulo desses discípulos diretos de Lee. Existem vários mestres renomados no mundo como Octávio Quintero e Tommy Charruters, além de Dan Inosanto, entre outros, que ainda divulgam e transmitem o legado de Bruce Lee.

Bem gente, é isso...talvez essa postagem ganhe uma ''parte 2'', mas ainda veremos. Em breve uma postagem super especial. Até lá.













segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O bom Filho á casa Torna...

Durante os últimos dois meses, aqui em recife, vinha eu conduzindo os treinos e a prática de wing chun com meus companheiros em uma conhecida academia num dos bairros próximos do centro. A oportunidade foi dada pelo mestre e meu amigo pessoal, representante no estado da arte do Yong Moo Do Roberval Moura.




(Eu e Talis, praticando na academia do mestre Roberval)


 Ficamos lá num período de experimentação, que foi muito produtivo na formação do grupo de treino e em sua condução.
Mas o caso é que o mais importante nesse processo foi a organização do grupo, as pessoas que conhecemos e o vínculo de amizade verdadeira e sincera que estamos criando. Companheiros de treinos aguerridos são os que mais perseveram no treinamento e assim sendo, é mais natural pessoas virem e depois irem embora. Muitos não aguentam o treino e desistem, outros simplesmente não se identificam, já outros permanecem e mostram mais garra ao passar do tempo, dando importância ao próprio grupo e ao treino em si e não se importando com outros problemas que possam vim a aparecer, ou outros assuntos que não são do envolvimento do treino.
Por isso, sabíamos desde o início que esse período de experimentação na academia do mestre Roberval seria um período curto, e que o mais importante seria o processo em si e a experiência ganha....
Então ao sairmos de lá decidimos que iriamos retornar aos treinos no...



Parque da Jaqueira!



Sim...e esse é o trocadilho com o título da postagem....Nosso pequeno grupo começou exatamente neste lugar e é justamente ali, ao lado dessa igrejinha que estamos conduzindo nossos treinos.

E é engraçado que neste momento da postagem eu me lembro da música ''Smells like a teen Spirit'' do Nirvana...

Nosso pequeno grupo permanecerá até o fim....rsrsrs



A vantagem de se treinar em campo aberto é que além de um visual muito bacana, as árvores criam uma sombra muito gostosa de se aproveitar quando estamos numa atividade física ou mesmo discutindo sobre técnicas, conceitos, ou mesmo aquela conversa pré-treino sobre trivialidades, como música, o cotidiano e assuntos que são de comum interesse a todos nós.

O Talis Dias,é um dos caras que está desde o começo, na verdade, desde antes do período de experimentação citado logo acima e continua vindo treinar. Recentemente, nosso grupo foi acrescido com a presença do Augusto Pereira. Ele que já esteve em outras famílias de Wing Chun aqui no estado e é instrutor do estilo da Garça.


(Como minha câmera descarregou, não pude fazer as fotos hoje, mas essa é um registro junto com meu amigo o já supracitado aqui no blog Thiago Epimeteu )

Já estamos com as atividades no parque da jaqueira ha mais ou menos três semanas - pouco mais de três semanas na verdade - e o nosso cronograma de treino tem passado por algumas modificações. Mas regularmente estamos treinando em grupo mais de duas horas ininterruptas (isso fora o meu treinamento pessoal, na verdade, que tem me tomado tempo todas as manhãs ao largar do trabalho), focando no conteúdo Siu Nim Tao e na aplicação das técnicas em sparring livre.

Hoje a atividade foi um pouco diferente do habitual que estamos fazendo. Como a visão externa das pessoas - e nisso incluo alguns 'detratores' que gostam de especular sem conhecimento de causa -  sobre a minha família wing chun se baseia numa família ''porradeira'', ''sem cultura'' e coisas estapafúrdias do tipo e que  graças ao trabalho sério não só de meu SiFu, Marcos de Abreu,  mas de meus ''Sibaak's'' e 'Sisok's' vem sendo quebrada essa imagem, decidi que seria interessante começar o treino hoje mostrando algumas fotos tradicionais, falando sobre a genealogia e também alguns conceitos práticos relativos ao enfoque que SiFu me deu sobre a arte.


Essa dinâmica bastante proveitosa, pelo interação entre os que fazem parte do grupo, pois permitiu uma troca de experiências bastante ampla. Uma das coisas que foi realmente interessante,foi ouvir do Augusto hoje, a mesma impressão que venho tendo da arte desde que comecei a treinar sob orientação de Sifu.

- ''Agora eu venho me sentindo mais apto a aplicar aquilo que treino em luta e era isso o que estava faltando!''

Esse foi um primeiro esforço, na tentativa de se passar algo que fosse além do que somente as técnicas e fazer os exercícios de luta específicos, o que na verdade, já demanda um grande foco na concentração e no entendimento da lógica do sistema. Por isso, achei de grande importância citar essa passagem aqui no blog, porque é colocando a lógica do sistema wing chun não só nas técnicas, mas na vivência dos processos de aprendizagem, que faz com que tenhamos um melhor aproveitamento do que a arte pode nos oferecer.

Nesse sentido, também mencionei o Hang Out especial sobre o patriarca Ip Man no qual SiFu fez uma participação especial e que abrangeu assuntos relativos a como o Wing Chun foi desenvolvido através de sua transmissão e dos seus ancestrais históricos, dentro da tradição de nossa família.

Para aqueles que não acompanharam o citado Hangout, vou postar o link com a descrição do blog do Mestre Nataniel Rosa,mestre qualificado do clã Moy Yat e que tem um papel importantíssimo nesse trabalho. Lá, vocês podem assistir o debate dividido em três partes e espero sinceramente que gostem.




MOY YAT   VING TSUN  (061)3346-6407 / (061)8107 -1173

http://moyyatvingtsunkungfu.blogspot.com.br/




sábado, 5 de outubro de 2013

Blog do Dido Recomenda e Notícias Wing Chun

Voltando com a coluna ''Blog do Dido recomenda'', um website interessantíssimo para aqueles que gostam de enriquecer suas pesquisas teóricas sobre o estilo wing chun em diversas linhagens é o wing chun illustrated (www.wingchunillustrated.com)


O site trás matérias interessantes, artigos e novidades do universo do wing chun em um formato super acessível. Para os amantes da arte, é um dos sites mais bacanas e que junto com o wing chun pédia, formam os mais atualizados sites sobre a arte marcial chinesa. 


Notícias


Nota #1; Nos dias 7 e 8 de dezembro meu Si-hing (irmão kung fu mais velho) João Gilberto - discípulo de meu sifu Marcos de Abreu, irá subir aos ringues mais uma vez, representando a família kung fu em um aberto de Thai Boxe em ilhéus, Salvador. Estamos na torcida para que João traga bons resultados de lá. 




Nota # 2; Durante a semana de 1 a 8 de dezembro eu estarei em salvador para meus treinamentos formais com Sifu. Vai ser uma boa oportunidade de rever meus si-hings e dar continuidade aos meus treinamentos e estudos no wing chun. 

                                  


Nota #3 ; Apesar das concessões de download de conteúdo impostas pelo governo chinês, o youku - o youtube chinês - está disponibilizando uma série de dvd's completos sobre wing chun. Abaixo, segue o link para o dvd ''Basics and chi sao'' de sitaaigung Duncan Leung.





Nota# 4 ; Foi divulgado no blog do meu amigo Moy Fat Lei - o famosíssimo Blog do Pereira - que o filme de Leung Kai War, The grandmasters, irá concorrer ao Oscar na categoria de filmes estrangeiros. Ainda segundo o blog, The Final Fight ,que também retrata a vida do patriarca Yip Man, também foi indicado na lista dos pré-selecionados.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

The tournament...

À pedidos, segue mais um trecho do livro ''Wing Chun Warrior'', que discorre sobre a participação dos alunos de sitaaigung Duncan Leung num torneio de karatê ainda nos anos 70...

CAPITULO 31
O SAMURAI


Norfolk, Virginia
1977


È melhor ser morto do que humilhado
(shi ke sha er bu ke ru)
O livro dos Ritos


Confúcio (Kongzi 551-479 A.C)
Muitos indivíduos escolhiam a morte em vez de ter que suportar a
humilhação nas mãos dos seus inimigos na China antiga. Isto também se
tornou freqüente na China moderna durante a infame Revolução Cultural
entre os anos 1967 e 1977. Milhares de indivíduos cometiam suicídio para
se livrar da humilhação e da tortura dos Guardas vermelhos.
Talvez tenha muito mais coragm aquele indivíduo que aceita a humilhação
com a finalidade de levar a cabo uma missão vital (ren ru fu zhong).
Sima Qian (145- 91 A.C), o grande historiador chinês foi sentenciado à
morte como traidor. Durante a Dinastia Han (206 A.C -220 D.C) uma
sentença de morte podia ser executada de duas formas, pagando uma
grande quantidade de dinheiro ou sendo castrado. Sima Qian optou pela
castração com o propósito de completar o legado do seu pai (a lembrança
da historia dos dois milênios anteriores). Ele completou o Recorde dos
Historiadores (Shi Ji) no ano 91 A.C.
* * * *
Duncan e os seus alunos tinham sido convidados para participar em um
torneio de arte marcial executado por um instrutor local de alto ranking
na Universidade de Virginia. Esse torneio daria credito acadêmico para
aulas de Karate. O seguinte incidente foi relatado nas suas próprias
palavras:
O instrutor que dava aulas dentro da Universidade era um Samurai
Japonês que dava ensinava Karate para muitos alunos. Ele era bem
reconhecido em toda a America do Norte e no Japão. Ele era exigente e
bem conhecido pela severidade da sua disciplina.Por exemplo, os
estudantes eram castigados com um cano se eles não se desempenhavam
corretamente, e o castigo corporal era aceito como parte do seu
treinamento.
Eu não entendo como esse tipo de praticas era aceito na America. Depois
de tudo, não estávamos em Singapura. Deixando de lado a crueldade da
pratica, o castigo corporal é uma pratica educacional muito medíocre
(porque bloqueia o aprendizado) em qualquer tipo de área de
ensinamento. Neste tipo de atmosfera, os estudantes tinham medo de
fazer perguntas por medo de ser castigados ou de ficar ridicularizados.A
comunicação livre e fluida é essencial para o processo de aprendizado.
Falando especificamente em Arte Marcial as correções, de jeito algum são
físicas. Mais do que tudo, nós tentamos de imbuir nos alunos uma atitude
de confiança própria. Este é um sentimento que somente pode florescer
em um ambiente de confiança e credibilidade.



Aquela era na realidade a primeira vez que assistia um torneio no qual os
competidores usavam luvas e somente era permitido um contato parcial.
No momento em que toca um adversário toca o seu oponente era
necessário se retirar do contato. A pessoa que conseguia o primeiro
contato ganhava pontos. (pense nisto, isto e mais ou menos como um tipo
de pratica de determinados índios das planícies (a contagem de pontos
das tribos indianas sobre os seus adversários durante as batalhas). Isto
não funciona se falamos de luta real; somente garante que os
participantes não fiquem feridos.
Jim tinha tomado aulas comigo por nove meses, e ele era o único aluno da
minha turma a entrar na competição, embora uma grande porção dos
meus alunos tivesse ido junto para lhe dar força e apoio.

Eu estava de pé atrás de um painel de juízes quando Jim entrou para
competir com um dos alunos de karate. Antes de começar os participantes
foram lembrados sobre as regras da luta: sem força excessiva. Na primeira
rodada Jim não ganhou nenhum ponto, embora ele tenha tocado o seu
inimigo muitas vezes. Os juízes explicaram que o adversário de Jim
também tinha tocado nele. Os juízes, sem familiaridade com o Wing Chun,
não entendiam que Jim na realidade estava cobrindo e contra-atracando
simultaneamente quando na realidade parecia que o oponente tinha feito
o contato primeiro.
Depois da primeira rodada eu perguntei para o Samurai por que Jim não
tinha ganhado nenhum ponto atingindo no seu oponente.
Ele respondeu: “porque o seu oponente também tocou nele”
“Não, ele não bateu em Jim; pelo contrario, Jim bateu nele. Você cometeu
um erro. Foi uma cobertura e contra-atraque simultâneos. Você só
encontra isto no Full Contato”
Logo eu mostrei para ele o movimento exato em câmara lenta.
O Samurai discordou: “Não, sem contato. Essa é a regra”
Na segunda rodada, quando Jim tocou no seu oponente com um soco
aberto, desta vez ele não recebeu o ponto, e quando eu perguntei o
porquê, o samurai respondeu:
“Da forma como ele bateu não tinha força. Deve ser um soco completo
desde o quadril para receber um ponto. Ele socou desde uma posição
media com sua mão. Não há força desde essa posição”
“Do que esta me falando?” Agora o meu orgulho do Wing Chun estava
começando a ferver
O Samurai me mostrou o típico soco de Karate e colocando o seu punho
esquerdo do lado da sua cintura disse:" Ele deveria atirar o soco partindo
da cintura. O jeito como ele atirou o seu soco foi fraco e incorreto”.
“Eu não concordo com você. A forma com ele socou foi correta e
poderosa”
“Não! estava incorreta. Esta é a regra”. O seu jeito de falar curto e grosso
estava começando a me irritar.
Do jeito que estávamos nos comunicando não iríamos chegar a lado algum
com certeza. Eu estava começando a ficar furioso e finalmente eu peguei
o microfone da sua mão. Desafiando ele eu gritei para a audiência toda:
”Você só pode estar brincando! Então você diz que o soco do meu aluno
foi fraco e incorreto. Por que não troca um par de socos comigo? Eu
deixarei você me socar primeiro para sentir a força do seu soco. Eu não
vou movimentar meus pés e nem vou bloquear. Eu simplesmente vou
receber o seu soco no meu peito. Logo disso, eu vou dar um soco em você
para você ver a fraqueza do meu soco. Você tal vez não enxergue a força,
mas eu lhe garanto que vai sentir essa força.
“Não, essas são as regras do jogo”
“Esta com medo?” Duncan perguntou para ele
“Essa é a regra. Essa é a regra” Ele só podia repetir essa frase.
Para encurtar a estória, ele se recusou a aceitar o meu desafio que com
certeza não estava dentro do espírito marcial.
O combate continuou. Jim lançou um chute no oponente e continuou com
um soco esquerdo partindo de uma posição intermediaria. Por causa disto
o seu oponente caiu para trás então Jim esticou demais e deslocou para
frente o seu ombro esquerdo. O arbitro parou a luta enquanto eu fui ate
ele e manipulei o seu ombro deslocado ate colocar-lo no seu lugar. Eu
perguntei para Jim o que ele queria fazer,e falei para ele que tal vez era
melhor se retirar. Embora o seu ombro estivesse doendo muito, Jim
insistiu em continuar.


Ele levantou o seu braço esquerdo e colocou na frente do seu peito para
se cobrir e lutou com um braço só. O oponente, tomando vantagem da
desvantagem de Jim, logo começou a bater em Jim como um touro. Jim
mudou para direita, evitando o ataque e enquanto estendeu
simultaneamente o seu ombro direito para frente, desde uma posição
intermediaria ,socou na mandíbula do oponente. O impacto da colisão foi
poderoso porque o seu oponente de fato bateu a sua mandíbula contra o
punho de Jim. O adversário de Jim caiu no chão e a audiência se levantou
em aplausos.
Logo o Samurai deixou a audiência muda com o anúncio da
desqualificação de Jim pelo uso excessivo da força.
Eu fique estarrecido e protestei: “O seu oponente estava socando nele
como se fosse um touro; ele literalmente se bateu sozinho no punho do
meu aluno. O que você esperava que ele fizesse?”
“Força excessiva é contra as regras”
“O que me disse então sobre os pontos que ele deveria ter ganhado por
pelo menos impingir o soco?”
“Não. Ele usou excessiva força. Essa é a regra”
* * * *
Então o ganhador estava deitado no chão enquanto o perdedor foi
desqualificado por ter usado excessiva força quando o seu oponente se
lançou na frente do seu soco. Isso era arte marcial virado de pé para cima.
Com respeito ao desafio da resposta não aceita do Samurai, ele explicou
como é possível agüentar um soco solido de um Mestre de Karate: um
praticante de karate deve retirar o seu antebraço antes do soco, do
mesmo jeito que se prepara o gatilho de uma arma de fogo antes de
disparar. Ele não pode socar com um braço estendido. Antes de dar o
soco, a distância entre o alvo e os nós dos seus dedos deve ser menor do
que o seu braço completamente estendido para poder socar através. Se a
distancia entre o alvo e os nós dos seus dedos fosse exatamente a mesma
do que o seu braço completamente entendido, o seu soco seria
relativamente sem efeito. Se a distancia fosse um pouquinho maior o soco
nunca iria machucar.
Se você não consegue alcançar o seu oponente, independentemente da
força que você tenha, o seu poder é inútil. O contrario também é
verdadeiro:se você consegue alcançar o seu oponente,usando até a
menor das forças pode deixar-lo incapacitado.A força é derivada da
postura, da torção da cintura e do swing dos ombros.A distancia regula a
saída de maior força. Esta é a Terceira Forma do Wing Chun.
Se o Samurai tivesse mordido a isca de Duncan e aceitado o desafio,
simplesmente antes que o seu soco aterrissasse em Duncan, Duncan teria
bombeado o seu peito e balançado o seu torso para trás para fluir com o
soco par evitar infligir muita lesão. Duncan teria tido tempo de fazer isto
por causa da distancia que o soco tinha que viajar (do quadril).
Duncan nunca iria fazer tal desafio para um praticante talentoso de Wing
Chun. Foi Bruce Lee quem revelou publicamente o soco de uma polegada
(técnica única no Wing Chun).Ate um mestre de Karate não saberia como
usar-la.O soco de uma polegada possibilita a criação da potencia partindo
de pouco distancia. Assistir isto e deslumbrante. Bruce Lee lançava para
trás ate aterrissar no chão (a uma distancia aproximada de dez pés de
onde ele estava) um oponente que pesava duas vezes mais do que ele
próprio. Este soco se consegue por causa da extensão da escapula, o giro
das cadeiras e pernas e o golpe do pulso (a exata combinação do efeito de
empurrar e puxar da parte superior do corpo por completo, concentrando
a força em um único ponto. Mesmo sem dobrar o braço, a extensão
combinada alonga o alcance compensando a falta de distancia. Este é o
principio do ''cone em WingChun.''

domingo, 1 de setembro de 2013

Relembrando o passado e Kai Siu Yan - Aquele que indica

È engraçado quando você pára pra pensar que aquele amigo que você conversa eventualmente e que parece não ter mudado muito da época em que você conhecia pra cá, não é uma pessoa que você conheceu recentemente. Ainda mais quando essa amizade dura mais de uma década sem nenhum tipo de briga, discussão ou mesmo desentendimentos. Isso acontece sempre comigo quando vez por outra eu converso com o João Artur...


(João Artur aparece aqui praticando a primeira parte do Siu Nim Tao no parque da jaqueira)

Esses dias, tive a triste notícia do falecimento do seu pai, no qual eu também conhecia e fiquei realmente muito sentido. Na ocasião, comecei a lembrar de como tinha conhecido o Artur e o Seu Ezequiel e só então me dei conta do quanto tempo já fazia isso e dos acontecimentos que me levaram á praticar kung fu á sério e do papel do Artur nessa fase...


Em meados de 1995, eu não era o melhor dos alunos. Se você pensar que da primeira série primária até a 4º  série eu era um nerd - tirava em Português, Estudos Sociais, Matemática e Ciências sempre 10 em todas provas e testes, e tenho meu histórico escolar pra provar - foi uma grande ''queda de produção'' chegar á quinta série do antigo 2º grau, matando aula ao menos duas vezes na semana e tirando notas baixíssimas. Isso decorreu mais do meu interesse por aprender a lutar, por conta de uma baita surra que eu tinha levado num fliperama nas férias de meio daquele ano. Eu estava com a alto estima muito em baixa e só pensava em voltar ao Bairro do Jardim Paulista, onde moravam minhas tias e onde eu costumeiramente passava as férias,e que era onde existia o tal fliperama para encontrar o cara e devolver a surra que eu tinha levado.


                                     
            (João Artur desferindo um chute lateral, na garagem de casa em ocasião de sua visita á casa de meus pais)

Só que se eu fizesse isso, sem estar preparado antes, muito provavelmente aquela surra iria se repetir. Então decidi treinar alguma coisa. Visto que no meu caso específico, o Tae Kwon Do aprendido com meu pai, não deu lá muito certo pra utilizar naquela briga, porque o garoto era bem maior, mais rápido e encurtou a distância demais pra que eu pudesse usar algum chute e no máximo o que deu pra fazer foi ''fechar'' o rosto pro estrago não ficar pior, resolvi então que iria treinar alguma coisa por conta própria,sozinho e com os poucos recursos que eu tinha. De qualquer forma, com esse parâmetro, não dava muito pra ser um bom aluno na escola mesmo...

Então fui no decorrer do ano sendo trocado de turmas até que cai na sala, onde a galera ficava me encarando e encarando um carinha que sentava lá no fundo da sala...''Vocês são irmãos?'', era uma pergunta corriqueira que me faziam, porque eu e esse carinha, tínhamos o mesmo biotipo; Magrelos, branquelos e com cara de Nerd...rsrsrs. Lembro-me da primeira coisa que eu disse á ele sem nem mesmo dizer meu nome;

 - ''Todo mundo fica me perguntando se sou teu irmão...não me acho parecido com você!''

O que poderia ser interpretado como algo rude, foi respondido com uma risada. - ''Eu sou o Dido, como se chama?''
- ''João Artur...você também desenha é? Pô Legal''...Isto porque meu caderno velho vivia cheio de desenhos toscos que eu fazia , ele ele bem notou isso. - "È, eu gosto de desenhar, mas to interessado mais em aprender a dar porrada...fazer alguma arte marcial saca? Você gosta do Bruce Lee?''

- ''Ah claro, ele é demais cara! Vai lá em casa qualquer dia, eu tenho um quadro dele na sala de casa, bem legal!''


                             (Esse era um quadro gigante que eu tinha na sala de casa e que durou muito...rs)

          ( O quadro do Artur )

E assim, a gente foi firmando uma amizade numa boa. No dia em que fui ver o tal ''quadro do Bruce Lee'', conheci seus pais e irmã e desde lá a gente sempre se via na escola e tínhamos interesses em comum. Desenhos, música, lutas...

Durante os intervalos nas aulas, João Artur, Eu e mais um amigo chamado Elissandro, íamos pra quadra de futebol e lá , fazíamos luta entre nós três e não poucas vezes éramos chamados á direção da escola,porque outros caras chegavam querendo participar e acabava tudo em briga de verdade.


(Essa é a escola onde estudávamos e ali, embaixo daquela caixa dágua também rolavam as ''lutas'',que se tornavam brigas, as vezes...rs)

Até que um dia,em novembro de 1996 o Artur chega pra mim todo empolgado:

- ''Cara, me matriculei numa escola de Kung Fu!!!Você tem que ir ver!!

Claro, eu topei na hora!Já faziam alguns meses que eu vinha ''me preparando'' com aquelas práticas de combate com os caras na escola e vi ali uma oportunidade de aprender uma arte marcial que eu sempre quis fazer. Claro que pela ignorância de desconhecer sobre estilos, linhagens, famílias, não fazia ideia do que seria aquele Kung Fu que o Artur tava aprendendo...eu queria mais era ir lá treinar!

- ''Mas é num sábado á tarde e leva a tarde toda a aula, você vai poder?''
- ''Claro que sim cara!Vou só pedir permissão pros meus pais e te aviso na sexta-feria aqui na escola mesmo.''

Então no sábado marcado, fomos ás aulas e lá o Artur me apresentou aquele que seria meu primeiro Sifu.


Sebastião Cícero, mais conhecido como ""Zito'', foi aluno do Mestre Júlio Kushida no estilo Shao lin do Norte, sendo o Mestre Júlio, discípulo direto do mestre Chan Kwok Wai, uma autoridade do estilo no Brasil. Tinha cara de gente comum, desses que se você visse, não daria nada pelo sujeito, mas ainda é um grande professor....Os caras mais antigos vinham todos ainda da década de 90 na academia e a gente, meio que sem saber, estava formando o que era, digamos, uma ''nova turma'' que hoje em dia, poucos permaneceram treinando algum estilo de kung fu. Mestre Zito ainda leciona hoje em dia. Ele foi o cara que me ensinou as bases pra melhorar os chutes que eu tinha do TKD. Era um cara muito
'casca-grossa' e que treinava muito pesado. Lembro-me claramente da primeira aula de combate livre quando ele chegou em mim e disse;


- "Você tem de intimidar logo de cara!Feche a cara pro seu adversário!Mostre que você não está de brincadeira!Se ficar somente sério pra ele,mesmo que você seja bom e tenha confiança, ele cresce e te arrebenta!''  Ao lado, uma foto do mestre Júlio Kushida, já que é uma pena eu não ter uma foto com o Mestre Zito dessa época...                                                                       
Bem...

Alguns anos se passaram e eu nunca mais encontrei o cara do flíper. Mas em 1998, eu tinha quase dois anos de prática e me achava afoito o suficiente pra ir lutar com qualquer pessoa que viesse ''tirar uma onda''. Eu e o artur disputávamos entre nós pra ver quem aprendia mais Katis, quem era melhor de luta,tudo isso numa disputa muito saudável, onde um ajudava o outro e até ensinava um ao outro....isso até o dia em que um  amigo em comum falou pro Artur de um cara que estava ensinando outro estilo de Kung Fu ...um tal de ''Ving Tsun''...E ai, eu tendo pego o endereço com o próprio Artur, fui lá conferir pessoalmente e dando uma resumida, comecei a treinar o Wing chun com o hoje, Sifu Adilson.

Voltando aos dias de hoje, percebi que o João Artur, tem um papel fundamental pra que hoje, eu estivesse praticando com meu atual Sifu e dando continuidade aos meus treinamentos, pois se eu não tivesse passado por tudo aquilo e não o tivesse conhecido, provavelmente nem estaria hoje escrevendo sobre wing chun.

Posso dizer que naquela época e de certa forma, ele foi meu Kai Siu Yan.


(Meu sobrinho, Artur e Eu, fazendo arruaça na garagem de casa)

Kai Siu Yan - Em dialeto cantonês; Aquele que indica, ou apresenta, é a pessoa que apresenta o pretenso praticante de kung fu ao Sifu. Na maioria dos casos, o Kay Siu Yan também é um aluno da pessoa que virá a ser o seu Sifu e este acompanha a sua prática, sempre lhe auxiliando. Mas pode ser, em alguns casos, de fora da família.

Com meu Sifu atual, eu não tive uma pessoa como Kai Siu Yan de fato, já que fizemos contato por diretamente por outros meios. Engraçado pensar também que Yip Man, também não teve um Kai Siu Yan que fosse discípulo de Chan Wah Sun, mas isso devido ás circunstâncias históricas que o levaram a se tornar um Quan Moon Dai Gee de Chan Wah Sun.

(Nesta foto rara, Yip Man aparece ao Lado de Jau Ching Chuen,que foi o Kai siu Yan de seu próprio filho, Jau Gwong Yu,que foi discípulo de Yip Man ainda em Fo Shan)


Dentro da cultura e da tradição chinesa, para alguém aprender wing chun era necessário que conhecesse alguém que fizesse parte de uma família kung fu, ou o indicasse para um Sifu. Se o Sifu já estivesse ''aposentado'' e escolhesse não mais lecionar, era dito que ele tinha ''fechado as portas'', ou ''Quan Moon''. Mas em alguns casos, o Sifu mesmo tendo fechado as portas, tinha a prerrogativa de fazer uma exceção.Ao  Aceitar um discípulo após sua aposentadoria, este era chamado de Quan Moon Dai Gee, ou discípulo de portas fechadas.Exatamente o caso do Sijo Yip Man, mas ai já é outro termo...outra história....



Então, de certa forma, tenho muito o que agradecer ao João Artur por ter me indicado e de certa forma iniciado meus treinamentos no Kung Fu,mesmo que em outro estilo, mas que me levaram hoje á estar ainda hoje praticando e por sua amizade. Apesar de hoje, eu passar alguns conhecimentos sobre Wing Chun pra ele informalmente, ainda o considero como sendo mais velho que eu e espero que essa postagem seja uma pequena homenagem ao seu Pai, falecido na ultima terça-feira.


Até a Próxima.


Dido
discípulo privativo do Sifu Marcos Abreu.





quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Hang out - Dia memorial do Wing Chun

Esse foi um Hang out especial sobre o dia memorial do Ving Tsun (Wing Chun) com a participação dos Mestres Léo Imamura, líder do clã Moy Yat no Brasil - que foi minha primeira linhagem ainda em minha adolescência, Nataniel Rosa e Sifu fazendo uma participação especial via internet, por não ser do mesmo clã que encabeça o debate. Esse Hang Out è extremamente proveitoso em termos de conteúdo.


Esperamos que - mesmo com um grande atraso - os leitores possam gostar.












domingo, 18 de agosto de 2013

Din Choy; Soco da batalha

Wing Chun é conhecido por ser uma arte do sul da china. Sendo assim, é muito fácil associá-la aquele famoso jargão marcial ''Pernas do norte/Punhos do sul'',jargão esse que não é lá tão verídico assim, já que alguns estilos 'sulistas' - e ai incluindo o próprio wing chun - possui várias técnicas de chute e base. Mas as técnicas de soco do wing chun dentro de sua proposta são bastante peculiares e , como não poderia deixar de ser, suas formas de compreensão também mudam de interpretação de acordo com a família kung fu e seu enfoque do treinamento.

Din Choy ( Din = batalha, Choy - ou Kune - = soco) é um soco visto logo na primeira fase do sistema wing chun. (Siu Lin Tao) e trás consigo lições extremamente importantes para se compreender a geratriz de força dentro de um dos aspectos da premissa básica do wing chun; que é potencializar ao máximo possível os ataques ( e também as 'defesas'),ou como prefiro dizer, os movimentos ofensivos e defensivos, para que estes venham a dar resultados contra um oponente maior,mais rápido ou mais forte que você, ou que possua algum tipo de vantagem de meios .

Din Choy em seu exercício original é utilizado com a base do cavaleiro e possui estreita relação com o treinamento de Luk Dim Boom Kwun ( Ver matéria escrita por Sifu http://appliedwingchunsalvador.blogspot.com.br/2011/10/luk-dim-boon-kwun-o-bastao-longo-e-sua.html ) , mantendo-se como um elo entre a dita ''simplificação posterior'' e a ideia ''original'' do templo de shao lin na sua  forma básica. Em sua forma mais ''bruta'', digamos assim, é um exercício que fortifica a base, giro de quadril e ombros e que vai fazer o praticante não somente ter a estrutura e resistência desejada para o treinamento posterior, quanto dará a compreensão, através dos giros, da aplicação da teoria (ou princípio) de forças em direções opostas.

O princípio de forças em direções opostas é algo que em muito é negligenciado dentro do wing chun. Isso porque muitos praticantes pregam que Yip Man teria ''dito'' que em wing chun ''não se utiliza força''. Oras, tudo é força na natureza e nas artes marciais, isso não é diferente. È no mínimo incoerência achar que não se utiliza força em wing chun, assim como em qualquer outro estilo ou sistema de combate. Muito embora o comercial feito em cima do wing chun seja de um estilo que não se usa força em detrimento á simplicidade, Yip Man nunca teria dito isso. Na realidade, em wing chun não se usa força CONTRA força, o que vem a ser bem diferente e mesmo assim, não pode ser usado como desculpa para o treinamento mais duro do praticante, vide algumas escolas que realmente parecem  não se importar com isso.

O princípio de forças em direções opostas explana que uma força explosiva  tende a ''soltar'' energia de mesma intensidade mas em direções diferentes ou em todas as direções. No caso do wing chun, essa teoria está implícita na maior parte das movimentações básicas, onde um bom exemplo disso está no Seung Fak Sao, da segunda parte da forma Siu Lin Tao. È importante perceber que nesse sentido, alguns movimentos da forma não explanam necessariamente em golpes,mas exemplificam princípios.

Din Choy visto em sua forma para a luta utiliza-se de uma base onde o corpo esteja de lado, uma característica forte de nossa família, e o que contraria a ideia de que o wing chun se utiliza apenas de uma guarda de frente. Isso porque a ideia é que você se mantenha sempre na linha central, ou seja, na menor distância para continuar atacando.Em muitos casos, espera-se somente que um golpe realmente forte não venha de sua mão fronteiriça. Mas em Din Choy, a força está no giro de quadril, aliado a base e ao movimento concomitante da mão traseira, que ''puxa'' para trás o movimento com a mesma força da mão que lança o soco,ganhando o máximo de distancia em avanço em relação ao oponente, como exemplifico na foto ao lado.


 Certo dia, quando eu estava explicando esse princípio para o meu parceiro de treinos Mário (já citado em outra matéria) ele fez uma observação que eu achei -ao mesmo tempo engraçada- bastante apropriada; - ''È o mesmo que o 'efeito escopeta', né Dido? ''

Se paramos pra observar, é sim uma aplicação da força bem parecida com o caso da escopeta. Muito embora o cotovelo alto lembre mais um arqueiro empunhando uma flecha, o motivo desse posicionamento é propiciar um melhor aproveitamento dessa força de giro concomitante. A grande desvantagem talvez seja que por causa desse posicionamento, em Din Choy a ''guarda'', fique um pouco mais exposta, já que uma expansão do tórax é efetuada durante sua execução, no intuito de ''firmar'' o movimento, o que mais uma vez implica que no wing chun, tudo é ''base, quadril e ombro''.Mas existe uma forma de executar esse mesmo soco, com uma ''guarda mais fechada'' no segundo nível do treinamento ( Chum Kiu).

 (Meus irmãos kung fu mais velhos ; Sifu Dr. Vansamberg, e Si-Hing Lucas, demonstrando Din Choy)


O Din Choy visto na primeira fase do wing chun ( Siu Lin Tao) é um soco que funciona muito bem com alguns tipos de combinações com outras técnicas. Talvez a mais básica seja utilizar Jip Sao (catar soco) + Din Choy, contra um ataque ou movimento simples. Por experiência própria, posso afirmar que durante um free sparring, no parque da jaqueira, essa técnica me valeu muito, justamente porque o oponente não espera que você não caia em sua ameaça, ou que você entenda que o jab,geralmente usado para ir ganhando distância e/ou calculando a distância pra um golpe mais forte, vai ser encarado como uma ameaça de qualquer forma e quando seu Jip Sao vai fazer a cobertura, independente de soco alto ou soco baixo,ou mesmo uma finta...e quando ele ainda está ''voltando'' do seu Jab... ''Boom'', já entra o Din Choy, conhecido em nossa escola informalmente como nosso ''Cartão de visitas''.


Treinar Din Choy sem um alvo á ser batido, pode ser perigoso pro praticante, já que a estrutura da cintura escapular é muito trabalhada e sem um local pra impacto, a ''pressão'' no ombro é bastante alta. Também por experiência digo; Não pratiquem esse soco sem um alvo. Seja o Sa Bao ou manopla, sempre tenham um alvo para esse soco e não façam como eu fiz no começo de meu treinamento tentando esse soco, socando o ar...seus ombros irão agradecer....rs

(Sifu demostrando Din Choy contra boxer)

Alguns exercícios auxiliares ajudam a fortalecer a estrutura da musculatura da cintura escapular, como flexões de braço, isolando o movimento de descida apenas para o ombro, para que este venha a suportar a prática repetitiva do Din Choy.

No meu caso, ás vezes faço uso de pesos para a prática do Din Choy, tanto em sua forma conceitual, quanto em sua forma mais voltada para as aplicações de combate do primeiro nível, o que dá um acréscimo para a resistência. Mas, normalmente, treino com pesos a forma - digamos -  tradicional, citado no comecinho desse texto.

È importante que antes de qualquer coisa, o praticante de wing chun tenha em mente que não existem ''técnicas avançadas'' ou ''técnicas básicas''. O que existe é a técnica a ser treinada. Se você que treina wing chun, estiver com isso em mente, poderá aplicar seus movimentos em luta solta e além de ter uma visão ampla sobre ela, você irá compreendê-los de forma que, após horas e horas de repetição dessas técnicas, elas venham a ser sua segunda natureza. O mais importante é saber que você só terá confiança numa técnica se a praticar insistentemente,horas a fio, dia após dia.


Até a próxima.



quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A farsa do Hei Ki Boen Eng Chun/ Black Flag Eng chun

Há alguns dias atrás em uma rede social, resolvi abordar alguns assuntos que, por ''etiqueta'' nunca tinha feito antes publicamente, muito embora nos 'bastidores', as pessoas com quem me comunico, tanto diretamente quanto via internet, já sabiam de meu posicionamento sobre esses assuntos ''controversos'' (assim mesmo, com aspas). Dentro disso, analisando pelo meu próprio desenvolvimento ético que envolve a arte marcial, percebi que o mais justo seria reafirmar meu posicionamento, só que desta vez, em público, para que as pessoas saibam que, mesmo tendo ótimo relacionamento com as mais diversas vertentes da arte marcial do wing chun, certas coisas não podem passar despercebidas e quando algo desse tipo acontece, nós, que julgamos ser artistas marciais sérios, devemos nos posicionar, agradando á uns e desagradando á uns outros, o que é inevitável nesses casos.

Antes de entrar definitivamente no assunto, a primeira coisa que fiz foi reler os textos da antiga comunidade do wing chun no orkut, para poder ter mais base ainda e não falar nada sem um conhecimento mais firmado e menos leviano - no sentido de falar sem ter o mínimo de embasamento - e poder conjecturar uma opinião que pudesse ser estruturada sem ter de usar uma linguagem menos formal, digamos assim.
Tendo isso posto, e dando um pequeno salto cronológico, fiquei bastante empolgado com o fato de Sifu ter dado seu apoio quando postei o texto a seguir, reproduzindo uma pequena parte da discussão do já citado fórum do orkut e logo em seguida ter postado de forma extremamente clara sobre esse mesmo assunto em seu blog ( http://appliedwingchunsalvador.blogspot.com.br/2013/08/o-ntem-tive-uma-otima-conversa-com-o.html ), sendo assim, essa postagem será um complemento á mais pra quem desejar se inteirar mais sobre a farsa criada pelo Benny Meng sobre seu Wing Chun da Bandeira Negra.

A fraude do Hei Ki Boen Eng Chun

Se você chegou até esta linha e se deu ao trabalho de ler a postagem de Sifu mencionada no parágrafo á cima, já deve ter percebido o quão escrota é a fraude deflagrada pelo Benny Meng e seu ''wing-chun- secreto-recém-descoberto-por-ele-mesmo'',o que para os praticantes do Yip Man Wing Chun ou das vertentes das linhagens advindas de Fo Shan é um grande desrespeito. Mas uma figura central nisso tudo merece destaque e nossa admiração;

Marcelo Alexandrino é um sujeito que desde já, tem minha admiração pessoal. Destarte os acontecimentos em sua vida pessoal - o que me fizeram ter mais apreço por sua figura - já era claro que ele era um cara de coragem e atitude. Quando ele postou o texto a seguir na comunidade wing chun no orkut, deu uma maior demonstração de amor á arte marcial chinesa e de consideração aos praticantes de wing chun, isso tudo de uma vez só.Sendo assim, segue o texto postado pelo Mestre Alexandrino, com tradução de Sifu;

Comunicado GM Tio Tek Kwie s/ "Bandeira Negra"
Este é o comunicado do Grão-Mestre Tio Tek Kwie, ex-sifu do sr. Lin Xiang-Fuk, sobre seu ex-aluno (expulso da família marcial do GM Kwee King Yang) e a farsa chamada "Black Flag Eng Chun" (cf. 
https://www.facebook.com/groups/166758633161):
I'm Very dissapointed that my lessons about being a good and rightgeous person did not succeed by my student , I have to apologize to the Wing Chun community for having supported his Lie about Black Flag Wing Chun my reasons for doing so were none other then to help him set his business up in the US as he convinced me that Wing Chun would be the way to go marketing wise,i did not realise the consequence of this decision. 
Again my sincere apologies for making this mistake,and i hope that my ex student can do the same,by disclosing the truth and giving his apologies to the Wing Chun world. in the past i have on several occasions followed his instructions to talk about my Teachers art as Wing Chun but i want to make it very clear that my teacher told me personally that the art is called 18 Lohan Hand
furthermore i want to state that my relationship with my kung fu brother The Kang Hay cannot be broken by lies,dont ever try to break our relationship and that this photo of our reunion were all the direct student of kwee king yang are sitting should be proof enough.
this is going to be my only written comment on all of your accusations as the Truth should indeed be protected at all times and especially the Honor of my beloved teacher Kwee King Yang.
Sincerely,
Sifu Tio Tek Kwie
http://www.facebook.com/photo.php?fbid=204074072952655&set=t.100000501900492&type=3&theaterhttps%3A%2F%2Fwww.facebook.com%2Fgroups%2F166758633161%2F


"Eu estou muito desapontado que as minhas lições sobre ser uma pessoa boa e honrada não tiveram sucesso por parte de meu estudante, eu tenho de pedir desculpas à comunidade Wing Chun por ter apoiado a sua mentira sobre Wing Chun da Bandeira Negra.

Minhas razões para fazê-lo foram tão somente nada mais que ajudá-lo a estabelecer seu negócio nos Estados Unidos assim que ele me convenceu que Wing Chun seria o caminho para fazer a propaganda mais apropriada, eu não percebi a conseqüência da minha decisão.

Novamente minhas sinceras desculpas por cometer este erro e eu espero que meu ex-estudante possa fazer o mesmo através da revelação da verdade e pedir desculpas ao mundo do Wing Chun. No passado eu tinha em algumas ocasiões seguido suas instruções de falar sobre minha arte de ensino como wing chun, mas eu quero deixar muito claro que meu professor me disse pessoalmente que a arte é chamada de 18 maos de Lo Han.

Além disso, eu quero estabelecer que meu relacionamento com meu irmão kung fu, o Kang Hay, não pode ser quebrado por mentiras, não tentem nunca quebrar nosso relacionamento e que nessa foto de nossa reunião estavam todos os estudantes diretos de Kwee King Yang que estão sentados e isso deve ser prova suficiente.

Este será meu único comentário escrito sobre todas as suas acusações quanto à verdade que realmente deveria ser protegida em todas as ocasiões e especialmente a honra do meu amado professor Kwee King Yang.

Sinceramente,
Sifu Tio Tek Kwie."


O texto acima , juntamente com a entrevista feita pelo mestre Sérgio Iadarola com o mestre de 18 mãos de Lohan , Sifu Tio Tek Kwie (ver www.appliedwingchunsalvador.blogspot.com ), desmascaram de vez a farsa inventada por Benny meng para o que ele chama de Black Flag Wing Chun, vendido como ''wing chun original de shao lin''.

 Agora você que está lendo, pode se perguntar; 
Porque esse cara está falando e mostrando isso???

A resposta é simples; Como um praticante que leva seu esforço,aprendizado e seu treinamento muito á sério, que faz um tremendo sacrifício em todas as áreas de atuação para aprender e compreender um conhecimento ancestral com um legítimo mestre da nona geração do wing chun kuen phai, mesmo sem ganhar com isso vantagens, tapinhas nas costas ou qualquer tipo de status, é uma obrigação ética e moral para com o conhecimento que venho adquirindo,para com os meus mestres,para com a sociedade marcial e a sociedade em sí. 

Ademais, pessoas que se pretendem estudantes de wing chun precisam de pontos de reverência que possam dar um norte para elas de forma clara, sem enrolação ou papo-furado. Pessoalmente, acredito e estou convencido de que essa farsa montada pelo Benny Meng - o cara mais execrado da comunidade internacional do wing chun -  para um ''estilo de wing chun secreto'' nada tem a ver com nossa arte marcial.

Leiam o texto no blog de Sifu, que esmiúça todo o ocorrido de forma bem simplificada. Procurem as referências descritas aqui. Assistam, se possível a entrevista feita pelo Sifu Sérgio com o Mestre Tio Tek Kwie que numa postura ética, soube ser macho o suficiente para admitir uma falha e pedir desculpas públicas para toda a comunidade wing chun e tirem suas próprias conclusões sobre esse assunto.


Links:

Declaração pública do GM Tio Tek Kwie sobre a farsa do Hei Ki Boen Eng chun



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Texto recente de Sifu sobre o assunto: