Din Choy ( Din = batalha, Choy - ou Kune - = soco) é um soco visto logo na primeira fase do sistema wing chun. (Siu Lin Tao) e trás consigo lições extremamente importantes para se compreender a geratriz de força dentro de um dos aspectos da premissa básica do wing chun; que é potencializar ao máximo possível os ataques ( e também as 'defesas'),ou como prefiro dizer, os movimentos ofensivos e defensivos, para que estes venham a dar resultados contra um oponente maior,mais rápido ou mais forte que você, ou que possua algum tipo de vantagem de meios .
Din Choy em seu exercício original é utilizado com a base do cavaleiro e possui estreita relação com o treinamento de Luk Dim Boom Kwun ( Ver matéria escrita por Sifu http://appliedwingchunsalvador.blogspot.com.br/2011/10/luk-dim-boon-kwun-o-bastao-longo-e-sua.html ) , mantendo-se como um elo entre a dita ''simplificação posterior'' e a ideia ''original'' do templo de shao lin na sua forma básica. Em sua forma mais ''bruta'', digamos assim, é um exercício que fortifica a base, giro de quadril e ombros e que vai fazer o praticante não somente ter a estrutura e resistência desejada para o treinamento posterior, quanto dará a compreensão, através dos giros, da aplicação da teoria (ou princípio) de forças em direções opostas.
O princípio de forças em direções opostas é algo que em muito é negligenciado dentro do wing chun. Isso porque muitos praticantes pregam que Yip Man teria ''dito'' que em wing chun ''não se utiliza força''. Oras, tudo é força na natureza e nas artes marciais, isso não é diferente. È no mínimo incoerência achar que não se utiliza força em wing chun, assim como em qualquer outro estilo ou sistema de combate. Muito embora o comercial feito em cima do wing chun seja de um estilo que não se usa força em detrimento á simplicidade, Yip Man nunca teria dito isso. Na realidade, em wing chun não se usa força CONTRA força, o que vem a ser bem diferente e mesmo assim, não pode ser usado como desculpa para o treinamento mais duro do praticante, vide algumas escolas que realmente parecem não se importar com isso.
O princípio de forças em direções opostas explana que uma força explosiva tende a ''soltar'' energia de mesma intensidade mas em direções diferentes ou em todas as direções. No caso do wing chun, essa teoria está implícita na maior parte das movimentações básicas, onde um bom exemplo disso está no Seung Fak Sao, da segunda parte da forma Siu Lin Tao. È importante perceber que nesse sentido, alguns movimentos da forma não explanam necessariamente em golpes,mas exemplificam princípios.
Din Choy visto em sua forma para a luta utiliza-se de uma base onde o corpo esteja de lado, uma característica forte de nossa família, e o que contraria a ideia de que o wing chun se utiliza apenas de uma guarda de frente. Isso porque a ideia é que você se mantenha sempre na linha central, ou seja, na menor distância para continuar atacando.Em muitos casos, espera-se somente que um golpe realmente forte não venha de sua mão fronteiriça. Mas em Din Choy, a força está no giro de quadril, aliado a base e ao movimento concomitante da mão traseira, que ''puxa'' para trás o movimento com a mesma força da mão que lança o soco,ganhando o máximo de distancia em avanço em relação ao oponente, como exemplifico na foto ao lado.
Certo dia, quando eu estava explicando esse princípio para o meu parceiro de treinos Mário (já citado em outra matéria) ele fez uma observação que eu achei -ao mesmo tempo engraçada- bastante apropriada; - ''È o mesmo que o 'efeito escopeta', né Dido? ''
Se paramos pra observar, é sim uma aplicação da força bem parecida com o caso da escopeta. Muito embora o cotovelo alto lembre mais um arqueiro empunhando uma flecha, o motivo desse posicionamento é propiciar um melhor aproveitamento dessa força de giro concomitante. A grande desvantagem talvez seja que por causa desse posicionamento, em Din Choy a ''guarda'', fique um pouco mais exposta, já que uma expansão do tórax é efetuada durante sua execução, no intuito de ''firmar'' o movimento, o que mais uma vez implica que no wing chun, tudo é ''base, quadril e ombro''.Mas existe uma forma de executar esse mesmo soco, com uma ''guarda mais fechada'' no segundo nível do treinamento ( Chum Kiu).
(Meus irmãos kung fu mais velhos ; Sifu Dr. Vansamberg, e Si-Hing Lucas, demonstrando Din Choy)
O Din Choy visto na primeira fase do wing chun ( Siu Lin Tao) é um soco que funciona muito bem com alguns tipos de combinações com outras técnicas. Talvez a mais básica seja utilizar Jip Sao (catar soco) + Din Choy, contra um ataque ou movimento simples. Por experiência própria, posso afirmar que durante um free sparring, no parque da jaqueira, essa técnica me valeu muito, justamente porque o oponente não espera que você não caia em sua ameaça, ou que você entenda que o jab,geralmente usado para ir ganhando distância e/ou calculando a distância pra um golpe mais forte, vai ser encarado como uma ameaça de qualquer forma e quando seu Jip Sao vai fazer a cobertura, independente de soco alto ou soco baixo,ou mesmo uma finta...e quando ele ainda está ''voltando'' do seu Jab... ''Boom'', já entra o Din Choy, conhecido em nossa escola informalmente como nosso ''Cartão de visitas''.
Treinar Din Choy sem um alvo á ser batido, pode ser perigoso pro praticante, já que a estrutura da cintura escapular é muito trabalhada e sem um local pra impacto, a ''pressão'' no ombro é bastante alta. Também por experiência digo; Não pratiquem esse soco sem um alvo. Seja o Sa Bao ou manopla, sempre tenham um alvo para esse soco e não façam como eu fiz no começo de meu treinamento tentando esse soco, socando o ar...seus ombros irão agradecer....rs
(Sifu demostrando Din Choy contra boxer)
Alguns exercícios auxiliares ajudam a fortalecer a estrutura da musculatura da cintura escapular, como flexões de braço, isolando o movimento de descida apenas para o ombro, para que este venha a suportar a prática repetitiva do Din Choy.
No meu caso, ás vezes faço uso de pesos para a prática do Din Choy, tanto em sua forma conceitual, quanto em sua forma mais voltada para as aplicações de combate do primeiro nível, o que dá um acréscimo para a resistência. Mas, normalmente, treino com pesos a forma - digamos - tradicional, citado no comecinho desse texto.
È importante que antes de qualquer coisa, o praticante de wing chun tenha em mente que não existem ''técnicas avançadas'' ou ''técnicas básicas''. O que existe é a técnica a ser treinada. Se você que treina wing chun, estiver com isso em mente, poderá aplicar seus movimentos em luta solta e além de ter uma visão ampla sobre ela, você irá compreendê-los de forma que, após horas e horas de repetição dessas técnicas, elas venham a ser sua segunda natureza. O mais importante é saber que você só terá confiança numa técnica se a praticar insistentemente,horas a fio, dia após dia.
Até a próxima.
Boa dica Dido, sempre faço esse soco no ar e sinto bastante os ombros... Excelente artigo que segue o padrão de qualidade dos outros.
ResponderExcluirGrande abraço